Porto Alegre Ano 4 # 1365
A manhã tem mais gosto de inverno que ontem, com temperaturas abaixo de 10 graus em vários pontos da cidade. A quinta-feira é marcada por tristezas no cenário familiar. Muito cedo recebemos a notícia da morte de Rosa Knijnik Malinski. Morre a única ascendente paterna da Gelsa. A tia Rosa era irmã de seu pai. Ainda no domingo desfrutávamos de manifestações de sua alegria, fazendo planos aos 92 anos. Foi vitimada por um câncer no pâncreas violento, pois há dez dias não fora diagnosticado. Guardarei dela suas continuadas manifestações de entusiasmo com a vida. Recordo particularmente de sua festa de 90 anos, quando foi certamente a pessoas que mais dançou.
E esta manhã, Tia Rosa nos faz lembrar com tristeza suas manifestações de alegria.
Essa semana, recebi um convite para escrever um prefácio de um livro. Seu autor (e também autor do convite) é meu amigo o Prof. Dr. Enrique del Pércio, ex-Reitor do Instituto Pedagógico Latinoamericano y del Caribe e Professor de Sociologia na Universidade de Buenos Aires. Os leitores de meus textos ou ouvinte de minhas palestras mais recentes o conhecem, pois o tenho referido quando analiso os três significados do in- ao discutir a “indisciplina como metodologia”. Aliás, esse é o terceiro convite do gênero neste 2010.
Os dois outros são livros organizados por colegas: um dele de duas professoras catarinenses e outro de docentes do Centro Universitário Metodista - IPA. Os meus prefácios são textos extensos (7 e 9 paginas) mas escolhi, nesta quinta e sexta-feira trazer para meus leitores excertos de um e de outro. Começo por aquele que escrevi em março.
Para apresentar um banquete, oferecer acepipes é preciso
Uma vez me encontro ante o honroso convite de fazer a apresentação de um livro. Esse é irrecusável. Não sei dizer muito das duas autoras. Anelise Grünfeld de Luca é Química e Sandra Aparecida dos Santos é Bióloga. Uma e outra são professoras e pesquisadoras ligadas ao UNIDAVI – Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí, em Rio do Sul. Neste 2010 ingressaram como alunas do mestrado em Ensino de Ciências na UFSC. Nosso conhecimento é intérnetico. Há um tempo desenvolveram atividades com seus estudantes que, entre outros fazeres tinha consulta ao meu blogue. Isso ensejou que em outubro do ano passado fosse pela primeira vez a Rio do Sul, para uma série de palestras. Foi então, quando entusiasmadas me apresentaram o projeto do livro, do qual escrevo este prelúdio. Meu contato com a dupla dinâmica – e talvez esse seja o melhor codinome para as duas – continuou. A parceria acadêmica das duas pode ser traduzido pela usual maneira de encerrar as mensagens: Dois fortes abraços! Anelise e Sandra.
Vou ser repetitivo. Escreve-se por último àquilo que será lido primeiro, e mais, há a imensa responsabilidade de seduzir o leitor, através do prefácio. Aqui mais do que seduzir a um futuro leitor quero trazer apenas acepipes, já que a Anelise e a Sandra reservam para final um capítulo sobremesa. Mas não apenas a sobremesa que elas anunciam que me fez pensar em escrever o aperitivo. Miremos um pouco o sumário. Poderia se pensar ser este um livro de um curso de gastronomia (E por que não?) ou manual de culinária.
Assim, pretensiosamente quero oferecer acepipes. Estes estão dicionarizado como tipo delicado de alimento, em pequenas porções servidas como aperitivo. Ou como diz um dicionário de português não brasileiro: simplesmente como guloseima ou pitéu. Vejam que sou pretensioso com essa abertura. Mesmo que se diga que os químicos sejam no campo das Ciências aqueles que mais se aproximam da cozinha, para não frustrar leitores de ter feito promessa enganosa, mesmo sendo graduado em Química antecipo que não piloto bem forno e fogão, logo os prometidos pitéus podem não ser boas guloseimas. A Anelise e a Sandra, com a expertise que eu não tenho em cozinha, no capítulo 3, convidam Primo Levi para nos mostrar que “a cozinha em si é um espaço de experimentações, onde podemos sentir, cheirar, saborear... como bem poderia afirmar um gourmet e, de relações, onde resgatamos gerações passadas através de receitas históricas e culturais, como bem poderiam confirmar nossas avós.”
Quando redijo esse texto, não posso me furtar em imaginar – e permita-me ser redundante e recordar que imaginar é fazer imagens – algo que para mim é dos fazeres mais gratificantes: garimpar, sem conhecer relógio, livros em uma livraria ou
[...]
Talvez devesse / pudesse trazer alguns acepipes mais. Todavia dou-me conta que meu aperitivo fica extenso. Corro o risco de enfarar os leitores, que devem estar ávido a saborear os pratos principais que a Dupla Dinâmica preparou. Termino esse aperitivo anunciando que há excelentes sabores e saberes nas páginas que estão adiante. Asseguro que vale degustar. E tudo se encerra com sobremesa oferecida pala Anelise e pela Sandra. E como escrevo da Dinamarca o ‘Quimicobiológico’ oportuniza um último acepipe. Faço para ele uma analogia. Ele é uma festa de Babette. O filme dinamarquês é de 1987, assim permito-me recordar a história.
Dois adolescentes vivem com o pai, um rigoroso pastor luterano, em um
pequeno vilarejo da costa dinamarquesa. Em uma noite de 1871, bate a sua porta uma parisiense pedindo refúgio: Babette foge da repressão à Comuna de Paris e se oferece para ser a cozinheira e faxineira da família. Muitos anos depois, ainda trabalhando na casa, ela recebe a notícia de que ganhara uma fortuna numa loteria em Paris. Em vez de voltar à terra natal, resolve ficar e gastar o dinheiro em um autêntico jantar francês que oferece à comunidade, aproveitando para comemorar o centésimo aniversário do pastor. Seu banquete impressionou os convidados. Babette havia sido chef de cozinha francesa e trabalhado no chique Café Anglais (que existiu de verdade). O diretor trata a comida como "forma de elevação espiritual".
Assim que o ‘Quimicobiológico’ seja fruído como um manjar dos deuses.
Ålborg, 4 de março de 2009
Querido Chassot,
ResponderExcluirSinto muito pela Rosa.
Apreciei o termo quimicobiológico.
Abraços,
Meus sentimentos pela "Tia Rosa", Professor.
ResponderExcluir=/
Quanto à questão da relação entre os e a cozinha, o senhor já teve a oportunidade de ler um especial da Scientific American sobre "Física e Química na Cozinha"?!
É muito bom!
=]
Desejos de uma quinta-feira de paz!
Muito querida Joelia,
ResponderExcluirobrigado pela solidariedade pelo passamento da Tia Rosa.
O livro da Aneliese e da Sandra promete,
Um afago com agradecimentos do
attico chassot
Muito querida colega Thaiza,
ResponderExcluirobrigado pela solidariedade pelo passamento da Tia Rosa.
Essa série da Scientific American ainda não conheço.
Já resenhei aqui o Químico na Cozinha’
Um afago com reconhecidos agradecimentos do
attico chassot
Mestre Chassot, mais uma biblioteca se vai desse mundo. Minhas condolências a Gelsa e ao senhor.
ResponderExcluirQuanto ao seu prefácio, pareceu-me realmente um acepipe apetitoso. O prato principal deve ser ainda mais sumarento, acredito.
Ótimo dia.
Muito querido Marcos,
ResponderExcluiratenciosamente grato por tuas condolências.Agradeço em nome da Gelsa.
Realmente com tia Rosa foi-se uma biblioteca.
Aguardemos, no livro de Anelise e Sandra, para saborear o prato principal.
Uma boa tarde
attico chassot