Porto Alegre Ano 4 # 1339 |
Um sábado adjetivado como santo. Recordo-o chamado de Sábado de Aleluia. Esta é uma data que foi/é marcada de fortes tradições populares e religiosas. Em anos anteriores já comentei aqui a ‘malhação de judas’ marcadas por preconceitos racistas e ódios a classes. Também já evoquei aqui as cerimônias religiosas que marcam a passagem do período de luto para tempos de regozijo. Lembro que em minha infância o aleluia era já cantado na manhã de sábado, depois esses ritual passou para a noite de sábado. O solene entoar do aleluia era acompanhado do novo soar dos sinos e campainhas mudos desde a sexta-feira, quando estas haviam sido substituídas pelas matracas. Algo espetacular desse aleluia era a queda dos panos roxos que cobriam as imagens desde o domingo da Paixão. Recordo que em um ano me envolvi na amarração dos panos roxos com tênues fios de linha para serem puxados e desabados na hora do aleluia. Devo registrar que evoco com saudades esses ritos.
A dica de leitura pascoalina vem inspirada na coincidência da páscoa judaica e cristã no mesmo primeiro plenilúnio outonal. Trago a recomendação de O penitente, Joseph Shaphiro, imigrante judeu, que vivera perseguições com o nazismo, torna-se muito bem sucedido em Nova Iorque. Quando traído pela mulher e pela amante, decide mudar de vida: angustiado em suas relações com o Criador, vai a Jerusalém e se converte em um judeu ortodoxo fundamentalista, mas com continuados problemas em suas crenças.
Isaac Bashevis Singer (1904-1991), um escritor estadunidense nascido na Polônia, autor de muitas obras em iídiche envolvendo a temática do judaísmo e por elas laureado com o prêmio Nobel de Literatura em 1978, é conhecido, entre outras obras, por ‘Yentl, o menino da Yeshiva’, que originou um filme de sucesso ‘Yentl ‘(1983) que conta a história de uma moça judia se transveste de rapaz para poder estudar em uma Yeshiva – escola especializada para rapazes estudiosos das Escrituras - no qual o papel-título é estrelado por Bárbara Streisand, que também dirigiu e produziu a versão cinematográfica. Já tinha pautada essa resenha para hoje, quando na tarde de quinta-feira, num zapear pela televisão a Gelsa chega a Yentl, que reassistimos com redobrada emoção. Este livro/filme refiro em minhas falas quando acentuo o nosso DNA judaico, que marca como nos fizemos machistas. Singer mostra no filme como as mulheres era vedado os estudos do Talmude [livros básicos da religião judaica, contém a lei oral, a doutrina, a moral e as tradições dos judeus, surgido da necessidade de complementar a Torá, foi editado em aramaico como um extenso comentário sobre seções da Mixná, reunindo textos do século 3º até o século 5º].
Da temática de Isaac Bashevis Singer de o Peregrino, algo muito querido ao judaísmo é a relação com o Criador e as verdades reveladas nos livros sagrados. Não é sem razão que os judeus são chamados ‘o povo do livro’. ‘O Penitente faz das (des)crenças nas revelações bíblicas e de outros escritos rabínicos o sustentáculo para nos envolvermos e, mais uma quase eterna disputa entre o bem e o mal. Esse conflito é vivido por Joseph Shapiro, imigrante judeu, que vivera perseguições com o nazismo. Este se torna um muito bem sucedido homem de negócios em Nova Iorque, e então, vê-se traído pela mulher e pela amante. Decide mudar de vida: vai para Jerusalém e torna-se um judeu fundamentalista, mas não sem continuadas descrenças no Criador.
‘O Penitente confirma a justificativa do Comitê do Prêmio Nobel, ao atribuir a Singer a premiação: “apaixonada arte narrativa que, com raízes na cultura judaica polonesa, revela a condição humana universal”. Paradoxalmente, pode-se dizer que este é um livro denso, mas leve. Não há como não nos envolvermos nas profundas especulações religiosas a respeito dos textos sagrados, apresentadas com um muito humor e picardia.
A edição brasileira faz parte da Coleção LP&M Pocket, que com razão apensa a informação ‘A maior coleção de livros de bolso do Brasil’, pois esta já se aproxima de meio milhar de títulos. A capa, como a maioria dos títulos desta coleção, é primorosa; esta é de autoria do também artista plástico Ivan Pinheiro Machado. E ‘O Penitente tem uma razão a mais para se fazer dele uma recomendação entusiasmada aqui neste blogue pode-se dizer que se encontra mostruários da Coleção LP&M Pocket em qualquer das boas casas do ramo no Brasil.
Que o recesso pascoal seja o melhor. Que crentes e não crentes se empolguem com o júbilos dos aleluias. Amanhã, para aqueles que crêem será o momento maior dessa semana, Para o esperado domingo, este blogue, ao invés de guloseimas de chocolate, oferecerá mais alguns comentários de minha Semana Santa andaluz em 2002. Para tal um convite de leitura, aditado de votos de frutuoso sábado para cada uma e cada um.
Uma honra ver meu nome citado em uma postagem do senhor, Professor!
ResponderExcluir^^!
E acredito que tenha sido realmente abençoada cada dedicatória! Ainda terei a minha! hehehe! Espero adiquirá-la com o senhor no ENEQ este ano!
=]
Quanto ao livro indicado, confesso que não o conheço. Mas pelas palavras e indicações do mesmo, já despertou minha curiosidade!!
Aleluias neste sábado, ao senhor e toda sua família!!
p.s.: Um convite para o senhor ler esta 'historinha', que recebi de uma aluna e acabei postando no QUIMILOKOS.
ResponderExcluirDivirta-se!
hehehe!
Ops....esqueci o link.
ResponderExcluirÉ este:
http://quimilokos.blogspot.com/2010/04/era-uma-vez.html
Abraços!!
Querida colega Thaiza,
ResponderExcluiramealho em uma resposta teus três comentários.
Como autor, uma das melhores ações é autografar um livro. Curto escrever (= desenhar) o nome colocar algo muito pessoal. Claro que na tarefa que descrevi ontem esse pessoal se esboroou em parte. No ENEQ, em Brasília será um prazer estar contigo. Essas sãos as principais vantagens desses encontros.
Li teu “Era uma vez” realmente uma gostosa maneira de chamar o sono e aprender.
Aleluia pleno de paz
attico chassot
Mestre Chassot, Boa Noite.
ResponderExcluirQue alegria volto de uma pequena viagem feita com a minha Família (Esposa, Filho e Filha)e ao acessar o vosso Blog, verifico suas dicas de leitura.
Vejo também vosso comentário sobre a semana pascoal e se me permites. Vejo a páscoa como uma passagem por esta terra, por este planeta. Páscoa, portanto, é a passagem, mas não a passagem desta vida para outra, mas de toda a passagem por esta vida, com todos os seus anos de conhecimentos, aprendizagens, vivências e experiências. Portanto, a Páscoa é, em suma, a comemoração da VIDA!
Feliz páscoa para você e sua Fmília Mestre!
Meu querido colega Luís Carlos,
ResponderExcluirnessa noite quase à hora de soar aleluias lia para minha esposa uma citação que está na Folha de S. Paulo de hoje que diz “Um texto só se concretiza plenamente quando lido”. Pois aí em Goiás tu concretizas a blogada de hoje. Aliás, querem os deuses que me amealham leitores que os comentários na blogada de hoje seja de dois goianos que espero encontrar no ENRQ em Brasília.
Obrigado por me leres e obrigado por deixares marcas de tua passagem.
Uma boa noite de vigília pascal para ti, tua esposa filho e filha,
attico chassot
Mestre Chassot, o sábado de alaluia parece ser, realmente, abençoado, pois os ventos frscos deram uma sensação agrádavel à tarde de hoje. Por pouco não choveu, e, seisso ocorrer amanhã, o velho ditado italiano terá sido contrariado, pois terá chovido nem ramos e nos ovos.
ResponderExcluirQuanto à dica de leitura de hoje, parece que um romance tratando do eterno maniqueísmo - na visão religiosa - é algo mais do que apropriado para a data de hoje.
Ótimo dia.
Meu caro Marcos,
ResponderExcluirna igrejinha do meu arrabalde os sinos já tocaram aleluia. Afora se passou, mais uma vez da morte a ressurreição.
Aliás, hoje li acerca disso uma bem posta análise de Kierkegaard acerca do Deus que faz os judeus culpados de sua morte que me garantiu chão para meu ateísmo.
Si no piove in rami, piove in ovi. Logo aguardemos. Agora sopra um vento com gosto de chuva.
Obrigado por com tua leitura dares materialidade ao meu texto.
Com aleluias a amizade do
attico chassot
Muy querido Profesor Chassot,
ResponderExcluirPara probar ~una vez más~ que el blog no es descartable como un periódico (que se usaba para envolver peces una vez leído), anoto un comentario de este día: me llama la atención que la capa del libro se la atribuya al artista plástico Iván Pinheiro. En realidad, es una pintura de Moshe Shagal, más conocido como Marc Chagall y se titula "Crucifixión Blanca". La representación del Dios muerto como ser humano conmueve, más aún por tratarse de un pintor judío que con ello trata de expresar ideas ~valores, dolores, problemáticas~ universales.
Un saludo cariñoso,
Estimada y muy atenta lectora Matilde,
ResponderExcluiraquí diríamos “Punto para ti!” pues estás correcta. El equívoco es meo. La capa del libro es una creación de Ivan Pinheiro Machado aprovechando un cuadro de Marca Chagal. Como ves yo no he sido completo en los dados. Ivan (que mora en mismo edificio que yo) es el PM del nombre de la Editora L&PM. El es un muy bueno pintor, todavía está a anos-luz de Chagal. Este es de los artistas que yo más admiro. A propósito, ele unos años antes de morir, con 98 años dice de su mujer: “Tu amor me hace rejuvenecer!”
Muchas gracias por ser tan atenta lectora de mi blog y colaborar con comentarios tan pertinentes.
Con admiración y gratitud
attico chassot