Mais
uma semana, que se inicia, após oportuna imitação divina: descansar no sétimo
dia. Esta edição se faz numa evocação do domingo que já faz saudades.
Uma
das grandes curtições para mim é nas manhãs de domingos chimarrear no jardim com
fartura de jornais para lermos juntos. Ontem, quando a Gelsa chegou o mate
estava cevado e as manchetes prelibadas. Tivemos a companhia de um vistoso
pássaro (que meus parcos conhecimentos ornitológicos identificaram como sendo provavelmente
rabo-de-palha) e nos encantamos com um cactus anunciando florada já com 28
botões.
Mas
de tudo que li há algo me encanta repartir com meus leitores. Debate entre
colunistas da Folha de S. Paulo reacendeu a discussão sobre as questões éticas da utilização da tortura.
Sob o ponto de vista de duas matrizes de sistemas éticos — deontológica e
consequencialista — as ponderações de diferentes autores denota quão paradoxal
é a construção de nossas convicções morais.
O
filósofo Hélio Schwartsman, mais de uma vez presente neste blogue, abre extensa
análise assim: “É difícil a vida do ser humano. Levamos centenas de milhares de
anos para aprimorar a ética e, quando procuramos sistematizá-la, quebramos a
cara, já que as tentativas de fazê-lo invariavelmente levam a paradoxos. Faço
essa consideração a propósito da controvérsia sobre a justificação moral da
tortura em que se meteram alguns de meus colegas colunistas da Folha e me junto
a eles na balbúrdia.”
A
celeuma começou de forma meio provocativa, uma variante do dilema conhecido como
"problema da bomba-relógio": "Uma
criança foi sequestrada e está encarcerada em um lugar onde ela tem ar para
respirar por um tempo limitado. Você prendeu o sequestrador, o qual não diz
onde está a criança sequestrada. Infelizmente, não existe (ainda) soro da
verdade que funcione. A tortura poderia levá-lo a falar. Você faz o quê?".
Kant
defende que não temos o direito de mentir para ninguém, nem para assassinos e
outros celerados que nos ameacem a vida. Aliás, o interessante nessa história
toda é que, quanto mais nos embrenhamos nessas reflexões, mais precário parece
o edifício lógico no qual sustentamos as convicções morais que expressamos com
tanta veemência.
Apresentei
acepipes. A quem quiser se embrenhar nas discussões, ofereço o texto completo
que está na p. 3 da Ilustríssima de
ontem.
www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/96529-genealogia-da-moral.shtml
Se
houver problema de acesso, posso enviar cópia.
Vivemos em constante confronto entre o enfoque dogmático e o zetético. Dogma vem do grego "dokein" que é ensinar,doutrinar. Dogma é a verdade absoluta, a lei. Já zetético vem do grego "zetein", que significa perquirir, indagar, questionar. O conjunto dos dois fazem o bom senso. A visão unicamente dogmática é tacanha. Deus é um dogma. A ciência com o questionamento zetético vive em busca de uma verdade provavel. O mundo ja foi uma "tábua", hoje tal definição arrancaria risos do mais simplório. A tortura é a mesma coisa. O mais ferrenho doutrinador teria sua postura balançada se tivesse um ente seu babaramente assassinado. Com certeza defenderia a tortura, e ainda reivindicaria o privilégio de ser o executor.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirSe existir algum dilema moral
Cujo desenlace pode ser fatal
Terá um limite o homem?
No qual seus freios somem?
Parece, não há resposta para tal.
Caro Chassot,
ResponderExcluircolocado assim dessa forma, não há como não se posicionar na direção de arrancar a verdade do sequestrador, mesmo que para tanto seja necessário encontrar meios radicais para obtê-la. Pesa na decisão, a mais valia da vida inocente da criança - para tanto é fundamental ter certeza do crime do sequestrador e da impossibilidade de encontrar o inocente por outras formas.
Um abraço,
Garin