Depois de minha jornada na URI de
Frederico Westphalen já estou voltando. Esta manhã tenho mais uma atividade do
Seminário ‘Educação e Inclusão no Mestrado Profissional de Reabilitação e
Inclusão do Centro Universitário Metodista do IPA.
A dica sabática vem na esteira do
megashow midiático desta semana: a escolha de Francisco. Encontrei um conto,
atribuído a J.J. Celsius. Suponho ser um pseudônimo, pois não localizei nada
sobre o autor. O original é italiano e a tradução é minha e do Google; muito
mais dele. Eu talvez tenha deixado alguns vestígios usual em tradução livre. O
conto é trazido aqui com votos de um muito bom sábado.
EM
CONCLAVE (QUASE) PERMANENTE:
Poderia ser, em 52 anos de uma intensa (e secreta) vida amorosa, a última vez
que viviam o estar juntos carnal. Micaela, mesmo tendo se produzido como nunca,
estava muito nervosa. Vincenzo, há uma semana destaque na imprensa italiana,
estava muito nervoso.
Uma e outro, já setentinhas, tiveram, nesta
noite do último domingo de outubro de 1958, orgasmos maravilhosos. Agora
sorviam um espumante e evocavam primeira vez que fizeram amor. Tinham
expectativas de aproveitar muito ainda desta noite. ‘Tinham precisão’ de
expandir por horas este ápice desta, talvez última, relação amorosa. Esta,
também proibida, como todas em mais de meio século.
Era primavera de 1906, Vincenzo, 21
anos, estudante de filosofia do seminário dominicano de Viterbo. Os
seminaristas, então, usavam batina. Micaela, 17 anos, era aluna das monjas de
Santo Agostinho. Estava seduzida a abraçar a vida religiosa.
Micaela encantou-se com a presença de um
jovem seminarista que viera dar catequese em sua escola. Depois da preleção de
Vincenzo, disse-lhe que gostaria de conversar acerca de sua direção espiritual.
Foi um frutuoso encontro em todos sentidos. Conversaram o suficiente para se
apaixonar
Anoitecia. Deixam a escola quase vazia.
Ele pedalando sua bicicleta. Ele, sentada banco do carona quase ocultada por
uma batina esvoaçante. No primeiro ermo, esta é retirada e alojada na sacola
escolar de Micaela.
Foram a uma casa da tia de Micaela, da
qual ela tinha a chave quando a tia viajava. Os dois tiveram então a primeira
vez. Ou melhor, algumas ‘primeiras vezes’. Ele e ela descobriram algo que não
imaginavam existir.
Um voltou para o seminário e outra
voltou para sua casa. Ambos rezaram ‘atos de contrição’ pedindo perdão por
pecarem contra o sexto mandamento e contabilizavam as horas que faltavam para o
sonhado reencontro na casa de tia Emília, que afortunadamente seguia viajando.
Houve durante mais de cinco anos
encontros semanais em um modesto quartinho no qual tia Emília escondia os
‘Abelardo e Heloisa’ italianos. Estavam cada vez mais apaixonados um pelo
outro. Faziam descobertas maravilhosas na arte de fazer amor.
Vincenzo terminou a filosofia. Depois
fez teologia. Ordenou-se sacerdote tomando o hábito preto e branco, com o nome
de Frei Estevão OP. Além de professor de teologia no convento dominicano, faz
jus ao carisma de sua ordem, tornando-se um pregador de destaque, convidado de
várias dioceses para pregar, especialmente para ordens religiosas e leigos
universitários da Ação Católica.
Paralelamente torna-se reconhecido
confessor. Afluem penitentes da Itália e do exterior, que esperam longas filas,
para ouvir seus conselhos, receberem severas admoestações e penitências e
conseguir absolvição. Sua fama chega à cúria romana e no final dos anos
quarenta torna-se confessor de Pio 12. Era famoso vê-lo chegar de Lambreta,
todas as sextas-feiras ao Vaticano para atender confissões. A chegada ao
episcopado foi natural; aos 36 anos dom Estevão OP era bispo coadjutor-curial.
Recebeu o chapéu cardinalício em consistório presidido por Pio 12, no dia de
Pentecostes, nas celebrações do Ano Santo de 1950.
Micaela desistiu de ser freira.
Diplomou-se em enfermagem, especializando-se em pediatria. Trabalha no Hospital
dos Santos Inocentes em Roma e é catedrática de enfermagem pediátrica na
Universidade de la República Italiana. Autora de dois best-sellers na sua
especialidade é chamada para conferências em vários países.
Para justificar sua opção pelo celibato fez
votos como professa leiga da congregação das Servas da Imaculada, vestindo
assim um discreto hábito da cor do véu de Nossa Senhora com uma cruz pendente e
um véu indicando sua opção pelo voto de virgindade.
Micaela e Vincenzo, mesmo com carreiras
tão brilhantes não deixam de amar-se lindamente agora já há mais de 50 anos.
Dos direitos autorais de livros e salários no hospital e na universidade
Micaela doa cerca da metade a sua congregação. Com a outra parte comprou e
mantem um lindo apartamento em discreto conjunto residencial na região de
Campidoglio, onde a garagem para dois carros está estrategicamente junto a
elevador ‘no-stop’ para levar dom Estevão em trajes civis, portando uma máscara
importada que o faz irreconhecível, direto ao ninho de amor.
Desde que há anos Micaela montou o
apartamento, estando os dois em Roma, não importando agendas noturnas, os dois
se encontram como jovens apaixonados pelo menos duas ou três vezes por semana.
Fazem amor sem culpa, pois dizem que foi Deus que fez os amores impossíveis e
se Ele presenteia destes a seus filhos é para que eles se regalem. E Micaela e
Vincenzo sabem regalar-se.
Muitos jogos sexuais são apimentados por
sessões chamadas de ‘oitiva de confessionário’ quando, sem relatar o penitente
— logo sem ferir o sigilo sacramental — são descritos pecados. As violações ao
sexto mandamento são pícaras, especialmente os pecadilhos de freiras narrando ‘sentirem
gozo’ prolongam a passagem da mão em certas regiões, sob a camisola quando do
banho ou de religiosos que sentiram prazer ao sacudir, mais intensamente, o pênis
após o urinar. Claro que havia pecados escabrosos de incestos e de pedofilia.
Há, como em todas relações conjugais
tensões, em geral decorrente de ciúmes. Aquele médico que fez galanteio à
enfermeira ou a freirinha que atiça com olhares lânguidos ao contrito pregador
de retiro. Tudo isso dá azo a sensacionais noites amorosas, em quarto
cuidadosamente impermeabilizado a sons, pois vizinhos certamente reclamariam de
gatos copulando ao luar romano.
Mas neste quase ocaso de outubro de 1958
vivem uma noite amorosa muito tensa. O longo papado de Pio 12, iniciado em
março de 1939 está encerrado. O papa tido como herói por ocasião da Segunda
Guerra morrera no começo do mês em Castel Gandolfo, aos 86 anos.
A sede já estava vacante há mais de duas
semanas. Morrera um papa romano — o primeiro em mais de dois séculos — e o
cardeal dom Estevão, nascido em uma mansão nas escarpas do Quirinal era um
romano da elite, muito cotado a sucessão.
Por isso nesse encontro amoroso havia
também tensão. Sabiam que, se o Espirito Santo inspirasse os cardeais a
escolher Dom Estevão, provavelmente esta seria a última vez dos dois juntos na
cama, pois o papa é um prisioneiro do Vaticano e Micaela jamais fori à cúria
romana. Houve, depois do intervalo com espumante que sucedeu a primeira
cópula, uma última, ainda mais uma e
depois outra. Parecia a primeira vez, na casa da tia Emília. Era difícil parar.
No começo da aurora, Vincenzo
despediu-se de Micaela. Micaela despediu-se de Vincenzo. Choravam. Horas
depois, na basílica começou a missa ‘pro eligiendo Romano Pontífice’ seguida do
enclausuramento de Dom Estevão com o colégio cardinalício na capela Sistina.
Para Micaela iniciava a maior experiência de mistério.
Três dias depois. Micaela era uma, entre
milhares de fiéis, que se excitava com o surgimento da fumaça branca depois de já
três vezes fumaça preta. Surge o cardeal protodiácono o francês esquelético —
havia um que não tinha abdome rotundo dentre aqueles que já tinham selado o futuro
da mais emocionada da Praça de São Pedro — Pierre Paul Labouriou, para o grande
e esperado anúncio. Ela sente as forças debilitarem-se. “Habemus Papam”.
Micaela sente-se taquicardíaca. Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus
Papam: Eminentissimum ac reverendissimum Dominum Sanctæ
Romanæ Ecclesiæ Cardinalem
Dom... Micaela dá um
grito lancinante. Tomba desfalecida e é ferida
pela multidão...
Beato Chassot,
ResponderExcluirexcelente a narrativa pontifícia! Muito estimulante.
Dá vontade de ler mais.
Lembrei-me do Papa Borgia e sua Giulia Farnese...
Abraços apostólicos,
Guy
A narrativa traz a baila um dos maiores absurdos da Igreja Católica, a imposição do celibato. Somos humanos, e impor ao indívíduo uma condição tão contraria a sua natureza é dar vazão as mais variadas situações conflitantes. Mas, ao ler o conto, impossível não formular o pensamento: "A vida imita a arte?"
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirNão há como encontrar qualquer nexo
Neste assunto por demais complexo
Religiosos se masturbando
Quando não estão rezando
Porquanto estão privados de sexo.
Ao Mestre Chassot. O episódio tem causado problema no Clero. De acordo com o jornal britânico The Sunday nos últimos 30 anos, estima-se que cerca de 150 mil homens tenham desistido do Sacerdósio para se casar,e muitos deles estaria dispostos a voltar a batina desde que casados. Na minha opinião o casamento não deveria separá-los da sua vocação. Eu digo êles trazem experiência reais de vida em família,acho que são excelentes para pregar para as mulheres. " Só quem ama conhece a Deus " já nos diz São João. um abraço Ley
ResponderExcluirCaríssimo Mestre, apenas repito o que já foi dito em tempo já ido, contudo, sempre atual: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor nossa vã 'Filosofia'". Significativo esse conto. Grande abraço.
ResponderExcluirMeu muito querido colega e amigo Prof. Cassol,
ExcluirNeste conto, eu, travestido de J J Celsius, alio-me às denuncias dos escândalos sexuais na igreja de maneira pícara,
Cm estima e admiração
attico chassot