12.- ESTAMOS QUASE TODOS EM CONCLAVE

Ano 7***    www.professorchassot.pro.br    Edição 2413

Católicos ou não muitos estamos no conclave. Só que os chaveados somos nós e não os 115 cardeais-eleitores. Eles sabem das coisas e para nós tudo é segredo.

Já contei aqui, mais de uma vez — por exemplo, no último 27ABR13 — que ao arrumar ‘nossa caixa de ferramentas’ para começar um curso ou disciplina que, dentre seis mentefato possíveis para olhar o mundo — Ciência, Religião, Mitos, Senso Comum, Pensamento Mágico e Saberes Primevos — confiro mais destaque para os dois primeiros.

Nessas discussões apresento três argumentos para, mais privilegiadamente, analisar Religião e Ciência: vivermos num mundo religioso (basta ver a importância dada por não católicos ao conclave), o recrudescimento do fundamentalismo (há exemplos a mancheias) e a ateologia (parece que neste século 21 os ateus estão podendo sair do armário).

Restrinjo-me, hoje, apenas ao primeiro argumento. Inicio com um dado: 4.432 jornalistas estão credenciados temporariamente para a cobertura da sucessão papal. 600 estão credenciados permanentemente. O número corresponde à imprensa de 65 países em 24 línguas.

Nesta terça-feira, e talvez por mais um ou dois dias, o Estado da Cidade do Vaticano, um enclave murado dentro da cidade de Roma. Este, com aproximadamente 44 hectares (0,44 km²) — o município de Porto Alegre é 365 vezes maior — e com uma população de pouco mais de 800 habitantes, menor país do mundo, tanto em população quanto em área, estará nos holofotes. Um minúsculo sítio destacadíssimo como nenhum outro lugar do Planeta.

Esta é uma evidência de como o mundo religioso envolve também não religiosos. Acompanhamos as reuniões entre os cardeais em Roma para discutir as características que eles procuram no novo papa. Há quem diga que está surgindo um consenso.

No caderno Conclave de seis páginas da Folha de S. Paulo de domingo, o padre jesuíta e teólogo, Thomas Reese, pesquisador na Universidade de Georgetown (EUA) e ex-diretor da revista católica "America" diz que os cardeais procuram alguém capaz de pregar os Evangelhos de forma compreensível e atraente para as pessoas do século 21.

“Para que isso seja crível, o novo papa precisa ser um homem santo, que acredite no que prega e viva o que preconiza. Também precisa ser um brilhante intelectual, como os papas João Paulo 2º e Bento 16 -conhecedor da tradição e da teologia da igreja.

Mas a santidade e a inteligência não bastam. Ele precisa parecer santo e ser capaz de explicar os ensinamentos da igreja às pessoas de hoje em linguagem que elas compreendam. Por fim, ele precisa ser um bom administrador, capaz de reformar a burocracia do Vaticano.

Em outras palavras: eles querem Jesus Cristo com um MBA. O problema, claro, é que ele morreu, ascendeu dos mortos e deixou a cidade para trabalhar na empresa da família.

Francamente, não há pessoa alguma no Colégio de Cardeais que atenda à descrição acima. Jesus pode ter fundado a Igreja Católica, mas deixou a gestão dela a simples seres humanos.

[...]

O que os cardeais devem fazer caso não encontrem um Jesus Cristo com MBA?

Na época de são Bento, o fundador da ordem beneditina, um mosteiro enfrentou dilema semelhante e escreveu ao santo afirmando que havia divisão sobre a escolha de um abade. Um monge era renomado por sua santidade; um segundo era um teólogo brilhante; um terceiro candidato era um homem prático.

São Bento respondeu em uma carta: "Que o homem santo ore pelos monges, que o teólogo os ensine e que o homem prático os administre". Embora o papa não seja um abade, a recomendação não deixa de ser sábia”.