Porto Alegre Ano 4 # 1352 |
Voz, você não precisa perder para dar valor! Desde 2003, instituiu-se o dia 16 de abril como o Dia Mundial da Voz com o intuito de chamar a atenção do público em geral sobre a importância da voz na comunicação. Uma característica exclusivamente humana, a voz é o produto da necessidade de se comunicar e interagir com os outros. O mau uso ou abuso vocal pode acarretar problemas de saúde e comunicação, sendo a rouquidão um dos principais sintomas. O tratamento com um profissional capacitado em Fonoaudiologia, assim como a prática de cuidados simples como a ingestão de água, pode solucionar essas dificuldades. Como suponho que a maioria de meus leitores sejam professoras e professores, vale convencer-nos da frase que é mote: Voz, você não precisa perder para dar valor!
Como já anunciado na quarta-feira – nessa inusual partição de um texto em três edições, a blogada hoje é a última parte do artigo do conceituado vaticanólogo John Cornwell, onde um aniversariante desta sexta-feira (Bento 16) é alvo de questionamento. Acerca da formação inadequada dos padres trazida pelo autor, quero oferecer algo de minhas evocações. Não sem dificuldades, em livro que preparo para celebrar no próximo março meus 50 anos de magistério, refiro meus anos de seminário, que sempre busquei borrar – isso justifico ali –. Do capítulo que comento meus cinco anos de seminário: Bom Princípio 1950/51 (11 e 12 anos) e Gravataí 1052/54 (13, 14 e 15 anos), antecipo aqui alguns parágrafos do mesmo como prelúdio a terceira parte do texto ‘De má fé’ trazido da Folha de S. Paulo.
Dos tempos de Gravataí lembro algo que então não entendia e hoje (escrevo esse texto em 2010) está muito presente na imprensa: a pedofilia entre os padres. A precaução/ a existência tem dois detalhes que agora, ou mais recentemente passam a antenar-me. Um, as chamadas ‘amizades particulares’ e outro as ‘súbitas transferências de padre e a expulsão de seminaristas’.
Acerca do primeiro, de repente, sem que houvesse qualquer explicação, recebíamos a informação que estávamos proibidos de falar com um determinado colega. Recordo, por exemplo, que eu tinha alguns amigos, que por não serem da turma que falava alemão entre eles, me eram companhias mais simpáticas. Então vinha a determinação: “Vocês estão proibidos de falar um com o outro!” Isso mesmo que estivéssemos na mesma sala de aula, comêssemos na mesma mesa, tivéssemos recreios no mesmo pátio... Não imaginávamos o porquê e, portanto, isso era muito complicado e vivido como uma injustiça: Por que sou proibido de falar com meu amigo?” Claro que agora entendo. Temiam que tivéssemos relações homossexuais, que então nem sabia existir. O mais folclórico foi quando foi me proibido falar com colega que eu detestava e até o tinha como desafeto. Assim porque eu não podia falar Alberto que era um dos meus melhores amigos e também não podia falar com Xerxes, que até detestava.
Outro detalhe que fazia o mundo seminarístico pleno de interrogantes era quando chegava ao seminário uma autoridade maior, o arcebispo, por exemplo. Então, se expulsava dois ou três colegas, com os quais não se podia ter mais qualquer contato, mesmo em período de férias (pois eram tidos como renegados) e um padre era subitamente transferido. Mesmo que os excluídos tivessem que jurar guardar o sigilo, depois soube que era porque entre o padre e os expulsos teria havido ‘intercurso carnal’, para usar uma palavra do direito canônico, como cabe neste relato. Claro que essas revelações só puderam ocorrer quando, passado muitos anos, as vítimas da prepotência do sedutor e da autoridade que expulsava, deixaram de acreditar nas mesmas e se auto-libertaram do jurado sigilo.
Depois destas minhas evocações a conclusão do texto.
Formação inadequada
O processo de triagem raramente envolve leigos, incluindo mulheres, que tenham perícia adequada. A rotina regulada dos seminários, com suas preocupações devocionais e uma vida comunitária agradável, totalmente supervisionada, é uma preparação irreal para a vida sem supervisão na solidão gregária experimentada por muitos padres paroquianos, que vivem sós, sem o apoio de um relacionamento significativo.
A formação de relacionamentos maduros e duradouros, conhecidos como "amizades particulares", é ativamente desencorajada no seminário. Se Bento 16 tivesse citado Newman como um exemplo de sacerdócio, poderia ter proposto uma preparação e um estilo de sacerdócio mais adequados às pressões dos pastores católicos no mundo moderno.
Quando o corpo de Newman foi exumado em preparação para sua beatificação, a mídia ficou surpresa pela notícia de que ele tinha sido enterrado com Ambrose St. John.
Essa circunstância foi usada para alegar que eles tinham um "relacionamento gay". Na verdade, Newman, quaisquer que fossem suas tendências sexuais, certamente viveu uma vida de castidade. Mas acreditava que um padre deveria desfrutar de uma companhia permanente, com todo o afeto mútuo e o apoio que um tal relacionamento implica.
Na visão de Newman, a formação para o sacerdócio deveria ser feita no trabalho em paróquias, mais que em uma casa monástica fechada. Uma vida pastoral de sacerdote, segundo Newman, deveria ser de uma domesticidade normal; ele deveria comer bem, tirar folgas frequentes, desfrutar seu vinho e alimentar muitas amizades, com homens e mulheres.
Seu legado dificilmente combina com o conservadorismo do papa Bento 16. É totalmente possível, na verdade, que sua beatificação indique uma tentativa de sanificar seu legado, mais que adotar os aspectos críticos a Roma.
Podemos esperar, com a beatificação, versões convenientes das visões críticas e liberalizantes de Newman sobre a Igreja Católica. É improvável que elas ofereçam consolo aos abusados, mas poderão contribuir para o longo processo de cura que está pela frente, que deve começar pela admissão da responsabilidade compartilhada pelo sacerdócio disfuncional da igreja, chegando até o topo.
Meus votos de uma excelente sexta-feira a cada uma e cada um. Eu já prelibo o almoço com meu trio ABC. Nesta tarde, o Grupo Interdisciplinar de Filosofia e História das Ciências, do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (GIFHC-ILEA-UFRGS) do qual faço parte deste a fundação, dará início ao seu ciclo 2010 de conferências sobre história e filosofia das ciências. As atividades são abertas ao público, sem ônus. São especialmente recomendadas para professores, estudantes e cientistas.
As conferências e debates ocorrem sempre às sextas-feiras, 14h no Auditório do ILEA - UFRGS, prédio 43322, Campus do Vale, Av. Bento Gonçalves, 9500, Porto Alegre, RS. Hoje o tema será “Na trilha das estrelas: as contribuições da Astrofísica para os modelos atômicos no início do século XX” com o professor Dr. Cesar Valmor Lopes (FACED-UFRGS). Terei muita satisfação de ouvir o César, que foi meu aluno. A todos um bom shabath.
ALEXANDRE REZENDE TEIXEIRA escreveu
ResponderExcluirBom dia estimado professor!
Desculpe me enviar comentários para este e-mail, e porque não consigo acessar o post do site.
Mais uma vez tenho que lhe dar os parabéns pelo excelente texto. Desconhecia absolutamente estas coisas lamentáveis.
Um abraço e שמח יום שבת
ATTICO CHASSOT respondeu
Meu caro Alexandre,
obrigado pelo comentário ao texto de hoje. Saiba que para mim é difícil fazer relatos como o de hoje.
Para postar comentários, parece que o mais fácil é ter uma conta no Gmail.
Meus desconhecimentos de hebraico foram salvos pelo tradutor do Google e vejo que שמח יום שבת significa um feliz shabath.
Encantado com teus votos os retribuo
attico chassot
Mestre Chassot, nada melhor do que o conhecimento empírico para uma melhor empatia de dadas situações.
ResponderExcluirO antagonismo das posturas do Papa Bento XVI e do Padre Newman nos faz refletir sobre qual será a melhor a ser adotada pelos religiosos católicos.
Ótimo dia.
Meu caro Marcos,
ResponderExcluirconsidere, por favor, com reserva a ‘minha assim chamada experiência empírica”. Deve ser muito interessante a não influencia do assim chamado ‘Advogado do diabo’ no processo de beatificação (por um erro de digitação escrevi primeiro:bestificação) do cardeal Newman. Busco uma biografia do mesmo.
Acabo de chegar do Campus do Vale, nas bordas de tua Viamão.
Um bom fim de semana e para amanhã: Kierkegaard é uma boa pedida.
attico chassot
Escreveu: MARCOS VINICIUS PACHECO BASTOS
ResponderExcluirMestre Chassot
Sua resposta me trouxe um questionamento: será que, no processo de beatificação, existe, assim como na escolha dos cardeais "preferiti" para a ascenção ao Papado, um cardeal denominado "advocatus diaboli", que trata de fazer um levantamento da vida dos religiosos, afim de encontrar todas as possíveis máculas em seu passado? Se o senhor souber, ficaria grato com uma resposta, MVPB
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Respondeu ACHASSOT
Meu caro Marcos,
resposta sim. Nos processos de canonização (para receber o título de santo) e naqueles que o antecedem: para receber o título de beato e antes de venerável a figura do ‘Advogado do Diabo’ é a figura sempre importante, e muitas vezes decisiva, para o não prosseguimento do processo. Agora encontro que O ofício de Advogado do Diabo foi estabelecido em 1587 e foi abolido pelo Papa João Paulo II em 1983. Isto causou uma subida dramática no número de indivíduos canonizados: cerca de 500 canonizados e mais de 1300 beatificados a partir desta data, enquanto apenas houvera 98 canonizações no período que vai de 1900 a 1983. Isto sugere que os Advogados do Diabo, de fato, reduziam o número de canonizações. Alguns pensam que terá sido um cargo útil para assegurar que tais procedimentos não ocorressem sem causa merecida, e que a santidade não era reconhecida com muita facilidade.
Há um romance de ficção famoso ‘O Advogado do diabo’ do romancista australiano Morris West (1916-1999) que me emocionou há muitos anos. Vou ressuscitá-lo.
Um bom sábado
attico chassot
carissimo vaticanologo como ja informado caso tenha interesses podemos escrever um livro sobre as minhas atividades no vaticano ,em confissao commissa ,porisso o titulo de HOMEM BOMBA DO VATICANO .e DA CURIA ROMANA e seus cardeais ok
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