Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br
*** Edição 2021
Iniciamos mais uma semana — já a sétima do ano — neste bissexto fevereiro.
É a última pré-carnaval e também a última de férias. Na próxima já terá cinzas
e, então, o que era bom... Quem visitou este blogue ontem viu o que a Gelsa e
eu, por quatro dias consecutivos, cumprimos o ritual gostoso de ir ao cinema.
Também ontem, no domingo ensolarado e não tão quente tivemos a visita querida
do Bernardo. Ele veio repartir gentilezas.
Mas, parece que segundas-feiras requerem assuntos sisudos. Guardarei o
tom. Talvez, muito mais do que isso.
Na última quarta-feira, não sem dificuldades, enviei uma sintética
mensagem à coluna do leitor de Zero Hora,
rompendo uma incomunicabilidade de alguns anos. Há muito, deixei de enviar
correspondências aos dois jornais que assino. Usualmente, sou ignorado. Mas, então,
achei que merecia dar destaque a um artigo. Escrevi: “O artigo do professor de Piratini, Gabriel Barcellos Nunes, publicado
na p. 17, vale sozinho por todo jornal do dia 08FEV2012.” Não vou pensar
que estou no index, mas uma vez mais, não fui publicado. Assim trago, aqui e
agora, com votos de uma boa segunda-feira, o artigo que desejei fosse
ratificado.
Cesariana, algemas e direitos humanos
Gabriel
Barcellos Nunes*
O conjunto de leis e o próprio senso comum garantem, ou pelo
menos teorizam, uma série de direitos fundamentais a todos os seres humanos.
Muitas nações, povos, tribos não os garantem exatamente por não entenderem que
estes são direitos coletivos e ao mesmo tempo individuais e que devem amparar a
todo ser humano. O direito à vida é o principal de todos e nem sempre é
respeitado, seja por cidadãos comuns, seja por governos, religiões, facções
etc.
No caso do Brasil, a Constituição garante os direitos fundamentais a todos os cidadãos e a nação se orgulha ao apontar que é uma das maiores defensoras dos direitos humanos. Até que ponto? Talvez mais que muitos países, mas muito menos do que todos nós merecemos. Quando não se combate a violência (o verdadeiro combate: investindo em educação, esporte, melhoria da qualidade de vida), quando se desviam recursos públicos da saúde, quando não se atende dignamente a nossos doentes, não se está respeitando o maior de todos os direitos do ser humano: o direito à vida.
Além desses casos mais genéricos, situações localizadas nos levam a uma reflexão mais séria, como a notícia que acabo de ver em um telejornal: presa em agosto do ano passado, grávida, uma mulher é levada para um hospital no final de janeiro para dar à luz uma menina. Segundo relatos dos funcionários do hospital e de outras mulheres também internadas, antes e após a cesárea, a mulher é agredida por agentes penitenciários e policiais militares. Nas imagens feitas três dias após o parto, a mulher aparece com duas algemas fixadas à cama: uma no braço e outra na perna. Lembrando que ela acaba de fazer uma cesárea e está internada em um hospital.– Mas ela é uma presidiária – alguns estarão querendo me dizer.
No caso do Brasil, a Constituição garante os direitos fundamentais a todos os cidadãos e a nação se orgulha ao apontar que é uma das maiores defensoras dos direitos humanos. Até que ponto? Talvez mais que muitos países, mas muito menos do que todos nós merecemos. Quando não se combate a violência (o verdadeiro combate: investindo em educação, esporte, melhoria da qualidade de vida), quando se desviam recursos públicos da saúde, quando não se atende dignamente a nossos doentes, não se está respeitando o maior de todos os direitos do ser humano: o direito à vida.
Além desses casos mais genéricos, situações localizadas nos levam a uma reflexão mais séria, como a notícia que acabo de ver em um telejornal: presa em agosto do ano passado, grávida, uma mulher é levada para um hospital no final de janeiro para dar à luz uma menina. Segundo relatos dos funcionários do hospital e de outras mulheres também internadas, antes e após a cesárea, a mulher é agredida por agentes penitenciários e policiais militares. Nas imagens feitas três dias após o parto, a mulher aparece com duas algemas fixadas à cama: uma no braço e outra na perna. Lembrando que ela acaba de fazer uma cesárea e está internada em um hospital.– Mas ela é uma presidiária – alguns estarão querendo me dizer.
E daí? Não é um ser humano, uma mulher que estava
grávida e que, segundo ela, foi impedida de ver e amamentar a menina? Isso não
é desrespeito aos direitos fundamentais do ser humano? É, e um desrespeito
profundo porque acontece juntamente com o grande milagre da vida humana que é a
geração e o nascimento de um novo ser.– Mas ela é uma presidiária – alguns
insistirão. Deve ter participado de uma assassinato, deve ter traficado drogas,
deve ter participado de assaltos, devia estar com armas. E daí? Ela é um ser
humano, que deu à luz um outro ser humano que provavelmente irá enfrentar uma
vida muito difícil, dadas as condições da família e a situação de miséria que
povoa os desejos de quem mais tem influência e dinheiro neste país.– Mas ela é
uma presidiária – frisarão os defensores de uma Justiça mais rígida. Sabem qual
é o único crime de que ela é acusada? Furtar um enxoval de bebê, quando estava
grávida.
Errou? Claro! Mas, comparado ao que se vê de crimes por aí, merecia essa mulher passar por toda essa situação? Será que o mesmo aconteceu com aquelas primeiras-damas da região central que recentemente foram flagradas desviando verbas da merenda escolar? Ou com os sanguessugas da saúde?
Mas a personagem dessa história é pobre, é negra, ignora seus direitos, não tem um bom advogado, e seu caso, que não deve ser isolado, só veio a público porque um funcionário do hospital chamou uma emissora de televisão. E seu caso será esquecido! Como muitos outros. E ainda há quem defenda a pena de morte no Brasil. Para matar quem?
Errou? Claro! Mas, comparado ao que se vê de crimes por aí, merecia essa mulher passar por toda essa situação? Será que o mesmo aconteceu com aquelas primeiras-damas da região central que recentemente foram flagradas desviando verbas da merenda escolar? Ou com os sanguessugas da saúde?
Mas a personagem dessa história é pobre, é negra, ignora seus direitos, não tem um bom advogado, e seu caso, que não deve ser isolado, só veio a público porque um funcionário do hospital chamou uma emissora de televisão. E seu caso será esquecido! Como muitos outros. E ainda há quem defenda a pena de morte no Brasil. Para matar quem?
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Gabriel Barcellos Nunes nasceu e vive em Piratini,
histórica cidade do Sul gaúcho, é licenciado em Letras (Português e Inglês)
pela Universidade Católica de Pelotas e especialista em Educação Básica: Gestão
Teoria e Prática Docente. É professor em escolas da rede municipal de Piratini
e no Instituto Estadual de Educação Ponche Verde.
Ola Mestre Chassot
ResponderExcluirDe indignar a situação vivida por essa apenada, tendo em vista, como ressaltas, as péssimas condições a que são submetidas pessoas que não conhecem os direitos que possuem e que quase nenhum acesso tem a eles. Certamente aquelas "damas" que foram flagradas usurpando o dinheiro público têm tratamento vip, enquanto as piores condições são reservadas a essas pessoas que sequer conhecem seus direitos. Num país que apregoa estar entre as maiores economias do mundo, isso é vergonhoso. Quiçá possamos em futuro breve riscar de nossa realidade situações como essas. Uma Boa Semana - JB
Caro Chassot,
ResponderExcluirEssa reportagem nos mostra quanto estamos longe de respeitar os tão cantados em versos e prosa, Direitos Humanos. A maldição do "P" (prostituta, pobre e preto) continua vigente neste Patropi onde malufes e jáderes barbalhos não só continuam andando livres nas ruas, como assumiram suas cadeiras no Congresso onde poderão exercer com liberdade suas habilidades comprovadamente prevaricatórias em detrimento do povo que os elegeu, apesar de uma tal "Lei da Ficha Limpa" que só vale para peixe miúdo. Per essas e outras é que tenho vontade de mudar-me para o Paraguai e nunca mais voltar para este país que me envergonha. Abraços indignados, JAIR.
Caro Chassot,
ResponderExcluirpor causa da profissão de desempenhei por trinta e sei anos, circulei por alguns cárceres e é terrível o que se vê, constata e ouve dentro dos nossos presídios. O Gabriel tem toda a razão quando evidencia a situação social dessa apenada. Infelizmente, só se vê gente pobre e, na maioria, negra dentro dos presídios. Os Direitos Humanos são sempre invocados quando alguém, da classe média e esclarecido, passa por situações delicadas: na maioria, os pobres não usufruem de direitos, quanto mais humanos.
Um abraço,
Garin
Querido Professor!
ResponderExcluirNao pude acompanhar o blog ontem, então hoje me atualizo.
Fiquei pensando...se olharmos com outro enfoque, não o dos erros cometidos por uma presidiaria e seus direitos a partir disso, porque poderíamos passar dias falando sobre essas questões sem chegar a um consenso, eis a pergunta que não me sai da cabeça: qual erro cometeu esse bebe para ser privado do leite e do aconchego do colo materno? Depois, fala-se da contribuição da privação materna para a formação de mentes doentias e necessidade da estada dessas pessoas em presídios. E essa situação relatada não seria uma forma de contribuição a um circulo vicioso?
Um beijo com saudades
Thaissa
Muito querida Thaíssa,
ResponderExcluirrealmente a questão que trazes é relevante. O que se negou à criança é talvez a maior de todas as sonegações.
É muito gostosa tua chegada aqui também para matar saudades,
attico chassot