ANO.pro.br***Edição
2378
Li, este fim-de semana’, que
estamos em “um período que ninguém pensa
no Brasil” (Folha de S. Paulo, Ilustrada
(08FEV13). Por outro lado, o doutor em
História Alexandre Lazzari (UFRRJ) na abertura de texto acerca da História do
carnaval de Porto Alegre, diz: Identificar
os brasileiros como um povo amante da folia carnavalesca talvez seja um dos
mais surrados estereótipos sobre nosso país que correm mundo afora. A
generalização provavelmente incomode até mesmo muitos apaixonados por essa
festa, mas que gostariam que a nação fosse reconhecida por outros valores e
realizações” (Zero Hora, Cultura,
p.4, 09FEV13).
Este blogue, concordando com o quanto
é desconfortável estereótipo de ‘sermos o
País do Carnaval’, tece a edição desta atípica segunda-feira com um texto
de J.J. Camargo, Cirurgião torácico e chefe do Setor de Transplantes da Santa
Casa de Misericórdia publicado na p.2 do Vida,
de Zero Hora de 09FEV13. O heroísmo do Adamastor comove carnavalescos e
não-carnavalescos.
De todas as fomes
Em dois terços do século 20, a gordura foi considerada saudável. Em parte,
porque não se conhecia bem os danos associados, mas principalmente porque se
aprendera que os tuberculosos emagreciam e, quanto mais longe o fantasma
aparentasse estar, melhor.
De
qualquer forma e em qualquer época, a capacidade de se alimentar bem é uma
manifestação consensual de saúde. Por isso, nos hospitais, os nutricionistas
estão sempre monitorando o consumo da dieta cuidadosamente programada para
suprir a demanda aumentada de nutrientes em função de um procedimento cirúrgico
ou uma infecção. E não importa em que circunstância, a volta da bandeja vazia
sempre foi festejada.
No
Pavilhão Pereira Filho, da velha Santa Casa anterior ao SUS, havia, no final do
corredor, as enfermarias dos indigentes, com seis leitos cada uma. Os
residentes tomavam conta deles, e as internações, em geral mais prolongadas,
acabavam gerando uma relação de proximidade carinhosa. Eles carentes, e, nós,
maravilhados com a descoberta de que podíamos ajudar as pessoas.
Daquele
convívio sempre me deprimia constatar que os pacientes das enfermarias comiam
mais do que os outros. Inapetentes pela doença, devoravam o que não tinham
vontade. Como se fosse possível driblar a fome, de tocaia lá fora.
Foi
nessa circunstância que fiquei amigo do Adamastor, um preto com uma cara boa de
afofar e as mãos com aquela maciez que só têm os negros muito velhos. Vitimado
por um diagnóstico tardio, ele estava sendo consumido, dia a dia, por um câncer
inoperável de esôfago.
Paradoxalmente,
a sua bandeja, sempre raspada, contrastava com o emagrecimento progressivo. Foi
fácil descobrir que ele tinha uma colaboradora voraz. Sua mulher, uma velhinha
muito magra, protelava a visita da manhã sob um pretexto qualquer para comer o
que sobrasse do almoço.
Tratei
então de prescrever uma dieta reforçada para o Adamastor, porque agora tínhamos
de socorrer os dois daquela fome ancestral, e aquilo era quase tudo o que
podíamos oferecer.
Dias
depois, a enfermeira me contou, consternada, que a mulher tinha sofrido um
derrame e estava internada no Pronto Socorro. De doer a tristeza dele. E a
bandeja passou a voltar quase intocada.
Só
um dia ele pareceu mais animado. Um sobrinho dissera que ela ainda estava na
UTI, mas um pouco melhor.
Quando
o câncer de esôfago cansou de protelar, o Adamastor morreu, sozinho comigo.
Dentro da fronha descobriram seis pãezinhos, feito biscoitos.
Foi
quando se soube que ele nunca tinha desistido de esperar que ela voltasse.
Limerique
ResponderExcluirUma história de amor e de fome
Em que mais que câncer a pobreza consome
Sob olhares do doutor
Dedicação supera dor
De seres esquálidos quase sem nome.
Não somos o País do carnaval. Somos tambem o País do futebol, da cerveja, do feriado, do samba tambem, mas de muitas outras irreverências. Somos o País da "Cidade da Música", obra faraônica que consome milhões e milhões pelo ralo do despropósito. Em tudo somos maiores. O maior isso o maior aquilo. Mas certamente uma das maiores misérias, equiparamo-nos com os mais pobres em injustiça social.
ResponderExcluirMas temos uma peculiaridade única.
Somos um povo quem tem esperança em dias melhores, e apesar de sempre sermos enganados, vilipendiados, massacrados, ainda vamos as urnas cantando e sorrindo certos de um futuro melhor.
abraços
Antonio Jorge
Limerique(mero oportunismo, nada tem a ver com o assunto do blogue)
ResponderExcluirPois renunciou ao papado o Bentão
Conservador até medula era então
Mas o catolicismo liberal
Dobrou-lhe a coluna afinal
O pontífice não aguentou a pressão.
Meu caro Jair,
Excluireste lemerique se faz histórico: lia um livro e um telefonema me interrompe. Consulto, então, o correio eletrônico e tu me dás aquela que certamente se faz em uma das notícias mais bombásticas.
O Planeta embasbaca-se.
Obrigado, minha manhã de segunda-feira esta em reviravoltas,
attico chassot