Porto Alegre Ano 4 # 1347 |
Nessa blogada dominical, algo da tarde de ontem, marcada por dois momentos: alfa e ômega, celebração da vida e da morte. Ou na cronologia do sábado ensolarado: a morte e a vida. Primeiro, estivemos no cemitério, para sepultar um dos homens mais sábios e ponderados que conheci em minha trajetória profissional; de vez em vez veio-me à mente a metáfora: hoje queimou uma preciosa biblioteca. Foi bom dizer para a filha do Prof. Rothmann – sepultado com as insígnias de membro do Instituto Histórico do Rio Grande do Sul – de minha admiração por seu pai. Foi também um rever de ex-colegas.
Depois fomos à Estrela/Lajeado comemorar a vida: era a festa dos cinco anos do Guilherme ocorrido dia oito. O Antônio foi e voltou conosco. Foi uma festa muito linda marcada pelo reencontrar de filhos, netos e muitos pesoas amigas, especialmente entre as pessoas das relações da Ana e do Eduardo.
Há quatro registros da festa: no
primeiro a Gelsa entregando o curtido presente ao aniversariante. No segundo eu estou fazendo o mesmo com a Ana. O seguinte é momento do ‘Parabéns, com ofeliz Guilherme, entre os pais, com razão muito orgulhosos. Por fim duas das estrelas da festa: Antonio e Maria Clara, que, com o Guilherme e dezenas de crianças suas convidadas, se maravilharam com os muitos brinquedos que formavam o esplêndido espaço infantil Brinca Maria (autoramas eletrônicos; video-games; casinha de boneca com perucas coloridas, chapéus e fantasias; construções em fibra de vidro que possibilitavam subir por originais escadas, percorrer trilhas de diferentes níveis, terminando o percurso em um túnel que finalizava em uma imensa piscina de bolas coloridas.
Já estamos na 15ª blogada dominical de 2010. Saboreamos um sagu na estreia e se fez então uma proposta. Assim como nas blogadas sabatinas se fala de autores e livros, domingo se elegeu falar assuntos mais leves. Ou light, para aderir a um anglicismo de supermercado. Tenho impressão, e perdoem-me a pretensa (sim! Esse adjetivo
existe) que hoje vou me superar. O texto, ainda é um rescaldo de minhas leituras de jornais em Madrid, em 2002. Mas parece que ele não sabe a mofo.Depois de comentar esquelas na última sexta-feira Santa não é muito trivial falar sobre minha sedução com a leitura de anúncios eróticos. Não vou detalhar, entretanto, o quanto a leitura destes anúncios me envolvia, pois ficaria com minha imagem empanada. Ao redigir este texto, há que estar um pouco atento com a chamada necessidade de preservação de imagem, logo serei seletivo nos anúncios que vou apresentar. Sei também que esse gênero publicitário não é uma novidade que tenha conhecido na Espanha, mas não me consta que no Brasil eles sejam tão numerosos (aqui são páginas e páginas, em todos os jornais) e vi então algumas novidades que desconhecia e as comento adiante.
O tamanho destes anúncios é muito variado. Há muitos de apenas uma linha, claro que a mim não atraiam, pois seria quase como ler uma listagem telefônica. Mas há os muito descritivo, leia-se a apelativos; há, inclusive os provocativamente ilustrados. É fácil inferir o quanto de chamariz devem apresentar as anunciantes ou os anunciantes para se distinguir em um “mercado” que parece ser muito concorrido. Estes anúncios, para aumentar a atratividade anunciam inclusive o que (não) vestem as que se oferecem. Vale referir que os jornais gratuitos, muito frequentes em várias cidades europeias, têm nestes anúncios um excelente filão.
Algo original são como alguns periódicos apresentam as suas secções destes anúncios. Assim encontra-se: Chica busca Chico; Chico busca chica (e aqui a Chica pode ser uma abuelita cachonda [= vovozinha meio tarada ] de 65 anos que se diz ainda muito fogosa.); Chico busca Chico; Chica busca chica. Como se vê, há farturas de combinações de gêneros sexuais dois a dois. Há também possibilidade de combinações três a três ou outras, mas não vou fazer exercícios de análise combinatória.
Mesmo acreditando que quase todas as descrições sejam fictícias, não há como ter a atenção aguçada para um anúncio em que uma avó de 69 anos se ofereça com sua neta de 23. Ou a jovem de 19 anos, que diz ter dois bilhetes de viagem e hotel para viajar na semana e o oferece, gratuitamente, a quem quiser acompanhá-la nos feriados da semana santa. Não deixo de enfatizar que aquilo que se lê, muito provavelmente, possa ser ficção ou trote ou até golpe para caçar alguém mais descuidado. Como meus propósitos não eram um trabalho investigativo, não conferi telefonicamente nenhum destes anúncios, até porque me faltaria coragem.
Há pelo menos duas originalidades, pelo menos para mim: oferta de pagamentos e anúncio de suas deficiências. Devo dizer que leitores mais atentos devem encontrar estas ditas originalidades em jornais brasileiros. Eis alguns exemplos de uma e outra situação. Minhas transcrições são amostras reduzidíssimas de um jornal, em apenas um dia, escolhido ao acaso.
A primeiro é a aquela em que um número significativo de anunciante, usualmente mulheres, oferecem pagamentos, muitas vezes de até de mais de 100 € a hora [Vale recordar que em 2002, quanto o euro entrou em circulação a cotação era de cerca de 1 € = 4 R$; hoje, com a desvalorização está entorno de 1€= 2,50 R$]. Assim há uma que diz “sou gorda, porém tenho carro e dinheiro. Se queres vou buscar-te para passarmos junto. Pago muito bem” Há outra que anuncia dizendo que “sou muito madura, estou há 15 anos sem sexo e quero recuperar o tempo perdido.”
Há aqueles que mesmo anunciando alguma deficiência, buscam companhia, e nesta categoria usualmente também oferecem pagamento. “Sou muito mulher, mesmo que viva em cadeira de rodas, porém garanto sexo no limite máximo, pago bem.” “Uso óculos, mas não ligo e busco quem me faça amor.” “Busco homem que me faça sentir mulher. Sou anã e pago bem.” “Sou paraplégico mas garanto que sou capaz de dar muito prazer a qualquer mulher.” “Sou muito feia, mas pago muito bem.
Quando lia estes anúncios, presentes aos borbotões nas casas de famílias que em outras situações se mostram muito conservadoras, como aquela senhora que ouvi aplaudir o término de um namoro do príncipe, dizendo que a moça não servia, pois era filha de desquitados `que depois terminou casando com uma desquitada], lembrei-me de um tio meu, já falecido há muito, que antes de permitir que os filhos tivessem acesso as reportagens de carnaval dos anos 50, na revista O Cruzeiro, cuidadosamente cobria com papéis colados algumas mulheres não vestidas com o recato que ele achava adequado. Se ele soubesse o que seus netos haveriam de ver!
Depois disso, mesmo sabendo que a trazida não muito condizente para um ‘Dia do Senhor’ meus votos de um bom domingo, vivido na expectativa de uma nova semana muito promissora.
Ai que lindo!
ResponderExcluir^^!
Meu filho ia adorar!Além da 'febre' dele por super-heróis[característico dos meninos], ele também ama Scooby, Tom & Jerry e Pica Pau!Iria ficar encantado, com certeza com o aniversário do Guilherme!
=]
É como disseste mesmo, "Alfa e Ômega"!
A vida é assim, não é mesmo!?Sempre a vida compensando a morte!
..ainda bem..
Abraços, mestre!
Muy querido Profesor Chassot: ¿Los avisos eróticos son femeninos? (estoy en broma plagiando por oposición su: Es la Ciencia masculina?) no lo creo, el mercado es muy diverso.
ResponderExcluirNo me había puesto a pensar que tanto las esquelas fúnebres como los avisos eróticos son reflejos del pensamiento de una sociedad. Vale la pena hacerlo.
Que tenga un lindo domingo,
Muy apreciada Matilde,
ResponderExcluirgracias por tus deseos de un lindo domingo. Acá se hace un dio otoñal muy hermoso. Espero que en tu Guayaquil el día sea muy lindo. No he hecho una analice de género de de los anuncios eróticos, Muy buen puesta la tuya. Todavía de las esquelas son predominantemente masculinas, por razones que me parecen obvias: consecuencia de Ciencia, Artes, Filosofia religiones son masculinos. Lo héroes son masculinos.
Gracias por seres lectora tan cualificada aquí,
attico chassot
Meu caro Mestre Chassot! De volta de uma jornada correntina, cá estou apreciando teus escritos. Não há como deixar de passar todo o sábado para ver qual a leitura indicada da semana. Quanto aos anúncios eles realmente refletem perfeitamente o comportamento da sociedade atual. Certa feita, na UNB em Brasilia, me deparei com anuncios historicos publicados sobre a venda de escravos. Eles traçavam perfeitamente os preconceitos de época, da mesma forma que uma sociedade em colapso pela pedofilia pode ser reconhecida em alguns anuncios que por vezes observamos nos periódicos usuais. Sim, minha querida Matilde, estes anuncios refletem perfeitamente a realidade atual. Bom domingo Mestre. Abraços do JB.
ResponderExcluirMuito querida colega Thaisa.
ResponderExcluirteu comentário acerca da festa do Guilherme e relacionando com teu filho, ensejou a Gelsa fazer um ‘upgrade’ no relato da festa, que recomendo releitura. Adito ao comentário que dos meus cinco netos, três estão em fase dos ‘Backyardigans’., que presenteamos ao Guilherme e que o Antônio e a Maria Clara também querem.
Obrigado por me fazeres retornar a festa,
attico chassot
Meu querido Jairo,
ResponderExcluirvibrei em poder acompanhar um pouco tua jornada portenha. Admiro teu fazer acadêmico.
Muito em posta a analogia que fazes dos anúncios de hoje e das esquelas com os anúncios de veda de escravos.
A adesão a proposta da Matilde, que referes e por isso recebe cópia desta mensagem, é muito válida.
Um muito bom domingo que esse outono faz maravilhoso
attico chassot
hehehehehe!
ResponderExcluirProfessor...aqui vai uma confissão: quem amaaaaaa 'Backyardigans', aqui em casa, sou eu!
kkkkkkkkkkkk!
Adoro a forma como o[a] criador[a] do desenho coloca tudo musicado e, sempre com músicas cultas!Isso me encanta!E me faz pensar em um resgate de nossa sociedade!É lindo um episódio em que tudo é Bossa[se bem me lembro, a música é "náufrago"].
=]
Quem sabe seus netinhos serão nossos 'salvadores' musicais e culturais, num futuro próximo!
Tomara, pois estamos precisando!
Um ótimo início de semana ao senhor e a todos por aí!
^^!
Muito estimada colega Thaiza,
ResponderExcluirrevelação surpreendente. E, também. tranquilizadora. Quando o Guilherme que fez cinco anos pediu (e vibrou tanto com os) Backyardigans, cheguei a ficar apreensivos com uma ‘possível’ regressão. Como te disse ontem, nem sabia da existência desta febre que faz que os mesmos estejam esgotados na maioria das lojas aqui em Porto Alegre e também na internet.
Isso que revelas me alegra e me faz torcer para que se possa atender aos pedidos dos outros dois abrilinos: Antônio (3 anos) e Maria Clara (4 anos).
Com votos de uma muito boa semana, os agradecimentos do
attico chassot
Mestre Chassot, apenas uma mente atenta e desenvolta como a sua daria a devida atenção aos anúncios fúnebres e eróticos, algo que passa desapercebido para a maioria dos leitores.
ResponderExcluirÓtimo dia.
Meu caro Marcos,
ResponderExcluirquando elogias esse detalhe de minhas leituras de jornais, podes avaliar o ‘sofrimento’ que vivia, por exemplo na Dinamarca, quando não conseguia entender os jornais. Consegui até perceber algumas dimensões dos anúncios fúnebres, mas nem de longe como em Madrid.
Obrigado por estares nessa blogada
attico chassot