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sábado, 17 de abril de 2010

17 * Kierkegaard, em O DIÁRIO DE UM SEDUTOR


Porto Alegre Ano 4 # 1353

Esta sabatina é postada quando estou quase partindo para a Rodoviária para viajar à Osório (cerca de 100 km de Porto Alegre) onde esta manhã na FACOS – Faculdade Cenecista de Osório –, por convite de minha ex-aluna Prof. Dra. Claudia Glavan, profiro a aula inaugural dos cursos especialização de Psicopedagogia, Literatura e História do Rio Grande do Sul. Mais uma vez reedito emoções como aquelas vividas na tarde de terça-feira com os botânicos.

Esta tarde, temos a segunda rodada dos aniversários dos netos abrilinos. O Antônio, que no dia 19 completa três anos terá sua festa. Temos entre nós um participante ilustre para a celebração. O Benjamin, esposo da Júlia, que neste abril é professor visitante no COPE aa UFRJ, no Rio de Janeiro, veio a Porto Alegre para ser a presença parisiense na festa.

À dica de leitura de hoje, mais uma vez, comparece Søren Aabye Kierkegaard (Copenhague, 5 de maio de 1813 — Copenhague, 11 de novembro de 1855). Ele foi assunto aqui em 20 de março 10 de abril. Parece que não preciso provar o quanto o tarde/noite com neve em Skørping, na Dinamarca, quando meu amigo Ole mostrou-me o significado de Kierkegaard em sua biblioteca influi em mim. De três livros que comprei: Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra de Escritor, Diário de um Sedutor, e É Preciso Duvidar de Tudo, no sábado passado, comentei aqui o terceiro. Para hoje assuntei o segundo, que como já antecipei poderia chamar-se “Manual de um sedutor”.

KIERKEGAARD, Søren Aabye. Diário de um sedutor. Biografia do autor ao final. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2010. (Obra prima de cada autor) ISBN: 979-85-7232-525-6. Texto da 4ª capa; Todas as obras do filósofo e teólogo dinamarquês Sören têm por tema a verdade é a subjetividade. Esta concepção de verdade o conduziu a criticar a filosofia, principalmente a hegeliana, e a analisar suas relações com Deus. Seu poderoso pensamento é considerado precursor do Existencialismo, tendo influenciado fortemente Heidegger, Sartre e Kafka. Neste livro discute o seu noivado com Regina e faz uma digressão sobre o 'Don Giovani', de Mozart.

Tenho no mínimo três críticas ao projeto gráfico da edição brasileira (da Martin Claret): 1) presente em todos os livros (que conheço) da coleção Obra prima de cada autor (com mais de 300 títulos), onde se gasta seis páginas em um texto discutível para dizer o que é um livro e que o mundo lê mais. Sempre a mesma baboseira em todos os livros (+1 com a missão da Editora + 4 com uma ficha de leitura; 2) o tamanho da letra (talvez 8): isso torna o texto de difícil de leitura, pois às vezes os diários são parágrafos formado por monólogos com parágrafos de mais de duas páginas. 3) a paginação (=numero das páginas) em tamanho 20 o mais, sobre as quatro últimas linhas de cada página tornando o texto de difícil leitura, especialmente as notas de rodapé. Concentrar um texto inteiro em 143 páginas (das 164 páginas pelas quais pagamos) é no mínimo fraudar o leitor. Não conheço em quantas páginas se estende essa obra em outras edições. Espero que algum leitor tenha outra ediição e informe aqui. Poderia acrescentar que um livro de 2010 poderia já estar na nova ortografia. Assim se o leitor encontrar a obra em outra editora, fuja da Martin Claret, pois os desta Editora são impossíveis ler em minhas viajadas de ônibus..

As considerações acima se referem a aspectos físicos da obra. Elas foram postadas no sítio da Livraria Cultura, que agradeceu a colaboração. Desmerecem a editora – e farei chegar a ela o texto acima – e jamais a Kierkegaard. Ao contrário, precisa ser um texto muito bom, para submetermos nossos olhos aos desconfortos antes narrados.

Diário de um sedutor – e me ajida nessa resenha a Wikipédia – corresponde à narrativa estética da existência que o próprio Kierkegaard viveu, enquanto se entregava a uma vida boemia pelos salões e teatros de Copenhagen. O sedutor kierkegaardiano desempenha o seu papel na época da juventude, pautada pelos padrões da vivência estética, em que a ópera se revela mais real do que as próprias contingências do quotidiano com suas responsabilidades e deveres. De fato, o esteta rejeita o compromisso, move-se de uma forma subtil por entre os prazeres delicados da música e da arte e, nessa linha de ação, a mulher é simplesmente um dos pólos no conjunto de uma multiplicidade de prazeres. Johannes, o diarista desta obra, conta o modo como seduziu a inocente e pura Cordélia, os ardis de que se serviu para se insinuar na sua esfera social, o modo como lhe foi captando a atenção, principalmente quando se anulava enquanto espectador interessado, a astúcia que o fez cativar a tia para chamar a atenção da sobrinha e como, finalmente se tornou seu noivo. No entanto, este assumir do noivado não interessava ao nosso esteta, pois uma vez seduzida, qualquer jovem perde o interesse para o sedutor, pois o noivado e o casamento não podem inscrever-se nos contextos da fruição artística. Ele não quer possuir, muito menos conquistar ou conduzir até ao altar o objeto de sedução: o seu prazer reside no deleite de absorver o rubor da face da jovem enlanguescida, o tremor do lábio, o agitar dos cílios… e, embora Cordélia seja a protagonista por excelência desta obra, o certo é que Joahnnnes lança as suas redes sobre outras jovens, deleita-se, no mero fruir da contemplação, nessa "concupiscência espiritual" tão cara ao espírito superior do joven Sören. O noivado, porém, como antecâmara do casamento revela-se destruidor do espírito de pura estética que anima o sedutor Johannes e é por isso necessário que os liames se desatem, já que a hora de assumir compromissos ainda não chegou. Quando esse momento se anunciar, cessa de todo o espírito estético como cessa a fruição inefável dos actos de sedução: o esteta deve romper com a vida boemia, instalar-se no geral e renegar o donjuanismo que antes o animara. Sabemos que o jovem Sören tentou, em vão, aderir ao comprometimento ético com a bela Regina Olsen e, se não veio a consegui-lo não foi porque o motivasse o regresso à vivência própria do período estético - os saltos existenciais não se dão para trás - mas porque a sua vocação de pensador metafísico o atirou para a solidão da missão religiosa.

Acredito que Kierkegaard é uma vez mais uma boa dica sabatina. Que esse sábado outonal seja gostoso e nele vivamos o melhor prenúncio de domingo. Para amanhã uma daquelas blogadas dominicais

11 comentários:

  1. Mester Chassot
    Me ponho curioso sobre Kierkegaard com tua dica sabatina. Em breve vou ver se consigo visita-lo nas livrarias. Hoje estreio Mestre Chassot na capa de meu Blog, numa homenagem a um dos transformadores de minha trajetória. Abraços do JB.

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  2. Mestre Chassot, obrigado por, mais uma vez, brindar-nos com uma dica sabatina kierkegaardiana.

    Diário de um Sedutor parece diferir bastante das duas obras anteriores, e o cenário em que se desenlaça parece ser tal qual o protagonista da obra: sedutor.

    Ótimo dia.

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  3. Meu caro Jairo,
    obrigado pela homenagem na abertura de http://profjairobrasil.blogspot.com/. Estamos muito bem na foto nos jardins do Edifício San Juan onde esta a Morada dos Afagos.
    Obrigado, por me teres como um dos colaboradores na construção de tua bonita História.
    Um preito de continuada admiração
    attico chassot

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  4. Meu caro Marcos,
    estou chegando de Osório, donde trago mandolates e rapaduras típicas do litoral gaucho. Em troca deixei algumas interrogações para professoras e professores de dois cursos de especialização que hoje se iniciam. Contei a história de Leonardo de Parma, ao referir-me a apocrifia presente na Escola hoje.
    Quanto ao “Diário de um sedutor” te recomendo entusiasticamente. E o leias como ‘Um manual para ser um bom sedutor’.
    Com votos de um bom fim de semana,
    a gratidão do
    attico chassot

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  5. Olá, Professor!

    Permita-me um comentário destituído de relação com a blogada de hoje: há 14 anos ocorria o massacre em Eldorado dos Carajás.

    Ao meio-dia, na esquina democrática, organizamos uma intervensão para que a cruz de Eldorado e tantas outras não caiam na banalidade...


    abraços e desculpe intrometer-me no blogue com outros assuntos, mas sou movida pelo compromisso com a memória, fatos como este não podem cair no esquecimento

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  6. Muito querida Marília,
    oportuníssima tua evocação. Considero uma omissão deste blogue não ter tarjado de luto a edição de hoje. Obrigado por ajudares que não esqueçamos o pecado que não é apenas do latifúndio. Ele também é nosso por omitirmo-nos na denúncia.
    Com agradecido respeito por tu seres uma leitora tão atenta,
    attico chassot

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  7. Estou começando a ler este livro, está sendo uma aventura incrivel desde o inicio!!!

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  8. Estimada Pandora,
    tu ratificas que página de blogue velha, não é como jornal de ontem: ‘só serve para embrulhar peixe’, Buscaste uma blogada abrilina para evocar Kierkegaard, que realmente é excelente.
    Desejo-te sucesso com o saboroso filósofo dinamarquês e te convido para de vez em vez visitar esse blogue diário que aos sábados sempre traz dicas de leitura,
    Com estima e seja bem vinda,
    attico chassot

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  9. Olá mestre chassot, estou me preparando para um mestrado em kierkegaard, mas as pessoas que estão em minha volta não tem como me ajudar em meu trabalho será se você poderia?
    ronaldo@vallee.com.br

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  10. Muito estimado Ronaldo,
    Obrigado por tua presença neste blogue. Meus conhecimentos de Kirkegaard decorreram da curiosidade de lê-lo depois de em fevereiro e março deste ano ter sido professor na Ålborg Universite.
    Sou apenas um leitor diletante que se encanta com filósofo.
    Lamento que minha resposta deva frustrá-lo.
    Com continuada disponibilidade
    attico chassot

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  11. Estou muito ansioso pra começar a ler Diário de um Sedutor.Sei pouco sobre Kierkegaard,mas com a sua síntese percebi o quanto ele deve ser bom.
    Só não encontro em lugar nenhum esse livro!Por favor,se puder me indicar alguma loja online,eu agradeço!

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