Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br
*** Edição 2028
Uma segunda-feira exótica.
Não é feriado (aliás, a terça-feira de carnaval também não é um feriado legal) mas,
muitos hoje, e também amanhã, se abstêm de trabalhos servis, como, segundo o
catecismo, deveria ser cada domingo.
No domingo de ontem, onde temperaturas superaram
todas as previsões, parecia não caber qualquer tipo de trabalho. Foi bom curtir
a refrigeração de um cinema. Assisti, com Liba e a Gelsa, “O Artista” filme francês
mudo e em preto-e-branco segundo os experts um favorito ao Oscar. Devo dizer
que para mim — que não tenho expertise na linguagem fílmica —, há outros
candidatos melhores, mas este, talvez mereça com suas 12 indicações ao prêmio,
sendo uma linda homenagem ao cinema dos anos 1930. Antes disso saboreamos na
casa da Silvia um ceviche de peixe — um apreciado prato peruano adequadíssimo para
um domingo tórrido, pois se saboreia gelado.
Mas vivemos hoje uma segunda
feira que nos faz reflexivo nesse período momesco e por tal, nada melhor que
uma crônica curta e emotiva e prenhe de amor. Aqui está ‘A palavra de médico’
de J.J. Camargo, publicada no Vida de Zero Hora de 11FEV2012. Vale lê-la quando desejo um bom dia a cada
uma e cada um.
UMA
RESERVA DE AMOR. Quando comentaram que o velho, um viúvo de 80 anos, estava apaixonado
pela vizinha – também viúva –, não faltou quem comentasse: “Nesta idade, que
vergonha! Devia dar exemplo aos netos!”
A resposta que me ocorreu: “E haveria maior herança para deixar aos netos do que a ideia de um amor sem idade?”
Incrível como os jovens consideram a paixão, um privilégio de uma determinada etapa da vida, depois só lembranças, nostalgia, e resignação. Pobre engano!
Quando o Antenor internou com metástases na coluna de um câncer de pulmão em fase final, todos sabíamos que aquela seria sua última estada no hospital, não importando quanto durasse a agonia. A dor era terrível e a necessidade frequente de morfina inviabilizava a volta para casa.
Depois de uns dias, comecei a receber chamadas no consultório. Era uma mulher querendo saber notícias dele. Quando ficamos a sós, comentei dos telefonemas e ele, visivelmente consternado, me confidenciou: “É a minha paixão de quase 30 anos e ninguém sabe dela. Cuidou de mim desde sempre, nunca me pediu nada. Não tive coragem de abandonar minha esposa quando ela teve um derrame, e depois evoluiu para um Alzheimer”.
Por algum tempo, servi de correio, especialmente depois que ficou claro que os recados eram mais analgésicos do que a morfina. Faziam ele dormir, mas não eliminavam a demência.
Naquelas poucas semanas, fomos também cúmplices, como devem ser os melhores amigos, não interessa em quais circunstâncias.
Um dia, ele confessou que achava que quem tinha tido a sorte de um amor tão maravilhoso não devia se queixar de ter um câncer a lhe roer os ossos. E me arrancou a promessa de contar para a sua amada que ele morrera pensando nela. Prometi.
Depois que ele morreu, ela me procurou no hospital, com olheiras de dor e desesperança, mas havia uma grande paz no seu meio sorriso, quando cumpri o prometido.
Abriu um livro de sonetos do Vinicius de Moraes para me mostrar que guardava uma pétala amassada, que fizera parte da primeira rosa que ele lhe dera 28 anos atrás.
Antes de ir-se, ela me confessou que nesse tempo tinham vivido um amor só de entregas, sem cobranças. Para ela, não importava que tivesse sido furtivo. Imenso como era, se bastava em si mesmo. Bem bonito.
A resposta que me ocorreu: “E haveria maior herança para deixar aos netos do que a ideia de um amor sem idade?”
Incrível como os jovens consideram a paixão, um privilégio de uma determinada etapa da vida, depois só lembranças, nostalgia, e resignação. Pobre engano!
Quando o Antenor internou com metástases na coluna de um câncer de pulmão em fase final, todos sabíamos que aquela seria sua última estada no hospital, não importando quanto durasse a agonia. A dor era terrível e a necessidade frequente de morfina inviabilizava a volta para casa.
Depois de uns dias, comecei a receber chamadas no consultório. Era uma mulher querendo saber notícias dele. Quando ficamos a sós, comentei dos telefonemas e ele, visivelmente consternado, me confidenciou: “É a minha paixão de quase 30 anos e ninguém sabe dela. Cuidou de mim desde sempre, nunca me pediu nada. Não tive coragem de abandonar minha esposa quando ela teve um derrame, e depois evoluiu para um Alzheimer”.
Por algum tempo, servi de correio, especialmente depois que ficou claro que os recados eram mais analgésicos do que a morfina. Faziam ele dormir, mas não eliminavam a demência.
Naquelas poucas semanas, fomos também cúmplices, como devem ser os melhores amigos, não interessa em quais circunstâncias.
Um dia, ele confessou que achava que quem tinha tido a sorte de um amor tão maravilhoso não devia se queixar de ter um câncer a lhe roer os ossos. E me arrancou a promessa de contar para a sua amada que ele morrera pensando nela. Prometi.
Depois que ele morreu, ela me procurou no hospital, com olheiras de dor e desesperança, mas havia uma grande paz no seu meio sorriso, quando cumpri o prometido.
Abriu um livro de sonetos do Vinicius de Moraes para me mostrar que guardava uma pétala amassada, que fizera parte da primeira rosa que ele lhe dera 28 anos atrás.
Antes de ir-se, ela me confessou que nesse tempo tinham vivido um amor só de entregas, sem cobranças. Para ela, não importava que tivesse sido furtivo. Imenso como era, se bastava em si mesmo. Bem bonito.
Caro Chassot,
ResponderExcluirComovente, humano e verdadeiro. Esse texto mostra com tranquilidade algo que maioria das pessoas não sabe e se recusa até pensar: que um dia ficará velha e terá que viver com as limitações dessa fase da vida. Velhos também amam, sofrem de amor e são felizes como "qualquer ser humano" como diria o ministro Magri. Abraços e boa calícula portalegrense, JAIR.
JOSÉ CARNEIRO escreveu de Belém:
ResponderExcluirCaro amigo prof. Chassot;
Sua postagem de hoje valeu pela transcrição da bela crônica sobre o amor. E quando você, mais uma vez, fala do calor da capital gaúcha, me lembrei que recentemente o macaco Simão, na Folha, brincou dizendo que o nome da capital deveria ser Forno Alegre. Faz sentido?
Estou me recuperando bem da catarata. É preciso fazer cirurgia no olho para avaliar a importãncia da visão.
Grande abraço,
José Carneiro
Meu caro José,
ResponderExcluirontem aqui em “Forno Alegre’ batemos todos os recordes de capitais em termo de Calor. Como escreveu aqui ontem o Leonel, um gaúcho aquerenciado no Rio de Janeiro, ganhamos no quesito ‘calor’ neste Carnaval.
Vibro com teres realizado a extirpação de cataratas. A propósito, li teu texto acerca da cirurgia. É pelo menos encorajador, só falto dizer no texto porque esta doença ocular tem este nome.
Sucessos
attico chassot
esta crônica lembra a conversa que tive com um casal de amigos, que se conheceram depois dos 60 e logo foram morar juntos. Disseram eles que, depois de certa idade, só se tem tempo para o sentimento. : )
ResponderExcluirMestre,
ResponderExcluirtexto muito comovente. Fiquei tocado. Como lindo o amor que sobrevive ao tempo, química louca esta...
Estou exilado em meu escritório gelidificado nestes dias tórridos me concentrando para o grande momento: o primeiro dia de aula!
Acredito que também estejas ansioso por reencontrar teus pupilos.
Grande abraço,
Guy.
Meu caro Guy,
ResponderExcluiro texto do médico J.J. Camargo é emocionante. A mim também comoveu.
a vantagem de ser professor é a não monotonia.
Esta expectativa por nossos alunos faz se que cada abertura de ano/semestre letivo pareça uma estreia. Fala quem vai começar semana que vem seu 52º ano letivo.
Uma muito boa estreia a cada uma e cada um dos mestres que nos leem aqui
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluiré que os jovens confundem sua capacidade de se apaixonar com a única forma de paixão que pode existir; depois dos sessenta, nos apaixonamos com mais frequência e mais profundamente.
Um abraço,
Garin
Professor,
ResponderExcluirque texto lindo! E realmente não existe maior herança para filhos e netos do que um exemplo de coração que não endurece com os passar dos anos.
Saudades suas!
Um beijo