Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br
*** Edição 2032
Quando de minha segunda
inserção no corpo docente da Unisinos (trabalhei na instituição em1964/1965
& 1995/2008) tinha um muito atencioso vizinho de sala que dizia que eu era
o ateu mais religioso que ele conhecia. Abro a blogada de hoje trazendo esta
evocação, pois hoje, mais uma vez, busco um tema no farto celeiro das igrejas.
Talvez meu querido amigo Euclides Redin devesse dizer que eu fosse mesmo ‘um igrejeiro’.
Escolhi um tema apropriado para a primeira sexta-feira quaresmal de
2012. As quatro sextas-feiras da quaresma — período entre o Carnaval e a
Sexta-feira Santa — eram (não sei ainda são) dias muito especiais no ano litúrgico
católico. Assim adiro a noticia de que nesta Quarta-feira de Cinza a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) — órgão de governo da igreja
que é hegemônica no país — lançou a Campanha da Fraternidade-2012 com o tema
“Fraternidade e Saúde” e o lema “Que a saúde se difunda sobre a terra”.
A Campanha da Fraternidade é realizada no Brasil desde 1964. Anualmente,
a igreja seleciona um tema de interesse coletivo e procura envolver toda a
sociedade e não apenas os de fé católica — durante a Quaresma, em que os
católicos são aconselhados a praticar ações para ajudar o próximo.
Assim, a deficiente e lamentável qualidade da saúde pública não é exótica
a este blogue. Justifico a adesão, sem paixão religiosa ou igrejeira ao assunto,
mesmo que evoque o quanto nos anos 1960/70 tenha me envolvido em Campanhas da
Fraternidade, enquanto militante de movimentos católicos.
A importância do tema da CF-2012 — “Fraternidade e Saúde” — é
significativa. Mesmo que a Presidente Dilma tenha excelentes avaliações de seu
governo, é no quesito ‘Saúde’ que, com sobrada razão se encontram generalizados
descontentamentos. Não preciso citar aqui o que significa os tempos de espera
para uma consulta (e a maneira como os pacientes são atendidos) e, numa
situação ainda mais dramática, as dificuldades para internações hospitalares
Sistema Único de Saúde.
Poderia citar um exemplo: a dolorosa blogada de 15 de janeiro: UM
RECÉM-NASCIDO FOI AO ÓBITO. Situações
semelhantes ocorrem todos os dias. Há duas semanas uma menina morreu em uma
praia vitimada por ataque de um cão. Talvez pudesse ser salva se no muito frequentado
litoral gaúcho houvesse uma UTI pediátrica. O transporte da criança a Porto
Alegre ajudou a mata-la.
Parece que a República está na contramão da Campanha da Fraternidade: Há
poucos dias o Governo anunciou bloqueio de R$ 55 bilhões no orçamento de 2012. Conforme
divulgado pelo Ministério do Planejamento, os recursos aprovados pelo Congresso
Nacional caíram de R$ 77,58 bilhões para R$ 72,11 bilhões. Maior corte no
orçamento, de R$ 5,4 bilhões, foi no Ministério da Saúde.
Parece oportuno recordar que as Igrejas, durante alguns séculos, realizaram
com quase exclusividade, especialmente entre as ordens religiosas hospitalares,
uma contribuição muito meritória nos cuidados de hospitais, creches, asilos,
leprosários etc. Assim não há como não desejar êxito e torcer para que muitos
adiram a proposta de “Que a saúde se difunda sobre a terra”.
“Que a saúde se difunda sobre a terra”, já aderi.
ResponderExcluirLamento que as Campanhas da Fraternidade tenham vida curta, desconheço ações práticas mantidas ao longo dos anos seguintes. Muito material impresso, muito discurso. E depois?
Caro Chassot,
ResponderExcluirem tempos nos quais era proibido falar qualquer coisa contra a ditadura de 1964 - 1982, a Campanha da Fraternidade se constituía num brado profético assumindo a voz do povo que não tinha voz. Por algum tempo, essa Campanha não chegava a ser considerada "profética"; esse ano, o tema é desafiado e representa, novamente, a voz do povo, hoje menos oprimida, mas ainda assim uma "voz do que clama no deserto!". Sua efetividade está nisso mesmo: levantar mais uma frente de debate e reflexão - disso precisam brotar as ações.
Um abraço.
Garin
Muito querida colega Marília,
ResponderExcluiracredito que tenhas razão. As campanhas da fraternidade parecem morrer no domingo da ressureição.
Vamos torcer — que uma forma ateia de rezar — pelo êxito da CF-2012 e a saúde se espalhe sobre a Terra
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirAssunto de suma importância, devia permear todas as ações de governo, religiosas, de organizações laicas e, sobretudo, nas escolas onde a divulgação devia formar "massa crítica" nos cidadãos do futuro, de modo que a saúde deixasse de ser um apêndice das metas e passasse a ser prioritária. Abraços e parabéns pela blogada, JAIR.
Boa tarde, Mestre!
ResponderExcluirNa minha opinião, temas como saúde e educação são tão relevantes que transcendem às ideologias e crenças religiosas.
Coisas tão vitais que merecem ser apoiadas por todos, independente de onde tenha partido qualquer iniciativa favorável.
Quem está devendo há muito tempo são os governos que tem passado pelo nosso país, sempre confundindo iniciativas sérias com seus interesses políticos!
Agora, no momento dos cortes que se fazem necessários, ouço que a maior vítima está sendo justamente a tão maltratada saúde! Não bastasse o mau uso que se dá às verbas alocadas para este fim!
Assim, fica o meu apoio à todo e qualquer esforço honesto e bem-intencionado para melhorar a saúde e a educação no Brasil e no mundo!
E o meu repúdio pela forma como nosso governo estabelece suas prioridades!
Buzinada de protesto!
Abraços, e um bom fim-de-semana!