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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

23.-A INTERNET NOS FAZ MENOS CONTEMPLATIVOS



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2031

Para alguns começa hoje — dia que sucede à Quarta-feira de Cinzas — o mundo real. Já disse, mais de uma vez, que não defendo esta tese. Mas agora, depois de muitos dias, não posso mais esposar a tese: “Sou senhor de meu tempo!”. Agora tenho agenda para cumprir — não que esse janeiro e fevereiro fossem apenas dias de dolentes vagabundeares. Assim, hoje e a amanhã estou no Centro Universitário Metodista do IPA, participando do Seminário Pedagógico preparatório ao semestre 2012/1, quando inicio meu 52º ano letivo.

O ritual de transição marcado pelo hemi-feriado de ontem, não foi trivial. Começou muito bem, pois acordar na madrugada com chuva farta e saber que ela aguava o solo crestado em todo o Rio Grande do Sul foi muito bom. Mas faltar energia elétrica por mais de quatro horas, a partir das 6h foi complicado. Mas pior viria depois, restabelecida a energia elétrica e com ela a internet, esta foi inicialmente intermitente e, a partir das 11h, com milhares de consumidores fico sem internet, telefone e televisão. Foi complicado. Mesmo que a promessa fosse para as 18h, só tivemos o restabelecimento dos serviços um tempo depois.

Como dentre as 13 oficinas do Seminário Pedagógico escolhi: “Redes sociais plugadas na Educação"  trago alguns comentários de um livro que ainda não li. Devo dizer que já está na minha lista de próximas, pois mesmo que possa parecer na direção oposta de algumas ideias que defendo, devo concordar.

Li matéria da jornalista Elisângela Roxo, na Folha de S. Paulo de 17FEV2012 onde ela mostra que o jornalista estadunidense Nicholas Carr [FOTO] acredita que a internet não estimula a inteligência de ninguém. Ele fez um apanhado teórico sobre a superficialidade que a web provoca no livro "A Geração Superficial - o que a internet está fazendo com os nossos cérebros", lançado agora no Brasil pela Agir.
Antecipo, mesmo trazendo algumas teses catastrofistas e assumindo postura radicais, não considero Carr um ludita. Luddismo foi o movimento centrado nas reclamações contras as máquinas criadas após a Revolução Industrial para poupar a mão-de-obra. Mas foi em 1811, na Inglaterra, que o estopim estourou e surgiu o movimento ludita, também chamado de Ludismo, uma forma mais radical de protesto. O nome deriva de Ned Ludd, um dos líderes do movimento. Os luditas chamaram muita atenção pelos seus atos. Invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo os luditas, por serem mais eficientes que os homens, tiravam seus trabalhos, requerendo, contudo, duras horas de jornada de trabalho. Os luditas ficaram lembrados como "os quebradores de máquinas".  O escritor não se considera um "apocalíptico", como é descrito por colegas.
Na obra, Carr explica descobertas científicas sobre o funcionamento do cérebro humano e teoriza sobre a influência da internet sobre nossa forma de pensar. Graças a este livro, o autor se tornou referência quando o assunto é oposição aos avanços e às possibilidades criadas pela internet.
Para ele, a rede torna o raciocínio de quem navega mais raso, além de fragmentar a atenção de seus usuários. Ainda mais: Carr afirma que há empresas obtendo lucro com a recente fragilidade da nossa atenção.
"Quanto mais tempo passamos on-line e quanto mais rápido passamos de uma informação para a outra, mais dinheiro empresas de internet, como Google e Facebook, fazem", avalia. "Essas empresas estão no comércio da distração e são experts em nos manter cada vez mais famintos por informação fragmentada em partes pequenas. É claro que elas têm interesse em nos estimular e tirar vantagem da nossa compulsão por tecnologia."
A crítica de Carr começou com o artigo "O Google Está nos Deixando Mais Burros?", publicado em 2008 na revista "The Atlantic Review". A repercussão foi tamanha que a história virou livro. No ano passado, a obra figurou entre as mais vendidas nos EUA e foi finalista da categoria de não ficção do Prêmio Pulitzer, o "Oscar literário". O livro foi traduzido para mais de 20 línguas.
Segundo Carr, a internet, com seu alcance ilimitado, pode ser uma ameaça às fronteiras culturais. "Nosso uso de tecnologia é influenciado por normas sociais e culturais. Mas, a longo prazo, a tecnologia tende a homogeneizar tudo. Ela já começa a apagar as diferenças culturais e estimula um uso padrão em todo o lugar", ressalta Carr. "Acho que, ultimamente, a internet é usada de forma igual, com efeitos semelhantes, independentemente do lugar e da cultura."
Para tentar recuperar o raciocínio perdido, o próprio jornalista resolveu se desconectar um pouco. Fechou suas contas no Facebook e no Twitter e mantém apenas a atualização de um blog pessoal. Carr afirma não ter interesse em voltar para nenhuma das duas redes sociais. Ele as considera fontes de "limitação do pensamento".
Apesar disso, o autor aderiu recentemente à nova rede social do Google, o Google+, que diz ter achado "muita chata". "Entrei porque escrevo sobre tecnologia e quero entender esse serviço. Apesar de não ser tão banal quanto o Facebook, espero poder encerrar logo minha conta." Segundo o autor, por causa deles, as pessoas se tornaram mais dependentes da internet. Eu senti muito isto ontem "A proliferação de smartphones e iPads intensificaram os efeitos social e cognitivo que eu descrevi no livro", ele explica.
CARR, Nicholas. A Geração Superficial: O que a internet está fazendo com o nosso cérebro.[The shallows- What the internet is doing to our brains] Tradução Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Rio de Janeiro: Agir. 312 p. R$ 49,90 (há ofertas de menor preço) ISBN: 978-85-220-1005-6

Eu concluo esta edição, aderindo a Nicholas Carr: “Meu desejo é apenas tornar as pessoas mais conscientes sobre a influência da tecnologia. A imersão na mídia digital nos tira a oportunidade de sermos contemplativos, reflexivos e introspectivos."

5 comentários:

  1. Caro Chassot,
    Assunto de grande interesse e que todos devemos prestar muita atenção. Há muito tempo escrevi: "A internet tem a largura do Universo e a profundidade de uma folha de papel" para resumir aquilo que chamei de "cultura instantânea", que é a procura rápida no Google e o esquecimento imediato do que se leu. Abraços e parabéns pela blogada, JAIR.

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  2. Caro Chassot,
    Bom dia! Um livro bastante interessante que já estava marcado como um dos a serem lidos um futuro próximo. Ressalto também uma outra obra, que li há algum tempo, a qual trata de aspectos ligados à internet também. Chama-se "O Culto do Amador", de Andrew Keen. No meu blog fiz uma descrição dos principais aspectos que julguei interessante na obra quando a li.
    http://shleal.blogspot.com/2011/06/livro-23.html
    Grande abraço!

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  3. Caro Chassot,
    imagino que esse livro deve ajudar a todos nós sobre a reflexão que necessitamos fazer sobre o uso e o abuso da internet. Entretanto, sempre haverá formas de sermos 'sujeitos' e não apenas vítimas das novas TICs. O assunto é polêmico e merece aprofundamento.
    Um abraço,
    Garin

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  4. Meu caro Sérgio,
    bem lembrado o livro do Keen. Ele é muito mais ludita que o Carr. Este, diferente daquele que é um ‘demolidor’, tem o propósito de tornar as pessoas mais conscientes sobre a influência da tecnologia, pois segundo Carr “a imersão na mídia digital nos tira a oportunidade de sermos contemplativos, reflexivos e introspectivos." Devo dizer que concordo com esta postura.
    Obrigado por recordares aqui “O culto do amador’ que nos leva a refletir acerca destas novas realidades onde somos todos neófitos e despreparados.
    Estudar é preciso

    attico chassot

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  5. Olá Mestre!
    Início de ano letivo e sou novamente cobrada a utilizar a internet como ferramenta de ensino com minhas crianças. Bom, percebo que nesta idade eles não estão amadurecidas para compreender o funcionamento desta rede. E é tudo tão auto-explicativo nela, que explorar nosso universo através dele mesmo me parece alternativa mais saudável.

    abraços!

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