A chuva tão desejada parecia ser uma
canção de ninar embalando um fim de sesta. Minutos depois informações de que “em
uma hora registra-se em Porto Alegre o maior volume de água em seis anos; outra
estação registrou quase a metade da média histórica do mês em apenas meia hora.
Tubulação de 59 milhões é rompida. Há morte e feridos devido a chuvarada na
cidade”.
Eu trabalhava na parte superior de
minha casa, encantado com o ver chover. Batem à porta, pois não havia energia
elétrica. Era a vizinha da frente. Água de meu totalmente alagado piso inferior
invadia outro apartamento. Um cano de drenagem pluvial do jardim rompera-se e
fez do meu closet uma cascata. Todas minhas roupas, aparelhos eletrônicos,
forração ensopados. Nunca em minha história fora vítima de fenômeno climático
como na tarde de ontem. Afortunadamente, ilesos todos meus livros. Algo maravilhoso
foi ver a solidariedade de muitos vizinhos socorrendo-me apatetado sem
iniciativa.
A publicação
do interrogante texto Deus hipotético de
L.F. Veríssimo, nesta terça-feira — ao lado de fazer emergir questionamentos do
quanto aqueles que creem se sentem mais seguros que os incréus que laboram em
incerteza — suscitou interrogações acerca da parábola do Dostoievski sobre o
encontro do Grande Inquisidor com Jesus Cristo. L.F. Veríssimo confessa não
saber como termina o conto. Isto, provavelmente, fez curiosos a muitos.
Acolhendo proposta de pauta de um leitor, se propôs um tríduo
dostoievskiano. Ontem se trouxe algo do
conto o Grande Inquisidor; hoje a proposta é falar de seu autor e amanhã, informações sobre o cenário: Sevilha, à época da Inquisição. Assim, aqui e agora, a segunda
sessão da proposta para conhecer um dos maiores romancistas da literatura russa
e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos.
O autor: Fiódor Mikhailovich Dostoiévski
nasceu no dia trinta de outubro de 1821, em Moscou, no meio de uma família
bastante religiosa. Seu avô foi sacerdote e seu pai chegou a cursar um
seminário, mas abandonou a vocação eclesiástica para seguir a carreira médica.
Assim como seu pai, Fiódor sofria de epilepsia.
Foto e assinatura: fonte Wikipédia.
Dostoievski
sempre gostou muito de literatura e lia diversos autores russos e ocidentais.
Em relação à sua formação religiosa, aprendeu a ler em um livro que relatava
episódios bíblicos, intitulado As cento e
quatro histórias do Antigo e do Novo Testamento. Junto com seus irmãos,
tinha um professor de História Sagrada, de quem ouvia com interesse
principalmente os assuntos relacionados ao nascimento e a morte de Jesus
Cristo. Dostoievski ia sempre à missa com seus pais.
Em 1838,
Dostoievski ingressou na Academia de Engenharia Militar de São Petersburgo. Em
1844, abandonou a carreira militar para seguir a carreira literária, pois era
disso que gostava e para isso se sentia vocacionado.
Dostoievski
era contra a escravidão apoiada pelo Estado russo. Por esse e por outros
motivos começou a fazer parte de uma sociedade secreta e clandestina que se
posicionava contra a escravidão vigente em sua época. A participação nessa
associação foi a causa de sua prisão, em 1849. Dostoievski ficou exilado por
dez anos na Sibéria. No exílio, ele lia bastante a Bíblia e os ensinamentos do
presídio marcaram-no por toda sua vida. Foi na prisão, entre os ladrões e
assassinos, que ele afirma ter encontrado homens de caráter profundo e
inspiração para alguns de seus escritos posteriores.
Ainda na
Sibéria, em 1855, Dostoievski começou a trabalhar seu romance intitulado Recordações da Casa dos Mortos,
publicado somente em 1862. Essa obra faz referência à sua prisão. Foi entre
1865 e 1871 que Dostoievski escreveu Crime
e Castigo — tido como sua obra magna —,
O Jogador, O Idiota e Os demônios, respectivamente. Em 1880, Dostoiévski
terminou Os Irmãos Karamazovi (onde
está inserido o conto que catalisa nosso tríduo).
A obra dostoievskiana
explora a autodestruição, a humilhação e o assassinato, além de analisar
estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio: seus
escritos são chamados por isso de "romances de ideias", pela
retratação filosófica e atemporal dessas situações. O modernismo literário e
várias escolas da teologia e psicologia foram influenciadas por suas ideias.
Dostoiévski
tinha enfisema pulmonar e começou a apresentar constantes hemorragias que o
levaram à morte no dia vinte e oito de janeiro de 1881.
Dostoiévski seria o nosso Augusto dos Anjos? É interessante como o sofrimento exacerba o potencial filosófico, dentre tantos exemplos lembraria Michel Foucault, que pela discriminação sofrida em sua vida por conta de sua orientação sexual, orientou seus estudos aos mais fracos, mulheres, crianças e doentes mentais.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirDostoievski me induziu à leitura
Com seus contos cheios de amargura
Na minha mocidade
Cheia de alacridade
O escritor disse o que é literatura.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirChassot,
ResponderExcluirque horror teu naufrágio nas alturas!!
Para consolar-te posto abaixo um poema proceloso de Hasse, feito para o libretto da ópera Artaxerxes. Musicada por Handel, J. Christian Bach e Vinci.
Vo solcando un mar crudele
senza vele, e senza sarte:
freme l'onda, il Ciel s'imbruna,
cresce il vento, e manca l'arte;
e il voler della fortuna
son constretto a seguitar.
Infelice in questo stato
son da tutti abbandonato:
meco sola é l'innocenza,
che mi porta a naufragar.
Vou sulcando um mar cruel,
ResponderExcluirsem as velas, sem o leme:
num Céu negro, a onda cresce,
não navego e o vento geme;
e o mal, que o fado me tece,
sou obrigado a aceitar.
Mui infeliz neste estado
por todos abandonado:
comigo, só a inocência,
que me leva a naufragar.