Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br
*** Edição 2017
Oh Tempora!
oh mores! Esta sentença, supostamente atribuída a Cícero (106 a.C-43 a.C)
ao reprovar as ações corruptas de Catilina e a inércia do Senado Romano em reprova-la,
mostra como o tempo os costumes mudam. Oh tempos! Oh costumes!
Como eram as
poses dos intelectuais no final do século 20? Primeiro com uma estante de
livros ao fundo, depois junto a um desktop e um monitor e já começamos o 21 posando
com um notebook. Houve também políticos brasileiros que gostavam de aparecer
com estátuas de uma santa, o que não pegava bem para intelectuais.
E em 2012?
Certamente não é como apareceu, nesta semana, o novo ministro de Educação, com
um jurássico grampeador de papéis. Isto quase me parece um ‘material de
escritório’ em extinção.
O acessório
para pose agora é o tablet. Ainda no domingo trazia duas notícias do fim de
semana: “Colégios particulares do país
passaram a incluir tablets nas suas listas de material escolar. Em alguns
casos, esses computadores portáteis com acesso à internet e tela sensível ao
toque são vendidos nas próprias escolas” e a outra “O Tribunal de Justiça de São Paulo implantou em janeiro um auxílio
para seus desembargadores e juízes no valor de R$ 2.500 para a compra de
notebooks, netbooks ou tablets. O benefício pode ser usado a cada três anos”.
Esta segunda,
em que juízes, com média de salário de 25 mil reais por mês e precisem receber
ajuda para comprar tablet se repetiu em outras esferas, com deputados,
vereadores, magistrado sendo aquinhoados com nosso dinheiro.
Quanto a primeira notícia, tão ou mais polêmica que a primeira, em
alguns casos, esses computadores portáteis com acesso à internet e tela
sensível ao toque são vendidos nas próprias escolas. Segundo matéria de
jornais, no colégio Sigma, de Brasília, o tablet é obrigatório: os pais dos
1.200 alunos do 1º ano do ensino médio tiveram de comprar os aparelhos, que
podem chegar a R$ 2.000. Além disso, desembolsaram mais R$ 1.200 em programas
que substituem os livros didáticos, no Sigma, a mensalidade ultrapassa R$
1.000.
O colégio Antônio Vieira, na capital baiana, vende os tablets com
apostilas por R$ 1.067. E o material didático só funciona naquele tipo de
aparelho. Por causa disso, a escola é alvo do Procon. O colégio diz que tenta
solucionar o problema. Órgãos de direito do consumidor não são consensuais
sobre a legalidade de incluir os tablets no material escolar. O Procon do
Distrito Federal diz que não há problema, desde que os pais sejam avisados
antes da matrícula. O Procom de São Paulo concorda e acrescenta que a escola só
pode propor atividades em aula com o tablet se todos tiverem o material, para
evitar "diferenciação pedagógica".
Já na Bahia, onde a venda "casada" do aparelho e do
material pelo colégio Antônio Vieira está sob questionamentos, o Procon diz que
é proibido obrigar os pais a comprar o tablet e que a escola tem de oferecer o
material didático de várias maneiras, em apostilas e em meios digitais.
"Não vejo por que a escola obrigar [a compra de um] tablet
como material didático", afirma a superintendente do órgão, Cristiana
Santos. A maior parte das escolas diz que a aquisição não é obrigatória e que
quem não comprar pode acompanhar as atividades no equipamento dos colegas ou
imprimir a lição antes.
Três
jornalistas da Folha de S. Paulo (Luiza Bandeira, Luisa Pessoa E Paula Bianchi) apresentam PRÓS E CONTRAS DO TABLET NA ESCOLA, onde
não se encontram bons argumentos nas duas situações, assim como parecem furadas as contra-argumentações acima,
mas vale lê-las:
PRÓS
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CONTRA
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1 Facilita a interação Alunos têm acesso a
variadas fontes de pesquisa e podem interagir com a produção dos colegas;
permite transição fácil entre atividades com e sem tecnologia
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1 Pode
dispersar Ambientes
on-line podem ser usados por alunos para atividades não pedagógicas
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2 Ajuda na avaliação Sistemas permitem que
alunos respondam a perguntas e professores tenham acesso a isso na hora
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2 Escrita
é mais difícil Os tablets
não são muito confortáveis para escrever e a participação por escrito é
fundamental na aprendizagem
|
Para encerrar
um convite: Amanhã a oitava e última (destas férias) dos relatos de viagem de
Guy Barcellos. E eis colorido anúncio: "Os jardins suspensos de Atlanta: o desabrochar das orquídeas"
Caro Chassot,
ResponderExcluiro assunto complementa a (talvez) principal discussão da semana: leitura em meio papel ou meio eletrônico.
Creio que ainda é bastante cedo para avaliarmos o impacto da mudança dos livros por tablets nas escolas - como ineditismo é louvável, mas possivelmente também perigoso. Caso os resultados não sejam positivos nesse ano, os pais deverão comprar os livros novamente? Acredito mais numa mudança gradual, inclusive para que surjam programas mais estáveis, para que se analise os ganhos e as perdas pelo uso de tablets em sala.
Toda unanimidade é burra, mas a ação sem reflexão, influenciada por moda, é extremamente perigosa a meu ver. Não sei se já houve reflexão suficiente. Daqui a pouco, a ortografia será algo de museu.
Abraços,
PAULO MARCELO PONTES
De acordo. A caligrafia também vai ser algo de museu... E já está em flagrante decadência!
ExcluirOi Chassot,
ResponderExcluirAcho positiva toda inserção de tecnologias que melhorem o ensino, mas não podemos simplesmente defenestrar o que já existe. Posso ter livros digitais, mas nem por isso vamos botar os impressos no lixo.
Fiquemos vigilantes.
Abraços do Thysanura
Caro Chassot,
ResponderExcluirE equação é de solução muito simples: os colégios que exigem que alunos usem tablets, que os forneçam a título de empréstimo, o aluno só usa o aparelho enquanto cursar a escola, depois o deixa lá para o próximo aluno. E estamos conversados. Abraços, JAIR.
Jair,
ResponderExcluircreio que nesse ponto nao haverá problemas para a escola - que não fará a mínima questão de ficar com os aparelhos - eles já estarão pagos antes mesmo de serem usados...
Abraços,
Paulo Marcelo
Amigo Chassot,
ResponderExcluirdeixando de lado os prós e contras ao uso pedagógico dos tablets, bem que gostaria de ter um 'grampeador' virtual: há dias que perco meus arquivos de um jeito que não os encontro mais; outras vezes os encontros em lugares onde não os coloquei. Bem que um 'grampeador' virtual poderia deixar tudo junto, como a gente fazia com as folhas, naquele tempo que a gente utilizava papel.
Um abraço,
Garin
Boa tarde, Mestre!
ResponderExcluirConcordo com os seus prós e também com os contras.
Mas, eu acho que seria uma boa se os tablets fossem fornecidos aos alunos por uma quantia pouco maior do que à equivalente ao material didático que eles pretendem substituir: livros, cadernos, apostilas, etc...
E que as escolas mantivessem também um servidor de backup, para segurança dos alunos, no caso da perda de dados...
No mais, parece que a informatização é uma onda inevitável, com suas virtudes e defeitos...
No meu ver, o principal risco, muitas vezes apontado pelo meu amigo Jair, é o de um apagão geral, causado, por exemplo, por algum pulso eletromagnético que afete as fontes de energia ou por uma tempestade solar, o que seria um caos!
Mas, enfim, sejamos otimistas e continuemos a colocar os ovos na mesma cesta...
Abraços!