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sábado, 24 de abril de 2010

24 * As Brasas // Sándor Márai

Porto Alegre Ano 4 # 1360

Manhã nublada. A madrugada mais fria do ano (aqui) com várias regiões do Rio Grande do Sul com temperaturas em torno de 5ºC. Um sábado de um fim de semana que será marcado por duas festas em um mesmo cenário: hoje à noite vamos comemorar os 30 anos da Clarissa a minha caçula –, cuja data é amanhã. E amanhã, à tarde, na mesma casa, os quatro anos da Maria Clara – presente que a Clarissa recebeu quando fez 26 anos, cuja data de nascimento é segunda-feira.

Ontem foi o Dia Mundial do Livro – o livro terá celebração central amanhã aqui – e esta blogada sabatina se insere na celebração da data. Vale fruir sabor a livros.

Qualquer livro que lemos tem muitas histórias. Destas, uma é poucas vezes revelada ou relevada. Por que / como / quando / onde nos decidimos pela leitura de determinado livro? Eu sinto que tenho um faro: ponho o olho e pressinto se o livro me envolverá ou não. As capas (especialmente a quarta), as orelhas me oferecem pistas. As indicações de amigos são valiosas. Claro que as resenhas são indicadores e penso que é por isso que me faço entusiasmadamente resenhista.

O livro desta dica sabatina tem uma história, talvez com marcas de incivilidade. No último domingo estava em almoço familiar, quando – e aí está pelo menos uma descortesia – solicitei a anfitriã algo para ler. Minha cunhada Neusa, queridamente, compactuou com minha deselegância no ágape e colocou em minhas mãos brasas, não daquelas que estavam sendo usadas para fazer o churrasco. Talvez não cometa o exagero de autor de outro blogue que escreveu: “Abandonei todos os outros [livros], porque, sem dúvida, encontrei o escritor da minha vida. É por ele que estou, de verdade, em brasas”, mas, quase posso fazer a minha adesão a seu escrito.

Essa blogada é sobre a minha descoberta de um livro (e de um autor) que jamais ouvira falar. A Neusa o colocou em minha história de maneira muito forte. É, assim, acerca de As Brasas de Sándor Márai que se constrói essa blogada sabatina, que ofereço para Neusa com imenso reconhecimento. Só não vou dizer à competente psiquiatra que o livro enseja boas horas de reflexões, pois poderia ser pensado como um sucedâneo às artes do divã. Mas um até então ignoto escritor húngaro ensinou-me que “[...] a paixão não se explica pelas leis da razão, e não dá nenhuma importância ao que receberá em troca. Quer se expressar até o fundo, impor a sua vontade, embora só obtenha em contrapartida sentimentos suaves, amizade e indulgência. Toda paixão verdadeira é sem esperança, do contrário não seria paixão mas um simples pacto, um acordo sensato, uma troca de interesses banais” (p.106).

Trago, como usualmente, a ficha técnica, algo do autor e pinceladas do livro.

MÁRAI, Sándor. As brasas. [Original húngaro: A gyertyák csonkig égnek] Posfácio de Marinella d’Alessandro (Tradutora da versão para o italiano Le braci) Tradução (do italiano) de Rose Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 174 p. ISBN 978-85-7164-954-5.


Sándor Márai [Na foto em monumento em sua cidade natal] (Košice, 11 de abril de 1900 — San Diego, USA, 22 de fevereiro de 1989) nasceu em Košice ou Kassa, uma pequena cidade da Hungria, hoje Eslováquia. Seu pai era advogado e sua mãe professora. Poeta, dramaturgo, um dos maiores escritores da língua húngara, Autor de mais de sessenta livros. Escreveu seu primeiro romance aos 24 anos. Alcançou grande sucesso na Hungria. Foi um grande romancista, poeta e cronista das sutilezas da memória, escritor e jornalista. Em 1919, vai viver em Berlim e depois em Frankfurt, Alemanha. Começa a trabalhar como jornalista em 1920. Em 1945, é eleito membro da Academia Húngara de Ciências. No ano de 1948 saí de Budapeste num auto-exílio, inconformado com as idéias do regime comunista em seu país e deseja tornar-se cidadão estadunidense. Márai sempre escreveu em húngaro e produziu a maior parte de suas obras no período entre 1928 e 1948. Pagou um alto preço por suas opiniões contrárias ao regime comunista. Durante toda a sua vida Sándor Márai teve sua sorte modificada e influenciada pela guerra e pelos conflitos políticos em seu país.

Num momento, em que era muito respeitado por todos em seu país e estimado, como um dos maiores escritores da Hungria, e da Europa, toda sua obra foi proibida e Sándor Márai, caíu no esquecimento. Márai foi sempre um crítico inconformado com a ascensão do comunismo. Alguns críticos nunca aceitaram sua posição e por muito tempo desprezaram suas criações literárias, que traziam um retrato fiel da decadência da burguesia. Em 1952, depois de morar na Suíça, Inglaterra, vive por algum tempo em Nova York.

Em 1968 depois de passar um tempo em Salermo, Itália, muda-se para San Diego onde vive até suicidar-se em 1989, com um tiro na cabeça. O suicídio de Sándor Márai que partiu sem dizer por que, talvez possa ser compreendido se levar-se em conta todos os anos de esquecimento a que foi submetido pelo regime e pela falta de liberdade que tanto criticou a vida toda.

Sua literatura pode já foi comprada com a obra Thomas Mann, um dos maiores escritores alemães do século XX e a de Gyula Krúdy, autor húngaro de obra extensa e muito querido em toda Hungria e Europa. Em sua trajetória literária Sándor Márai, falou das armadilhas do amor, da paixão, da vida, da dor, da decadência e da morte. Teve seu olhar sempre voltado para todas as aventuras emocionais do homem. A força da literatura de Sándor Márai sempre esteve em sua descrença e na aceitação de seu destino. Seu amor a linguagem e o cuidado para expressar corretamente o que quer nos mostrar, revelam ao seu leitor que mais do que tudo Sándor Márai estava predestinado a escrever e a revelar a seus leitores o caos e a imperiosa necessidade de mudança. Somente depois de muitos anos, com a desestabilização do regime comunista, Márai pode ter seu trabalho novamente apreciado em seu país e ficou cada vez mais conhecido em todo o mundo.

As Brasas, – na edição em Portugal há um título mais poético (e que parece ser o do original húngaro): As velas ardem até o fim, que traduz (como o da edição no Brasil) cena do final do livro – é segundo a revista espanhola “Guia del Ocio”: “um dos melhores romances escritos no século 20, se não o melhor''. Não tenho como ratificar isso, mas posso dizer que é talvez o romance que mais envolveu. O texto simplesmente me capturou. Acredito que tenha me achado em afirmações como: “Os homens contribuem para o próprio destino, determinam certos fatos que vão acontecer com eles. Chamam o destino, apertam-no contra si e não se separam mais dele. Agem desse modo mesmo sabendo desde o início que esses atos terão resultados nefastos. O homem e seu destino se realizam reciprocamente, moldando-se um no outro. Não é verdade que o destino se introduz às escondidas em nossa vida: entra pela porta que nós mesmos escancaramos, pondo-nos de lado para convidá-lo a entrar."

Em seu castelo na Hungria, Henrik – velho general do Império Austro-Húngaro, de 75 anos –, recebe a notícia de que um antigo e inseparável amigo de infância e juventude, Konrad, está na cidade e deseja visitá-lo. Eles já não se vêem há 41 anos – ou para ser mais exato: 41 anos e 43 dias. O general contou cada um desses dias desde a abrupta e incompreensível separação. Na verdade, Henrik acredita mesmo que só continuou vivo por que sabia que esse “confronto” ainda aconteceria.

Na véspera do dia em que o general e Konrad se viram pela última vez, um episódio tão inesperado quanto surpreendente envolve os dois amigos. que desde a infância eram como gêmeos, durante uma caçada — pelo menos essa é a forte impressão de Henrik: teria mesmo seu amigo pensado em matá-lo? E por que não o consumou? Não, o general sabe que algo muito grave aconteceu — ainda que não consiga precisar o quê. Algo que muda profunda e definitivamente a vida dos dois amigos.

Durante o tempo em que estiveram afastados, Henrik não conseguiu deixar de buscar explicações para o que teria acontecido naquele dia fatídico e tudo o que decorreu a partir dele. Tão sozinho quanto incansável, o general busca respostas, quer descobrir o que realmente aconteceu, e o porquê do ocorrido. Em vão, pois acredita precisar de um interlocutor que lhe diga a verdade, uma única pessoa: Konrad. E eis que agora, no fim da vida, chega o momento do confronto há tanto esperado e que vai deslindar de uma vez por todas a existência estacionada de ambos. Para tanto, o general pede que preparem um jantar de gala para seu único convidado, e — talvez para prosseguir do ponto em que haviam deixado suas vidas em suspenso — procura reconstituir com rigorosas minúcias todo o ambiente em que se encontraram pela última vez, no mesmo castelo, no mesmo salão, na mesma mesa de jantar. Apenas um detalhe estará ausente da perfeita reconstituição: Krisztina, a falecida esposa do general. O jantar como aquele de 42 anos antes se desenrola com o velho general fazendo as perguntas que digeriu desde o jantar anterior. Inquiri quase impiedosamente seu convidado, tão insistentemente que mal dá chance a Konrad de dizer o que gostaria de ouvir — se é que pretendia mesmo ouvir o que já não soubesse…

Depois dessa sedução para entendermos porque As velas ardem até o fim só cabe-me desejar um excelente sábado. Amanhã, um convite especial: o livro, o homenageado com destaque.

12 comentários:

  1. Prof Chassot
    Com um ar de desafio quero ser a primeira a comentar seu texto. Um desafio maior é saber a história do livro que o Sr está lendo. ficarei esperando a continuidade. Aqui na minha cidade um frio com um ventão fazendo do sábado um dia sem sol, mas de descanso e retorna aos meus escritos. Espero seus comentarios e continuarei escrevendo... Se tiver tempo passe num blog que estamos colaborando, de um curso a distância realizado pela UNOPAR, tenho lá várias participações.

    www.deolhonalingua3.blogspot.com


    Um abraço
    Eloí Batista- Santiago-RS
    www.deolhonalingua3.blogspot.com

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  2. Estimada colega Eloí,
    obrigado por seres a primeira a esquentar-se em ‘As brasas’ de Sándor Márais.
    Sonho neste domingo deolhonalingua3.blogspot.com Votos de um bom resto de sábado,
    e uma afago com admiração do
    attico chassot

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  3. NUNCA FUI CHEGADO EM PORTUQUES , MAS QUE A MADRUGADA FRIA DO RIO GRANDE REFRESQUE MINHA MENTE.

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  4. com voto de uma semana cheia de paz. no proximo sabado estarei no curso de olhonalingua3, sou aluna da Unopar na cidade de Juazeiro/Ba.

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  5. com voto de uma semana cheia de paz. no proximo sabado estarei no curso de olhonalingua3, sou aluna da unopar na cidade de juazeiro/ba.

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  6. Nunca gostei de ler mas com eese frio é mavilhoso ler.

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  7. O texto fala sobre a importância da familia em nossas vidas.
    Marilice Pelotas

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  8. O homem e seu destino se realizam reciprocamente, moldando-se um no outro. Não é verdade que o destino se introduz Nem sempre a nossa opinião prevalece e o destino toma conta de nossas vidas e nos leva a momentos maravilhosos e perigosos ao mesmo tempo.
    PAULO SECCO, CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM, ESPIRITO SANTO

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  9. O homem e seu destino se realizam reciprocamente, moldando-se um no outro. Não é verdade que o destino se introduz, muitas das vezes precisamos trabalhar e estudar para mudar nosso destino e procuramos apreder e dedicarmos sempre em aprender mais da nossa profissão

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  10. E com muita admiração e esforço chegamos ao fim de momentos maravilhosos do curso de olho na lingua 3 este texto e maravilhoso so assim podemos encontrar maneiras de dedicar cada dia mais e mais para ler bons livros e refletir neste lindo sábado o quanto a leitura e significante.

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  11. Alecsia olá pessoal Apesar de não gostar muito de português, tirei grande aprendizado do curso, pois muitas são as vezes que deixamos de ler e aprender sobre assuntos importantes como o apresentado no curso de olhonalingua.

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  12. Prof Chassot

    O texto é muito interessante e nos remete ao que seria realmente destino... e que talvêz seja necessário aprendermos a ouvir mais antes de julgar... o texto é intrigante e espero poder ver a continuidade do mesmo...

    Abraços,

    Alessandra - UNOPAR Araxá(MG)

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