ANO
7
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EDIÇÃO
2430
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A edição desta Quinta-feira (Santa) não rima com a solenidade
da data. Espraio-me no ensino sujo lembrado ontem aqui. Trago um artefato
desconhecido de gerações mais jovens.
Falo de ‘fossa asséptica’ trazendo excertos do
capítulo: A educação nas ciências: para
além das disciplinas que está no livro Perspectivas
de investigação no campo da Educação Ambiental & Educação em Ciências [HENNING,
Paula Corrêa et alii, Rio Grande: Furg, 2011a ISBN 978-85-7566-168-0]
Quando refiro que não queremos um ensino asséptico estou
defendendo um ensino sujo. A sujeira não existe quando há assepsia. Vale
lembrar em que substantivo usualmente está o substantivo séptico: fossa
séptica. A fossa presente em situações onde não esgoto cloacal.
As fossas sépticas são
unidades de tratamento primário de esgoto doméstico
nas quais são feitas a separação e a transformação físico-química da matéria sólida
contida no esgoto. É uma maneira simples e barata de disposição dos esgotos indicada,
sobretudo, para a zona rural ou residências isoladas. No Rio Grande do Sul,
essa é maneira mais comum na maioria dos balneários litorâneos. Aqui algo
lateral: as fossas devem ser sépticas, pois funcionam como biodigestores para
degradar as fezes, logo é desrecomendável colocar no vaso sanitário produtos de
limpeza, especialmente bactericidas, pois esses vão exterminar a flora
bacteriana que tem na fossa e as fezes não serão degradadas. Séptico
(contrário de asséptico) significa sujo. Você encontra este adjetivo associado
ao substantivo fossa. A fossa deve ser séptica, pois ela funciona como um
estômago, para fazer a digestão das fezes. Quando colocamos detergentes,
principalmente alcalinos, estamos destruindo a fauna bacteriana, e a fossa
deixa de ser séptica, deixando de cumprir as suas finalidades.
Assim a proposta é de o ensino seja séptico, isso é encharcado na
realidade cotidiana onde buscamos o conhecimento. A Escola, modelada na Igreja
à sombra de quem nasceu – sempre buscou desvincular-se do mundo onde está
inserida. Uma evidência desta postura da igreja está no detalhe de que até
muito recentemente os membros de ordens religiosas trocavam de nome, para
mostrar seu abandono ao mundano. Na escola, à medida que ascendemos aos níveis
maiores de ensino, quando mais limpo, mais matematizado, o ensino parece de
‘mais bom tom’. Nem parece que a Ciência é um instrumento para a leitura do
mundo natural (que não é asséptico).
A
assepsia é uma característica que está muito presente no ensino, principalmente
quando se ascende aos graus maiores do ensino. Parece importante mostrar um
ensino limpo, como se o que se ensina tivesse sido construído por mentes
privilegiadas, e coubesse ao professor contar o que os mais iniciados
descobriram. É conhecida a exemplificação [e o fato é real] do professor de ciência
que ensinava as partes da árvore, usando slides e desenhos no quadro-negro,
quando no pátio, ao lado de sua sala, havia várias árvores, que não foram lembradas.
Acredito que cada um poderia ilustrar convenientemente ações docentes que são
completamente desvinculadas da realidade. É provável que quando nos perguntamos
“porque estou ensinando este conteúdo?” e
não temos uma resposta convincente é porque, provavelmente, este conteúdo é
inútil para os alunos.
Fato inconteste é que a grade escolar contém quase que 90% de inutilidade, a qual serve apenas para aumentar a ogeriza que muitos tem dos bancos escolares. Tornar o ensino mais agradável e proveitoso não é tarefa impossível, mas arregaçar as mangas e debruçar-se sobre o problema não parece encantar nossos políticos. Lembro aqui mais uma vez da proposta inovadora do professor Darcy Ribeiro com os Cieps. Seria uma solução para o nosso Brasil a médio e longo prazo. Soçobrou nas procelas políticas.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirUm ensino falhando por anomia
Parado limpo sofrendo de apatia
Mas veio mestre Chassot
Com sua caneta bordô
E tascou-lhe receita de sepsia.