Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br
*** Edição 2026
Um
sábado para dicas de leituras inserido em um tríduo momesco pode ser diferente —
será de uma autora e não de um livro —, mesmo que guarde em relação às duas
dicas anteriores uma isonomia chilena: dia 4 (Los secretos del Imperio de
Karadima) e dia 11 (Pablo Neruda), hoje trago outro nome andino: Gabriela
Mistral.
Contei
aqui, quando relatei minha viagem ao Chile, que no dia 15 de janeiro, eu que nunca
havia visto uma medalha de Premio Nobel, naquele dia me encantava com duas:
pela manhã a de Gabriela Mistral com o original do respectivo diploma, em uma
capela que lhe é dedicada no Museo de
Arte Colonial San Francisco, pois ela doou todos seus bens à ordem
franciscana para ser destinado a educação de menores. À tarde, na Chascona —
como contei aqui no sábado passado — o diploma e medalha de Pablo Neruda.
Antes
de destacar Gabriela Mistral
[pseudônimo escolhido de Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga
(Vicuña, 7 de abril de 1889 — Nova Iorque, 10 de janeiro de 1957), foi uma
poetisa, educadora, diplomata e feminista chilena] permito-me inserir uma curiosidade.
Com
quase 570 milhões de habitantes, a América Latina tem apenas 16 ganhadores do
prêmio Nobel em mais de 100 anos de história e mais de 800 prêmios dado.
Enquanto isso, apenas a África do Sul tem nove Nobel.
A
grande maioria dos latino-americanos ganhou o Nobel de Literatura e da Paz, e
apenas 5 foram laureados nas Ciências (Medicina ou Química). Nenhum ganhou nas
categorias de Física ou de Economia. Os argentinos têm se mostrado os mais
eficiente na região: têm cinco Nobel, sendo o primeiro em 1936. A chilena
Gabriela Mistral, vencedora em 1945 foi a primeira mulher na região a merecer o
prêmio. Desde 1995, a região não fora galardoada com no Nobel quando em 2010 o
peruano Mario Vargas Llosa, recebeu o de Literatura. O vencedor anterior era mexicano
Mario Molina por seu trabalho na descoberta do buraco na camada de ozônio
decorrente do uso de CFCs (clorofluorcarbonetos).
Depois desta inserção, retomo o
destaque sabático. Gabriela Mistral, filha
de Juan Jerónimo Godoy, professor e de Petronila Alcayaga, costureira e bordadeira,
cresceu entre as canções de sua mãe, que viriam a ser um elemento
importantíssimo em sua poesia, e a ausência do pai que logo abandonou a família.
Alfabetizada por Emelina, irmã mais velha -
filha de outro casamento de Petronila, que dava aulas numa escola rural -
dedicou-se aos estudos e tornou-se professora primária. Na escola rural de
Parral foi seu aluno o menino Neftalí Reyes Basualto, neto de um latifundiário,
mais tarde conhecido pelo pseudônimo Pablo Neruda.
Em 1914, após o suicídio do noivo,
começou a escrever poesia. Foi premiada nos Jogos Florais Chilenos pelos seus
sonetos sobre a morte e, para concorrer, escolheu o pseudônimo Gabriela Mistral
em homenagem ao escritor provençal Frédéric Mistral e ao italiano Gabrielle
D’Anunzio. Ao seu primeiro livro de poemas, Desolação (1922), seguiram-se Afeto
(1924), Podando (1938), Imprensa (1954) e outros.
Em 1922 é convidada pelo
Ministério da Educação do México a trabalhar nos planos de reforma educacional
daquele país. O Prêmio Nobel em 1945, transformou-a em figura de destaque na
literatura internacional e a levou a viajar por todo o mundo e representar seu
país em comissões culturais das Nações Unidas. Depois de receber o Prêmio
Nobel, representou o Chile como diplomata em Nápoles, Madri, Lisboa e Rio de
Janeiro, e atuou em várias instituições de ensino superior na Europa e na
América Latina. Gabriela Mistral foi cônsul no Brasil no anos 40 e viveu em
Petrópolis
A notoriedade a obrigou a
abandonar o ensino para desempenhar diversos cargos diplomáticos na Europa.
Tida como um exemplo de honestidade moral e intelectual e movida por um
profundo sentimento religioso, a tragédia do suicídio do noivo (1907) marcou
toda a sua poesia com um forte sentimento de carinho maternal, principalmente
nos seus poemas em relação às crianças. Em sua obra aparecem como temas
recorrentes: o amor pelos humildes, um interesse mais amplo por toda a
humanidade.
Durante muito tempo, foi
considerado um escândalo falar do relacionamento de quase dez anos entre Gabriela Mistral e Doris Dana na
foto. Mas, ao morrer em 2006 aos 86 anos, Doris tradutora e crítica
literária, amiga, secretária, última companheira guardava em 168 caixas, entre
outros documentos, 250 cartas de amor recebidas durante o tempo em que viveram
juntas. Doris Dana acompanhou Mistral até seus últimos dias e ficou encarregada
de cuidar dos bens deixados pela companheira.
O material, cedido pela sobrinha
de Doris, foi organizado por Pedro Pablo Zegers, famoso intelectual chileno e
responsável pelo Arquivo do Escritor da Biblioteca Nacional do Chile. As cartas
e outros documentos revelam aspectos de Doris, de sua juventude, beleza e forte
personalidade que seduziram uma das maiores figuras literárias do século 20.
A Editora Lumen publicou as
cartas em 2009, com o título, “Niña errante: Cartas a Doris Dana”. O livro
causou muitas controvérsias porque desnuda e expõe a figura de “Mãe da Pátria”,
até hoje, ligada à memória de Gabriela. A devoção comum pelo escritor alemão
Thomas Mann foi o ponto de partida para o poderoso vínculo que uniu as duas
mulheres excepcionais, começado como uma relação de aluna e professora - Doris
era 31 anos mais nova que Gabriela. Segundo Jaime Quezada, presidente da
Fundación Prêmio Nobel Gabriela Mistral, as cartas demonstram o fervor,
ternura, amor e paixão que existiu entre as duas mulheres, desde outubro de 1948.
Não conheço o livro, mas esta
para mim passa a ser a dica de leitura. Um muito bom sábado a cada uma e cada
um.
Caro Chassot,
ResponderExcluirMais uma blogada sumarenta, para usar suas próprias palavras. A dica de leitura está devidamente anotada e, tenha certeza, vou procurar tudo que a web oferecer com respeito a essa excepcional mulher. Abraços, JAIR.
Amigo Chassot,
ResponderExcluirfica uma questão bastante pertinente: os continentes americano (latino) e africano (menos a do Sul) não possuem expressões na área das ciências, sejam naturais ou humanas (não gosto dessa distinção), ou haveria certo preconceito com a parte de baixo da linha do Equador?
Um abraço.