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quinta-feira, 1 de abril de 2010

01* Dia dos bobos // Endoenças

Porto Alegre Ano 4 # 1337

E março já é o mês passado nesse voraz passar do tempo. Com disse março foi de colecionar originalidades em minhas falas. Primeiro, foi aquela babélica que referi ontem aqui, em Ålborg, cidade de meus recordes de temperaturas negativas: –14ºC; depois foram as duas palestras ‘A Ciência é Masculina? É, sim senhora!’ uma muito exótica no Bar Farofa e outra também fora da academia, na Fundação CEEE e depois, uma aula-magna ‘abençoada’ pelo pastor e traduzida para LIBRAS e para encerrar uma palestra na Fundação Getúlio Vargas em fino hotel paulista, entremeada entre um café e um almoço.

Mas agora é um novo mês e por um primeiro feliz abril a cada uma e cada um de meus amáveis leitores. Hoje em minha infância era o ‘Dia dos Bobos’ quando eram dados trotes em presentes e/ou notícias. Há muitas explicações para o 1º de abril ter se transformado no Dia das Mentiras ou Dia dos Bobos. Uma delas diz que a brincadeira surgiu na França. Desde o começo do século 16, o Ano Novo era festejado no dia 25 de março, data que marcava a chegada da primavera. As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1 de abril. Hoje essas comemorações parecem que estão em desuso.

Esse é um mês de celebrações familiares. Dos meus cinco netos, três são abrilinos e fazem 5, 4 e 3 anos. O Guilherme, dia 8; a Maria Clara, em 26; e o Antônio, em 19. A Clarissa, mãe da Maria Clara e minha caçulinha, faz 30 anos, dia 25. A Gelsa e eu, no mesmo dia 25, comemoraremos 23 anos do inicio de nossa história.

Mas como já acenara quero aproveitar esses dias da semana Santa para evocações. Quando em uma de minhas falas, trago três justificativas para comparar dois mentefatos culturais (Ciência e Religião) cito como um deles estarmos – rentes e não crentes – imersos em um mundo religioso. Talvez o melhor exemplo disso é a ‘guarda’ dessa semana. Quantos amanhã – dia de jejum religioso – comerão lautos manjares de peixe.

Destes dias, em minha infância, lembro de duas palavras, hoje apagadas, que apareciam no calendário e me faziam interrogante: na quinta-feira: endoenças e na sexta-feira-santa: trevas. Uma e outra me assustavam e aprendi depois registravam as cerimônias religiosas que se realizam nas duas datas. Como o Dia das Mentiras ou Dia dos Bobos estas nomeação estão em desuso.

Meu imaginário está fortemente povoado pela mais emocionante semana santa de minha vida: aquela, na qual fizemos em 2002 um périplo de sete dias por Córdoba, Granada, Cádiz e Sevilha, durante o período que a Gelsa e eu fizemos pós-doutoramento em Madri. A Andaluzia estava então sob nossos desejos turísticos.

A Andaluzia se estende ao longo do sul da Espanha, tem, além das cidades

antes mencionadas, muitas outras cidades históricas e vilarejos de casas brancas. Há, ainda, na região reservas naturais (Parque Nacional de Doñana), desertos como os da região de Almeria. Há contrastes que são atrações: a Sierra Nevada, com as mais famosas estações de esqui da Europa e as praias da Costa do Sol no Mediterrâneo e também praias no Atlântico, pois na região está o estreito de Gibraltar, que faz a Europa distante da África apenas 13 km. Vale referir que Gibraltar é um território britânico no sul da Espanha. Mas a Espanha tem dois enclaves em Marrocos – Ceuta e Melia – e também dois territórios insulares – as três ilhas Baleares no Mediterrâneo e as sete ilhas Canárias (a 1050 km a sudoeste de Cadiz e a 150km de Marrocos). Os gibraltarenhos se manifestaram em tempos recentes pela sua não anexação a Espanha; há aspirações de independência.

O histórico Guadalquivir, que recordamos de estudos da assim chamada descoberta da América ou dos romances que têm como cenário os exuberantes sete séculos de domínio muçulmano na Península Ibérica, hoje ainda é via uma fluvial muito importante da Andaluzia. É nesta região que se encontra o maior legado da presença árabe no ocidente.

Na Semana Santa da Andaluzia é atração, não apenas para os espanhóis de

outras regiões, mas para turistas de várias partes do mundo. Já há um tempo, elegêramos que aproveitaríamos o recesso acadêmico de 10 dias da Semana Santa na Andaluzia. Inicialmente, é preciso dizer que se esta nossa decisão foi com uma antecipação de dois meses, foi muito pequena. Hotéis para Semana Santa andaluz se reservam, no mínimo meio ano antes, para se poder ter alguma opção de escolha. Aliás, os hotéis na região, no período, mesmo reservados com antecedência, são muito mais caros do que no resto do ano, como as próprias tabelas dos hotéis indicam. É algo como procurar um hotel em Salvador, na Bahia, para os dias de carnaval.

Nosso programa, a partir das muitas opções de diferentes cidades e por possibilidades de hotéis e conexões ferroviárias, ficou assim definido: iniciaríamos no Domingo de Ramos por Córdoba, na segunda e na terça-feira iríamos a Granada, na quarta-feira a Cádis, para concluirmos, na quinta e na sexta-feira em Sevilha, retornando à Madrid na noite de sábado.
Foram dias prenhes de envolvimento por uma das mais intensas manifestações de culturais dos espanhóis: a religiosidade. Assim aqui estão alguns excertos de um texto bem mais extenso.
Na madrugada de domingo de ramos, 24 de março de 2002, tomávamos o primeiro metrô, para a movimentadíssima Puerta de Atocha, onde às 7h em um Ave, – trem de Alta Velocidade Espanhol–, partíamos cheios de expectativas. Às 10h30min estávamos em Córdoba, uma cidade com cerca de 200 mil habitantes. O perfume das laranjeiras floridas nas ruas logo nos contagiou. Os preparativos nas ruas para a primeira procissão eram intensos.
Uma primeira novidade: haveria uma procissão que iniciaria às 11h e se prolongaria até às 16h e outras cinco durante a tarde; sendo a primeira, partir da 15h30min e as últimas terminariam à 1h da madrugada, ou seja, mais de 13 horas processionais. E vimos que haveria mais 6 procissões programadas para segunda-feira (Lunes Santo); 5 para terça-feira (Martes Santo); 5 para quarta-feira (Miercoles Santo); 6 para quinta-feira (Jueves Santo); 6 para sexta-feira (Viernes Santo) e uma para o Domingo de Páscoa.
As procissões, que ocorrem durante todos os dias da
Semana Santa, em todas as cidades e mesmo em pequenos povoados, são centrais nas comemorações destes dias festivos. Tivemos os primeiros contatos com os “nazarenos” ou “penitentes”, que passariam a integrar nossa realidade durante toda a semana. Estes trajam longas túnicas com cíngulos, revestidas por mantos e longos chapéus cônicos – estes chapéus são muito semelhantes àqueles que usavam os submetidos aos tribunais da Inquisição –, vestem uma cobertura sobre o rosto, com apenas dois buracos na altura dos olhos. Estes hábitos ostentam bordados com as insígnias da irmandade. As vestes são de diferentes cores, predominando o preto e o roxo escuro, mas existem aqueles que são brancos, verdes, azuis ou vermelhos, havendo também possibilidades de combinações de cores entre túnica, manto, chapéu e cíngulo. Os nazarenos podem ser homens, mulheres, jovens e mesmo crianças. As crianças além de nazarenos são chamadas de hebreus. A grande maioria dos participantes de uma procissão, mesmo as crianças, leva grandes velas.
Aprendemos também que cada uma das diferentes procissões (por exemplo, as 35

desta semana em Córdoba) era responsabilidade de uma cofradía ou irmandade, que é uma entidade civil que se reúne de uma maneira sistemática e permanente, com diferentes fins, por exemplo, assistência social. Estas confrarias têm em um único dia do ano, na semana santa tem seu momento mais importante, com a saída em procissão. Os membros de cada confraria pagam uma contribuição mensal e ainda arcam com as despesas da própria roupa na procissão anual da Semana Santa.
Entre as muitas descobertas em Córdoba, visitamos emocionados uma sinagoga judaica do século 14. Em toda Espanha só restou esta e aquela que se preserva em Toledo. Admiramos também a homenagem que Córdoba presta ao grande Maimónides (1135-1204), um cordovês que foi médico, talmudista e filósofo judeu, que buscou conciliar a filosofia judaica com a filosofia grega, e que teve então muita influência na filosofia judaica, cristã e árabe. Não posso negar que não tenha me emocionado ao posar ao lado de sua estátua.

Com votos de uma muito boa quinta-feira-santa um convite para amanhã lermos aqui algo Funéreo como sexta-feira-santa’.

4 comentários:

  1. Muy querido Profesor Chassot,
    No sólo en el idioma hay diferencias, también las hay en las fechas o en la forma como se viven las distintas religiosidades.
    En Ecuador el día de los “Santos Inocentes” o de los bobos, es el 28 de diciembre, cuando se recuerda la crueldad de Herodes con los niños de Belén. Ese día aparecen en los periódicos noticias falsas o de broma (como por ejemplo, que el presidente de turno renuncie). Pero, es mucho menos celebrada que antes, en eso ocurre igual que en Brasil.
    Acá las procesiones por la Semana Mayor (o Semana Santa) son muy comunes. Las más famosas son la Procesión de Jesús del Gran Poder de Quito, que cuenta con cucuruchos (penitentes vestidos tal cual en Andalucía) y Verónicas. La otra es la Procesión del Cristo del Consuelo de Guayaquil, con decenas de miles de participantes. En algunas poblaciones costeras, se sumerge una cruz en el mar como símbolo de purificación.
    Tengo múltiples recuerdos de mi niñez ligados a estos días. De chica, nos prohibían bañarnos en el mar so pena de volvernos sirenas y era común hacer las caminatas penitenciales, vestirse de negro o morado y visitar 7 Iglesias el Jueves Santo. Ahora, las playas están llenas de jóvenes que no temen perder las piernas por una cola de pez y nadie lleva velo.
    Pero, si vamos a Málaga, seguramente nos toparemos con Antonio Banderas vestido en un papel que hace de corazón: el de Mayordomo del Trono de la Virgen de las Lágrimas y Favores. Que tenga unas bendecidas fiestas pascuales,

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  2. Estimada Matilde,
    un relato tan precioso como ese que brindas a mis lectores vale de per si por una blogada de las mías.
    Que tenga tú y los tuyos una Semana Mayor con las más selectas bendiciones.
    Un afago de
    attico chassot

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  3. Mestre Chassot, creio que, para um historiador, é quase impossível olhar para as fotos da blogada de hoje e não lmebrar da Ku Klux Klan nos EUA, com sua atitude racista e criminosa (embora o racismo não fosse crime nos EUA naquela época). Felizmente, os Nazarenos tem uma postura bem diferente.

    Na espera pelo domingo de Páscoa, e pelo saborear dos peixes amanhã, desejo a todos um ótimo dia.

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  4. Muito caro Marcos,
    afortunadamente os ‘nazarenos’ os ‘costaneros’ as ‘madalenas’ (que refere Matilde) e demais penitentes têm propósitos bem dos facínoras da Ku Klux Klan nos EUA. Volto a falar da Semana Santa andaluz domingo.
    Agradeço os votos para saborear um bom peixe amanhã. Fa-lo-ei, com saudades dos hering escandinavos. Não te parece genial que Porto Alegre tenha feito 238 anos e sua feira do peixe tenha sua 230ª edição esse ano.
    Renovo meus votos de um ’hermoso’ plenilúnio na tua bucólica Viamão.
    attico chassot

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