Ano
7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2031
Posso imaginar, inferindo que a maior parte de meus
leitores seja ligada ao meio acadêmico, que muitos já estejam prelibando o
recesso de fim de ano. Por estes dias mantenho as edições diárias, mas talvez
mais curtas.
Hoje trago resposta que dei a uma pergunta que recebi: Professor,
será que “ensinar menos” não significa, na verdade, ensinar mais? Respondo com um sim garrafal. Mais de uma vez, nestes
seminários para professores, que somos convidados a falar no início de um ano
letivo, desagradei o alto clero de escolas (=coordenadores etc.), ao colocar
como metas do novo ano escolar: ensinar
menos.
Na minha tese de doutorado1, parte da qual se
fez livro2 mostrei que a maioria dos conteúdos de Química que
ensinamos anterior a universidade não serve para nada. Concordemos que esta é
uma dolorosa conclusão para quem consumiu parte de sua vida ensinando Química.
Então, cabe a pergunta: por que ensinamos Ciência? E, muito provavelmente, não se faz isso
para que tenhamos homens e mulheres que saibam, com os conhecimentos de
Ciências que têm, ler melhor o mundo em que vivem. Ainda, é preciso ir além: o
ensino das Ciências precisa ajudar para que as transformações que se fazem
nesse mundo sejam para que um maior número de pessoas tenham uma vida mais
digna. É para isso que se busca hoje fazer uma alfabetização científica. Nossos alunos e alunas, assim, não
precisam aprender, por exemplo, o que são isótonos ou a classificação
taxionômica de um vegetal ou definições
do número um, quase incompreensíveis
para os mais expertos algebristas.
Já perguntei, em mais de uma oportunidade, em auditório
onde os presentes eram eminentes pesquisadores da área da Química, (e faço aqui
e agora, para qualquer leitor desta blogada)
quem já precisou um dia saber o que são isótonos, salvo para responder
alguma pergunta destas que testam conhecimentos inúteis em vestibular. Não sem certo
mal-estar, se constatou que ninguém, jamais, precisou saber (e todos sabiam!) o
que são isótonos. Mas os alunas e alunos de escolas do ensino fundamental do
interior deste Brasil sabem... Esse é um dos muitos exemplos de conhecimentos
desnecessários que poderíamos amealhar com facilidade.
[1] CHASSOT,
Attico. Para que(m) é útil o nosso ensino de Química? Porto Alegre:
Programa de Pós-Graduação em Educação, UFRGS, 316 p.(tese de doutorado;
orientador: Prof. Dr Lætus Mario Veit). 1994
2 CHASSOT, Attico Para que(m) é útil o ensino? [1 ed. 1996] 2. ed. Canoas: ULBRA,
2004. v. 1. 196 p. ISSN: 85-85692-13-8
E o pior que alem de sobrecarregar a grade escolar com ensinamentos inúteis de uma forma geral, deixam outros tópicos importantes de fora. Seriam talvez, alguma noção de cidadania, regras básicas de trânsito, culinária básica etc. Em suma, acredito que o senso prático deveria ser o maior preceito na escolha da matéria a ser lecionada.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Caro Mestre, nos deparamos a muito com uma realidade na qual conteúdos e mais conteúdos são jogados aos alunos e pouco é assimilado por eles. Mas como convencer ao alto clero escolar (leia-se coordenadores, gestores e instâncias maiores) que diminuir os conteúdos a serem ministrados pode resultar em um ensino mais efetivo no que concerne ao aprendizado dos alunos?
ResponderExcluirUma grande indagação sua, onde agrego o meu SIM, ensinar menos pode ser ensinar mais.
Abraços e desejos de boas festas!!
Bruno Peixoto
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirDizem: da cultura inútil és rei!
Por saberes que na vida amealhei
Mas, não pesa a cultura
E aumenta a envergadura
Então, saber menos é melhor? não sei.
Limerique
ResponderExcluirAinda que seja um calhamaço
Que venha a cair em seus braços
Enfrente-o a altura
Aumente sua cultura
Porque saber não ocupa espaço.
Limerique
ResponderExcluirO que se aprende na mente fica
Pois sapiência se auto explica
O cérebro reformula
Quanto mais acumula
Pois o que abunda não prejudica.
Limerique
ResponderExcluirLendo Dostoiévski quando criança
O termo sincipúcio entrou na dança
Estranho vocabulário
Recorri ao dicionário
É isso hoje uma feliz lembrança.
Exatamente ensinar menos é ensinar mais, durante 6 meses sendo aluno de um grande Professor ele ministrou poucas aulas mais valeu por todo um ano de curso tendo conceitos decorados. Ele ensinou a ensinar e aprendemos com o pouco explicando o macro, o micro e o simbólico. Ainda não temos professores suficientes para ensinar o essencial para os alunos de ensino médio. Gosto muito das postagem do Mestre Chassot enriquece meus conhecimentos de futura professora.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirO aprender é eterna e útil procura
Em qualquer hora a qualquer altura
Pois vive-se plenamente
Quando ativa a mente
Porque nunca se morre de cultura.
Mestre Chassot
ResponderExcluirSob a forma de poesia, numa rima bem composta, o Jair se manifesta esplendidamente ao comentar tua blogada. Parabens Jair! Me fez lembrar os trovadores de nossa Terra (RS), que tiram da idéia os poemas prá rimar em cantorias aquilo que querem se expressar. Não é prá qualquer um.
Quanto à utilidade do Ensino, ainda hoje me perguntava isso quando escutava os colegas de docência descrevendo a pouca atenção dos alunos em suas aulas. Será que isso também não tem nos cometido nos últimos semestres? Me fez pensar... "Será útil os conteudismos que estamos trazendo para a Sala de Aula?
ABRAÇO DO JB
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirPor minha rima bem irrequieta
Sou até confundido com poeta
Professor obrigado
Sinto-me honrado
Mas no fundo sou apenas um pateta.
Ola...preciso da tese do prof attico chassot e não acho. Alguém sabe como consigo?
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