ANO.pro.br***Edição
2378
Nestes dias alcunhados de hemiférias (quando somos
aliviados de aulas e outros quetais, mas não nos furtamos de revisar um texto
de orientanda ou dar parecer para alguma revista) reli, com potencializado
sabor que usualmente ocorrem nas releituras “O mestre das iluminuras” onde
escritora Brenda Rickman Vantrease nos leva ao quase desconhecido século 14
para assistirmos grandes mudanças entre uma população assolada por pestes, saques,
guerras e opressões, com os sempre crescentes com impostos para as casas reais
e dízimos escorchantes para a igreja.
Neste cenário, já envolto em celebrações momescas,
cumpro a proposta deste blogue de apresentar, aos sábados uma dica de leitura.
Eis uma oportunidade de vermos um pouco do ignoto medievo.
VANTREASE, Brenda Rickman. O mestre das iluminuras. [Original inglês: The illuminator; tradução de Maria Luiza Newlands
Silveira] Rio de Janeiro: Sextante, 2006, 424p. 16 X 23 cm ISBN
85-99296-10-8
O cardápio não precisaria ser melhor. Ir, quase ao
final da Idade Média, à ilha que os tempos modernos transformarão em Inglaterra
e viver um romance trágico onde arte, traição, amor e religião se entretecem em
histórias dolorosamente belas.
Brenda
Rickman Vantrease é uma bibliotecária com doutorado em inglês, ex-professora de
língua inglesa que, que depois de aposentar-se, resolveu dedicar-se a arte da
escrita. Dessa opção, um dos primeiros resultados: O mestre das iluminuras —
seu saboroso romance de estreia. A autora nos leva ao século 14, período do
qual conhecemos tão pouco, para assistirmos grandes mudanças entre uma população
assolada por pestes, saques e guerras e ainda opressão sempre
crescentes com continuados aumentos de impostos para as casas reais e dízimos
onerosos e vendas de indulgências e relíquias pela a igreja.
É nesse contexto que encontramos John
Wycliffe, teólogo e professor da Universidade de Oxford, ‘a estrela matutina da
Reforma’ que se antecipa a Lutero em quase dois séculos, propugnando, com o
movimento dos lollardos [O movimento Lollardo foi um movimento político e religioso dos finais do
século 14 e inícios do século 15 em Inglaterra. As suas exigências eram
primeiramente a reforma da Igreja Católica. Entre as suas principais doutrinas
estavam que a devoção era uma exigência para que um padre fosse um
"verdadeiro" padre ou que levasse a cabo os sacramentos, e que o
leigo devoto tinha o poder de executar os mesmos ritos, acreditando que o poder
religioso e a autoridade resultam da devoção e não da hierarquia da Igreja.
Ensinava o conceito da "Igreja dos salvados", significando que entre
a verdadeira Igreja de Cristo era a comunidade dos fieis, que tinha muito em
comum, mas não era o mesmo que a Igreja oficial de Roma. Ensinou uma
determinada forma de predestinação. Advogava a pobreza apostólica e a taxação
das propriedades da Igreja, que fundou, para que
o povo tivesse acesso à Bíblia escrita em inglês, reformulando não só a
história da Igreja (era heresia, então, traduzir os textos sagrados) como
também a história da Europa medieval.
Brenda opôs a Wycliffe outro personagem: Henry
Despenser, o ‘Bispo guerreiro’ que com outras figuras importantes de então
fazem contraponto com dois personagens ficcionais, muito fortes em O mestre
das iluminuras. Finn, o mestre pintor de iluminuras, degradado por
ter amado Rebeca, uma judia, que lhe deixa a filha Rose, quando morre no parto
e Lady Kathrin, uma bela viúva, que acolhe o artista e a filha em sua
propriedade. É no entorno de Finn e de Kathrin que lindas e dolorosas tramas
são conduzidas. Com a mesma paixão e riqueza que Finn ilumina as páginas da
Biblia que Wycliffe lhe envia secretamente, Brenda Rickman Vantrease, ajudada
pela histórica anacoreta Julian de Norwich, nos prende por mais de 400 páginas.
Assim, não sem entusiasmo recomendo às leitoras e
aos leitores deste blogue para fruírem das criações de O mestre das iluminuras.
Limerique
ResponderExcluirChassot, nos sábados indica leituras
Que nos iluminam nessas alturas
Sempre dicas geniais
Textos bons e atuais
Chassot é o Mestre das iluminuras.
Sempre o dueto opressor e oprimido alimentam tramas envolventes. E a igreja sempre exerceu o domínio pela força. Desde os primórdios de nossa existência que se oprime e até se mata em nome de Deus.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge