TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

22.-TEMPOS TENEBROSOS: A INQUISIÇÃO



Ano 7***www.professorchassot.pro.br***Edição 2396
Em minha história de acompanhamento de dramáticas inundações — tão fortemente marcadas nas narrativas míticas de dilúvios — usualmente as relaciono com populações ribeirinhas ou moradores de baixadas. Desta vez vivi quase um paradoxo hidrostático.
Como contei ontem aqui, com super-chuvarada e ruptura de um cano de escoamento pluvial que fez no closet uma cascada, fui feito um alagado no sétimo andar. Na quinta-feira, com queridas solidariedades, movimentei seguro e orçamentos em busca de recuperação. Tudo vai se ajeitando.
A publicação nesta terça-feira do texto Deus hipotético de L.F. Veríssimo referindo a parábola do Dostoievski sobre o encontro do Grande Inquisidor com Jesus Cristo ensejou um tríduo dostoievskiano no qual na quarta-feira se trouxe algo do conto o Grande Inquisidor; ontem a proposta foi falar de seu autor e hoje se concluí com informações sobre o cenário do conto: Sevilha, à época da Inquisição.
Acerca da Inquisição (mormente a espanhola a mais extensa e talvez a mais dolorosa e aqui se inclui aquela na América espanhola) há farta literatura. No Educação conSciência, escrito em 2002 na privilegiada situação de viver em pós-doutoramento em Madrid anuncio no sumário assim o capítulo 10: A ciência na Inquisição ou novas leituras para entender situações que foram conflituosas, mas que não podem ser esquecidas pois corremos o risco de repetir momentos que foram cruentos. O frontispício do capítulo se faz com uma frase atribuída a Miguel de Cervantes: A liberdade, amigo Sanchez, é o mais precioso presente que os céus deram aos homens.
Assim nesta sexta-feira quaresmal, para entender o contexto de Grande Inquisidor vale ver algo Inquisição espanhola narrada no conto: A cidade de Sevilha citada no conto é o local escolhido para o retorno terrestre de Cristo. Tal citação remete-nos ao período da Inquisição espanhola.
Na Espanha, espaço alvo da narrativa de O Grande Inquisidor, a formação cultural e religiosa era composta de cristãos, judeus e muçulmanos.
A partir do século 15, iniciou-se um período de intolerância em relação aos judeus daquele país, o que culminou na criação de O Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, em 1480. A Inquisição Espanhola prestava contas à Coroa e recebeu apoio da Igreja. O alvo primário dessa inquisição foi a população judaica da Península Ibérica.
Andaluzia era um dos centros mais populosos de conversos [ou cristãos novos, ou seja, judeus espanhóis convertidos ao catolicismo] e a Inquisição começou seu trabalho em Sevilha. Entre os anos de 1481 a 1488 mais de setecentos conversos foram queimados vivos e mais cinco mil foram presos e penitenciados. Em 1483, Tomás de Torquemada (1420-1498) foi nomeado inquisidor geral.
Outra eminência da Inquisição espanhola foi Francisco Jimenez de Cisneros (1436-1517), Franciscano (1484), Cardeal de Toledo (1495), foi dos inquisidores gerais mais severos. Dirigiu campanha para a conversão dos mouros, conduzindo pessoalmente expedição ao Norte da África. Restaurou a disciplina eclesiástica e fundou a Universidade de Alcalá de Henares (1498). Teve além de poder eclesiástico grande influência política, tendo sido regente do reino de Castela (1516) e confessor da Rainha Isabel, a Católica.
A partir de 1483, todos os tribunais da Inquisição na Espanha cristã tiveram como inquisidor geral Tomás de Torquemada. O inquisidor geral, ou grande inquisidor, era a função correspondente ao presidente da Inquisição na Espanha e sobre ele estava o poder de destituir e condenar.
Ao inquisidor cabia a função de investigador (inquisitor) e juiz, pois era ele quem investigava, julgava e condenava os casos de heresia. No livro Manual dos Inquisidores, [EYMERICH, Nicolau Frei. Manual dos inquisidores. Tradução de Maria José Lopes da Silva, Prefácio de Leonardo Boff. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993] (mais extensamente comentado no Educação conSciência) encontra-se um relato de como deveria ser o inquisidor, além de admoestações contra suas punições:
O inquisidor deve ser honesto no seu trabalho, de uma prudência extrema, de uma firmeza perseverante, de uma erudição católica perfeita e cheia de virtudes. Todos os inquisidores devem ser doutores em Teologia, Direito Canônico e Direito Civil. [...] Lembremos que é sempre melhor evitar punir os inquisidores, porque, com a punição, é a instituição inquisitorial que é atingida. Logo ela não será mais respeitada e temida pela plebe ignara (populo stulto).
Em relação ao inquisidor geral, Tomás de Torquemada, pode-se dizer que era extremamente zeloso em relação à Inquisição.

3 comentários:

  1. Limerique

    Era um período negro da História
    No homem mancha de triste memória
    Matava-se em nome de deus
    Tanto gentios como hebreus
    E a religião enchia-se de glória.

    ResponderExcluir
  2. Chassot,
    Em contraponto ao teu eufemismo "extremamente zeloso" sobre Torquemada, veja o que escrevi sobre ele a algum tempo:
    "Um dos mais temíveis representantes da Inquisição foi Tomás de Torquemada, figura maldita que serviu de modelo para Sade criar seus personagens degenerados. Parece um caso típico de criatura que superou o criador, neste caso, em crueldade. Padre católico, de vida sexual mal resolvida, - tinha amantes de ambos os sexos e era chegado a uma perversão, inclusive com animais, defuntos e crianças - nascido em Valladolid, Espanha, principal organizador da Inquisição espanhola. De origem judaica e sobrinho do cardeal Juan de Torquemada. Nomeado como inquisidor e prestigiado pela rainha Isabel de Castela, este clérigo psicopata promoveu uma feroz caçada contra bígamos, aleijados, agiotas, judeus, mouros, conversos, bruxas, homossexuais e cegos. Movido por um ódio inexplicável a tudo que não fossem os cânones da doutrina, espalhou terror por toda Espanha, mandou para a fogueira mais pessoas que qualquer um dos demais inquisidores. Instalado em Ávila onde ficou até sua morte, promulgou (1484) os 28 artigos que orientavam os inquisidores no julgamento de crimes contra a ortodoxia da igreja, autorizou a tortura para obter evidências caso o acusado se recusasse a confessar, baseado no princípio que o denunciado era culpado a priori. Célebre pelo fanatismo religioso e desumanidade, seu nome tornou-se símbolo da temível instituição e chegou a ofuscar o poder real. A sua ferrenha atuação acabou fazendo com que sua fama percorresse os quatro cantos da Espanha e inquietou o próprio Vaticano, este preocupado não com a maldade do inquisidor, mas sim que sua fama lhe concedesse poder que viesse a rivalizar com o poder Papal, uma espécie de anticristo espúrio".

    ResponderExcluir
  3. A postura dogmática da igreja é fanática e estreita, a interpretação zetética da ciência é polêmica. O bom senso em saber quando é a hora deste ou daquele parâmetro prevalecer é o príncipio da sabedoria. O homem, quando investido do poder, transmuta-se na besta mais egoísta e radical possível. Este fenômeno ocorre seja na religião, na política, na ciência ou qualquer outro meio social.
    Em tempo, providencial a pequena biografia de Torquemada disponibilizada pelo professor Jair.

    abraços

    Antonio Jorge

    ResponderExcluir