Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br
*** Edição 2030
Dou-me conta que já é a
sexta vez que escrevo neste blogue nesta data que encharca-nos religiosa e
pagãmente. Logo não vou falar seus diferentes significados e muito menos do
porque de sua mobilidade no calendário e dos marcos de um calendário lunar num
calendário solar. Também não vou retificar o senso comum de que seja a data de
hoje que determina o dia da Páscoa, quando é o contrário.
Por outro lado, não vou
voltar a protestar contra as repetidas baboseiras que é hoje que começa o ano.
Só que não fez tanto nesta meia centena de dias acredita nisso. Aliás, se
adotasse esta tese chocha seria contestado dizendo que o ano só começaria na
próxima segunda-feira.
Mesmo assim, não posso sonegar as recordações de minha
infância, quando era ajudante de missa e nesta data acompanhava o padre, em uma
liturgia de imposição de cinzas na testa dos fiéis e ouvia centena de vezes, em
latim a frase do Gênesis
3.19, “Memento homo, quia pulvis
es, et in pulverem reverteris!” Não sei se hoje persistem estes rituais, se
tal ocorrem, certamente a frase é dita em vernáculo, que entre nós seria: “Lembra-te homem, que és pó, e em pó te hás de converter!”. Recordo de uma liturgia muito tétrica
então, não só evocativa da morte — a ilustração ratifica isto —, como pedindo expiação dos pecados recém-cometidos
no Carnaval.
A quarta-feira de cinza
era, ou melhor é, dia de abstinência de carne para os cristãos. Aqui,
lateralmente, uma justificativa do ato falho no tempo verbal: escrevi era, pois
não estando mais envolvido nesta prática, escrevi ‘era’, mas dou-me conta que
para as pessoas religiosas esta norma subsiste, mesmo que abrandada. Primeiro a
abstinência de carne era por toda a quaresma (mais de 40 dias), o seja de hoje
até o domingo de Páscoa. Daí se dizer, provavelmente sem uma confirmação
histórica que carnaval signifique ‘adeus à carne’, tanto que no sábado que segue
ao dia de hoje se celebrava ‘o enterro dos ossos’.
Na minha infância a
abstinência era em todas as sextas-feiras da quaresma. Hoje esta norma parece
ser apenas na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa.
Acerca disto há situações singulares. No livro Educação consciência, no capítulo ‘A Ciência na Inquisção’ narro algo que permito-me transcrever aqui. Antes porem desejo que cada uma e cada um curta o único hemi-feriado que temo em nosso calendário. Até às 12h é feriado, depois terminou-se o que era doce e...
Acerca disto há situações singulares. No livro Educação consciência, no capítulo ‘A Ciência na Inquisção’ narro algo que permito-me transcrever aqui. Antes porem desejo que cada uma e cada um curta o único hemi-feriado que temo em nosso calendário. Até às 12h é feriado, depois terminou-se o que era doce e...
A humanidade usou ovos
como uma de suas
principais fontes
de proteínas há muitos
milênios . Na Grécia antiga ,
um dos grandes
cozinheiros foi Cigófilo, que significa “amante
dos ovos ”. A ele
se atribui a invenção do ovo duro e da omelete . Todavia este milenar alimento atravessou momentos
difíceis. Em 917, se defrontou com a autoridade da Igreja . Discutia-se, então ,
se um alimento
que contivesse ovo
em sua
composição interromperia ou não a necessária abstinência
de carne que
os fiéis deviam guardar durante
a toda quaresma
e nas demais sextas-feiras do ano .
As discussões
foram polêmicas e se exigiu um Concílio – o
de Aquisgran – para debater
as possibilidades de se estar transgredindo uma norma e assim
se cometendo um pecado .
A Igreja , com
sua secular autoridade e responsabilidade
sobre seus
seguidores , determinou que o ovo
corresponde a um embrião
animal — as discussões atuais acerca
do aborto , ou
a partir de quando
começa existir
vida no ventre
materno não
são diferentes
em termos
das polêmicas biológicas e teológicas
levantadas. — e aquele que o comesse estaria quebrando o preceito
da abstinência , portando ofendendo a Deus de maneira
pecaminosa . Então ,
não faltaram aqueles
que ostensivamente
transgrediram a determinação eclesiástica . Estes
foram considerados hereges .
Foi somente em 1553, portanto mais
de seis séculos
depois , que
o Papa Julio III declarou que os ovos
eram aceitáveis aos olhos
de Deus como
alimentos . E o grande
pecado - não reconhecido -continua
sendo o esbanjamento de alimentos
originando a fome de muitos que nem se sequer
podem acrescentar um
ovo a sua
dieta alimentar .
[*] O jornal estadunidense The
Independent on Sunday publicou em 19 de maio
de 2002 discutível estudo
– muito a modo
de estadunidenses – de investigadores da
Universidade de Nova
York que descobriram que mulheres que têm relações
sexuais com
frequência mostram uma menor tendência de sofrer depressão . A chave
parece encontrar-se nos efeitos dos hormônios
e substâncias químicas
que se encontram no sêmen
quando este
é assimilado pelo organismo
da mulher . Ainda ,
segundo o estudo ,
4,5% de mulheres que
têm relações sem
preservativos intentaram o suicídio em
comparação com 13,2% entre aquelas que
utilizam preservativos ou das 13,5 das que
se abstêm de relações sexuais . Madrid20minutos , p.4, 20 de mayo de 2002. Este estudo
pode também parecer
de interesse de grupo
que quisesse desestimular
o uso de preservativos .
Caro Chassot,
ResponderExcluirA guisa de comentário, transcrevo trecho que publiquei em data passada:
"Com o advento da semana santa e a proibição da igreja a seus seguidores de ingestão de carne, mas a liberdade de comer peixe, me fez lembrar de uma ocorrência em Angola no século XVIII. O interessante caso, o encontrei num livro que tratava das conquistas portuguesas na África. O padre Afonso Meira de Carvalhosa, pároco da freguesia de Caluquembe, encontrava-se frente a um dilema que lhe afligia sobremaneira e, para não incorrer em possível heresia que condenaria ao inferno sua alma imortal e as dos seus paroquianos, resolveu consultar autoridade maior sobre o assunto, para isso escreveu para o bispo, seu superior, em Portugal. Tratava-se da proibição ou não de os nativos convertidos poderem comer carne de hipopótamos na semana santa. Veja bem, HIPOPÓTAMOS! A resposta do Bispo português Dom Antonio Cintra foi que não haveria qualquer restrição: hipopótamos, ou cavalos d'água como eram chamados esses mamíferos pelos lusos, podiam sim ser degustados na semana santa, porque eram PEIXES! Afinal viviam na água, não é mesmo? Pode parecer piada antilusófona de brasileiro, mas a verdade é que está registrado como fato por um patrício, o autor do livro é português."
Caro Chassot,
ResponderExcluira norma que proíbe a ingestão de carne durante a Quaresma aplica-se aos seguidores da Igreja Católica Apostólica Romana que possui uma doutrina considerando a Ostia, carne de Cristo (Doutrina da Transubstanciação). Não tenho segurança sobre os seguidores das igrejas católicas ortodoxas que se distribuem conforme suas nacionalidades (Grega, Turca, Russa etc.). Os demais cristãos entendem que na Eucaristia, o Corpo de Cristo, está simbolizado no pão (comum) como na Kiddush judaica. Entretanto, tu mesmo levantas a questão fundamental: não se trata de proibir esse ou aquele alimento, mas de encontrar uma fórmula de redistribuição de alimentos de tal sorte que 'todas' as pessoas possam ter acesso a uma porção mínima de alimento diariamente. Para essa empreitada, todos nós, indivíduos e instituições precisamos nos empenhar!
Uma boa quarta-feira de cinzas para o ex-ajudante de missa!
Garin