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sexta-feira, 30 de abril de 2010

30 * Tempus fugit


Porto Alegre Ano 4 # 1366

E já chegamos ao ocaso deste abril tão movimentado. Passou o primeiro terço de 2010. O semestre letivo de 2010/1 já está na sua segunda metade. Amanhã será maio; estreia com feriado. Realmente ‘Tempus fugit’.

Esta era a inscrição presente nos mostradores dos relógios. Hoje, parece somos alertados por tantos outros aparatos tecnológicos, como os telefones celulares e mais especialmente o marcador de tempo que tem no cantinho direito de nossos computadores [talvez, dos muitos relógios que temos, esse seja o mais controlador de todos] que nem precisamos mais de relógios convencionais para nos alertar que o tempo foge. O tempo voa, tanto quanto regido por Cronos ou por Cairós.

Ontem contei, aqui, que recebi o convite para escrever um terceiro prefácio neste 2010. Então, trouxe excertos do primeiro que escrevi no livro organizado por Anelise Grünfeld de Luca e Sandra Aparecida dos Santos. Anunciei que hoje traria algo que escrevi para abertura de livro que reúne cinco sumarentos capítulos produzidos por colegas do Centro Universitário Metodista – IPA. Como meu texto tem nove páginas selecionei alguns fragmentos para que meus leitores prelibem a obra anunciada.

Um prelúdio, ou tentativa de oferecer acepipes

Vivo uma vez mais um gostoso desafio. Fazer a apresentação de um livro. Talvez deva creditar este fazer bastante frequente em minhas lides acadêmicas a generosidade de meus colegas, que me elegem por me reconhecerem marcado pela paixão por esse binômio maravilhoso: escrita ↔leitura.

Vou ser repetitivo no ritual de dar a lume a os desafios na escola: olhares diversos sobre questões cotidianas. Permitam-me, por ser démodé, traduzir essa bonita ação de dar a lume: tornar notório, público; declarar, manifestar. Assim, cabe-me nesse prefácio fazer a epifania ou celebrar o aparecimento ou a manifestação reveladora de um novo livro. Esse ritual iniciático se faz em regozijos.

Escreve-se por último àquilo que será lido primeiro, e mais, há a imensa responsabilidade de seduzir o leitor, através de um prefácio. Aqui mais do que seduzir a um futuro leitor quero trazer apenas acepipes, pois os organizadores anunciam na introdução que este livro “tem a perspectiva de trazer alguns elementos que venham a auxiliar no desenvolvimento do cotidiano dos profissionais da área da educação, no que diz respeito à atuação em sala de aula”.

[...]

Vou executar essa epifania em três movimentos. Eles se farão num crescendo – e aqui uso a acepção de uma composição musical – do macro ao micro. Assim vou me permitir uma referência ao lócus de gestação da obra, em um segundo movimento entram em cena os organizadores do livro, para finalizar há um convite para a mirada dos cinco textos amealhados neste livro.

Ao executar o primeiro movimento surgem dois saberes primevos correlatos. Um refere que ‘o fruto não cai longe do pé’ e o outro que ‘pelo fruto se conhece a árvore’. Quando pesquisadores trazem para o público uma nova produção essa vem matizada pelo lócus de pesquisa. Esse livro é marcadamente uma produção eivada (numa acepção positiva de contaminada) no Centro Universitário Metodista IPA, uma instituição de ensino superior multicultural reconhecida pela presença de adultos maiores, de indígenas, de trabalhadores rurais, de afro-descedentes e de africanos. A instituição cultiva, entre suas marcas, processos de inclusão construídos pela constatação de que os problemas que afligem a realidade latino-americana devem constituir pauta das pesquisas tendo como exigência a atenção à transformação do Planeta e mais que essa tenha uma preocupação com uma melhor qualidade de vida. Vale referir que essa inclusão social não se faz explicita apenas na missão da Instituição, mas é marcadamente visível quando se vê o multiculturalismo presente ‘em realidade’, por exemplo, na sala de aula.

Neste livro os autores evidenciam a sua adesão a propostas que se conectam – e mais, aderem – à chegada de políticas afirmativas no Estado Brasileiro. Para estas saudáveis e saudadas realidades a Escola é artefato cultual privilegiado e esse livro é uma tradução disso. Na Constituição brasileira, um dos objetivos da Educação é a preparação de homens e mulheres para o exercício da cidadania. Entre os fins definidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, a educação deve estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente. Só essa dimensão que assinalo nesse primeiro movimento dá ensejos para antecipar que ao final vá, entusiasmadamente, recomendar esse livro.

No segundo movimento quero trazer algo dos três organizadores. Primeiro desejo afirmar que organizar um livro não é coletar textos de diferentes autores, batizá-los de capítulos e junta-los e dizer fizemos um livro. E preciso fazer o que fizeram o José Clovis, a Marlis e a Carolina: eleger um fio condutor e entendê-lo como um seminário, na acepção de sementeira para se colocar ideias que germinem análises, sínteses, críticas, ações, propostas. Isso quase permite violar um paradigma e considerar esse livro um ser vivo.

[...]

E esse prelúdio chega, no seu anunciado crescendo, ao movimento final. Falar de cada um dos cinco capítulos. Meu trabalho seria quase dispensado, pois os organizadores fazem isso com primor na introdução. Limito-me assim uma breve menção buscando encontrar ligações nos cinco textos apresentados.

[...]

Acredito que trouxe àqueles e àqueles que me acompanharam nessas tessituras acerca de os desafios na escola: olhares diversos sobre questões cotidianas motivos para se espraiarem nas páginas que estão adiante. Assim, meu voto é um só: à leitura. Sugiro saborear esse gostoso binômio escrita ↔leitura. Esse livro só terá sua epifania pelas ações de seus leitores. Logo, vale fruí-lo.

Centro Universitário Metodista – IPA, outono de 2010.

Na expectativa que o livro de meus colegas seja em breve realidade papável, votos de uma boa sexta-feira e que a chegada do shabath prenuncie um fim de semana, quando por ser o feriado em um sábado dá para muitos um sensação de um quase sequestro de seu fruir. À noite Gelsa e eu temos um jantar na casa das colegas Ana Claudia e Simone. Sabemos que ao cardápio (comida sírio-libanesa) atenciosamente anunciado se aditará (no seu sentido mais pleno) gostosas conversações.

Amanhã, mesmo feriado, mantenho a tradição sabatina: dia de dica de leitura. Anuncio um livro significativo para inaugurar as blogadas de maio: de Bernhard Schlink, mesmo autor de ‘O Leitor’ comentarei ‘O Outro’. Até então.

2 comentários:

  1. Mestre Chassot, os acepipes continuam apetitosos. Ao ler sobre o Centro Universitário Metodista - IPA, onde por três anos fui acadêmico do Curso de História, recordo os bons e maus momentos que tive na instituição e, por mais estranho que isso me parecesse na época, hoje eu sinto saudades. O tempo realmente fugiu, e só na memória podemos capturá-lo, mesmo que de forma incompleta, seletiva e fugaz.

    Com expectativas para o antigo mês de Hera/Juno, do onde nos foi transmitida a tradição do chamado "Mês das Noivas", faço votos de um ótimo dia e de um ótimo mês vindouro.

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  2. Meu caro Marcos,
    agradeço teu comentário quando abril está no ocaso. Dizes bem: ele (o abril de 2010) só existe nas gostosas recordações e nas tristezas que se deseja olvidadas; umas e outras mentefatos capturáveis quase como imaginações.
    Assim que venha maio, que alem de ser o mês das noivas era em minha religiosidade infantil o Mês de Maria.
    Um muito bom maio para ti e para cada uma e cada um de nossos leitores

    attico chassot

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