Hoje parece
natural, que no maior ou menor deslocamento de nossa casa levemos atrelado a
nós ‘nossa escrivaninha de trabalho’. Há
um tempo não muito distante, um dos rituais ao chegar em casa ‘era ler cartas
que haviam chegado’; depois a cada chegada eram ver ‘mensagens eletrônicas
acumuladas como não lidas’; hoje, nem mais jornais se amontoam oferecendo ‘novidades
atrasadas’.
Ainda, me lembro
de tempos que se preparava ‘lâminas’ para o retroprojetor. Hoje há alternativas
até para a situação do pen-drive esquecido,
pois a palestra pode estar na ‘nuvem’.
Ruy Castro, na
p. A2, da Folha de S. Paulo de 02FEV13, traz este assunto num texto delicioso. Vale curti-lo:
A
vida e a morte no bolso: Nunca antes na história
da humanidade isso aconteceu. Mas, hoje, uma pessoa pode sair à rua levando no
bolso, juntamente com carteira, chaves e chicletes, toda a biblioteca que ela
tem em casa. Ou a Biblioteca Nacional. O que fará na rua com essa quantidade de
livros resta em aberto. Mas é incrível imaginar que, com um celular, um cidadão
pode se sentar num banco de praia e folhear, digamos, a Bíblia de Gutenberg, o
romance "Alzira, a Morta Virgem" e a caudalosa poesia de Sousândrade
numa só sentada.
Se quiser, pode flanar levando também sua discoteca inteira,
desde a série de disquinhos que ouvia em criança, incluindo "A História da
Baratinha", até sua coleção completa de Thelonious Monk ou a íntegra da
obra de Mahler. Cabe tudo num aparelho que vai no bolsinho caça-níqueis,
plugado a um fone de ouvido.
E não sei se o fulano terá como levar o Louvre, o Prado e o
Guggenheim no bolso — porque, por enquanto, aqueles milhares de quadros cheios
de cores ainda devem ser uma carga muito pesada para um celular. Mas talvez
isso nem seja necessário — com o dito, você pode baixar Velázquez, Seurat,
Norman Rockwell e quem mais estiver dando sopa na "nuvem". A qual,
parece, não tem limite.
Mas nem tudo é tão bonito. A engenhoca que permite ler, ouvir ou
apreciar as maravilhas criadas pelo homem é a mesma que torna possível a alguém
andar pela cidade com o arquivo da CIA ou do Mossad no bolso interno do paletó
--com informações que, à pressão de uma tecla, podem derrubar presidentes,
desarticular sistemas de defesa ou levar países à guerra. Ou transportar as
combinações capazes de acionar um ataque químico ou uma bomba atômica,
decidindo o destino de bilhões.
E só porque, um dia, alguém quis telefonar da rua para a
namorada e não havia um orelhão à mão.
Limerique
ResponderExcluirDesde muito o saber era disperso
Encontrá-lo um trabalho perverso
Mas a eletrônica disse não
Concentrou-o na nossa mão
No meu bolso eu tenho Universo.
Querido mestre...
ResponderExcluirE assim parecemos marionetes robotizadas a nos mover de forma alienada, subjugada.
Uns caras esquisitos sem voz, sem nome, acoplados a uma maquininha que nos domina a vontade, o desejo, o querer.
Não mais humanos, em sua essência.
Andando plugados, individualizados, embora conectados sequer nos damos conta de que andando lado a lado ainda não podemos ser.
É preciso olhar o/a outro/a, ouvi-lo/a, percebê-lo/a, senti-lo/a para compreender que somente com ele/a podemos de fato ser-no-mundo
e vivermos uma existência autêntica.
Lembro de Heidegger, o "cara" que disse que em sua essência o ser-no-mundo é cura/cuidado.
Que possamos aprender a sê-lo, uns aos outros, num novo despertar da humaneidade que em nós habita.
Ser humano é uma escolha, mas um dever, se quisermos um mundo de cura/cuidado.
Não há como ser "mais humano" e nem mesmo pode haver meramente "lado humano". Ou somos humanos ou não.
Depende de nos compreendermos como tal e de assumirmos isso em sua total radicalidade.
Todavia, tudo tem um lugar certo na existência. E um tempo certo também.
Muito agradecida pelo compartilhamento em seu blog, com votos de uma agradável sexta-feira.
Grande e carinhoso abraço: Lia, a Ilíria que ainda lê
Lembro-me de ter lido alguns anos atrás, que em determinada época todo o conhecimento da humanidade caberia em livros no espaço de uma pequena sala, daí ser possível a existência dos sábios detentores de quase todo o conhecimento então existente. O conhecimento cresceu, tomou dimensões astronômicas e hoje em dia, pelo menos físicamente, como bem disse Ruy Castro cabe no bolso. Mas, como bem lembrou a amiga Ilíria, estamos nos tornando seres impessoais. Nossos sentimentos e vontades estão a um clique. Cada vez mais interagimos com a máquina, e quando há o confronto eventual humano a humano muitas vezes a intolerância é a atitude preponderante. O "bug" saiu da máquina e instalou-se em nossas cabeças. Tomara (tomara?) que as máquinas não tenham errado no cálculo do 2012da14, pois se o mesmo arrebentar nossos satélites ficaremos um bom tempo de "castigo" sem nossos brinquedinhos high tech.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Meu caro Antonio Jorge!
ResponderExcluirestá é pelo menos a terceira vez que referes aqui, com oportunidade o asteroide 2012 DA 14 — um objeto que esta tarde passará próximo à Terra com um diâmetro estimado de 45 metros e uma massa estimada de 130 000 toneladas .
Os cálculos mostram que hoje,15 de fevereiro de 2013, a distância mínima entre o asteroide e do centro da Terra será 0,000228 UA (34.100 km , 21,200 km ), e 0,0001851 UA (27,700 km) da superfície Terra. A abordagem de 2012 DA 14 é um recorde para os objetos conhecidos deste tamanho.
Bem dizes vale torcer para que não colida com ‘nossos’ satélites e derrube ‘nossos’ arquivos.
Muito oportuno teu alerta. Obrigado
attico chassot
Limerique
ResponderExcluirDeste planeta toda sabedoria
Que foi tão espalhada um dia
Agora está à mão
Do sábio ao burrão
A pouco era apenas utopia.