Ano
7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2024
12.12.12 Se o anunciado próximo ‘fim do mundo’ tivesse sido
agendado para as primeiras horas desta terça-feira, muitos em Porto Alegre e
outras localidades da região sul, estariam ratificando o acerto das previsões. O
ribombo dos trovões fez tremer prédios. Talvez, tenham sido apenas cenas do que
deve ocorrer no próximo 21.
As consequências maiores foram o ainda continuado
desabastecimento de energia elétrica (para mim, afortunadamente durou até a
metade da manhã) e a ausência de internet (já a tive recuperada no começo da
tarde).
Ontem trouxe aqui considerações acerca de ‘anticlericalismo’.
Disse, então, que surpreenderia com artigo, de renomado escritor brasileiro, que
se não soubéssemos que seu autor — Frei Betto — fosse membro da ordem dos
dominicanos, diríamos tratar-se de um escritor anticlerical. Vale conferir e congratularmo-nos
com mineiro autor de “Um homem chamado
Jesus” (Rocco), entre outros livros. O texto retirei de amaivos.com.br ode
ele é articulista.
Vinde
a eles as criancinhas? As sucessivas denúncias de pedofilia
e abuso sexual cometidos por sacerdotes e acobertados por bispos e cardeais
envergonham a Igreja Católica e abalam a fé de inúmeros fiéis.
No caso da Irlanda, onde mais de 2 mil crianças entregues
aos cuidados de internatos religiosos foram vítimas da prática criminosa de
assédio sexual, o papa Bento XVI divulgou documento em que pede perdão em nome
da Igreja, repudia como abominável o que ocorreu e exige indenização às
vítimas.
Faltou ao pontífice determinar punições da Igreja aos
culpados, ainda que tenha consentido em submetê-los às leis civis. O clamor das
vítimas e de suas famílias exige que a Santa Sé aja com rigor: suspensão
imediata do ministério sacerdotal, afastamento das atividades pastorais e
sujeição às leis civis que punem tais práticas hediondas.
A crescente laicização da sociedade europeia reduz
drasticamente o número de fiéis católicos e a frequência à igreja. O
catolicismo europeu, atrelado a uma espiritualidade moralista e a uma teologia
acadêmica, afastado do mundo dos pobres e imbuído de um saudosismo ultramontano
que o faz ignorar o Concilio Vaticano II, perde sempre mais o entusiasmo
evangélico e a ousadia profética.
Dominado por movimentos fundamentalistas que cultivam a
fé em Jesus, mas não a fé de Jesus, o catolicismo europeu cheira a heresia ao
incensar a papolatria e encarar o mundo, não mais como “vale de lágrimas”, e
sim como refém de um relativismo que corrói as noções de autoridade, pecado e
culpa.
Ao olvidar a dimensão social do pecado, como a injustiça,
a opressão, o latifúndio improdutivo ou a apologia da desigualdade, o
catolicismo liberal centrou sua pregação na obsessão sexual. Como se Deus
tivesse incorrido em erro ao tornar a sexualidade prazerosa.
Como o Espírito Santo se vale de vias transversas para
renovar a Igreja, tomara que as denúncias de pedofilia eclesiástica sirvam para
pôr fim ao celibato obrigatório do clero diocesano, permitir a ordenação
sacerdotal de homens e mulheres casados e ultrapassar o princípio doutrinário,
ainda vigente, de que, no matrimônio, as relações sexuais são admissíveis
apenas quando visam à procriação.
Ora, tivesse Deus de acordo com tal princípio, não teria
feito do gênero humano uma exceção na espécie animal e, portanto, destituiria o
homem e a mulher da capacidade de amar e expressar o amor através de carícias,
e incutiria neles o cio próprio dos períodos procriatórios dos bichos, o que os
faz se acasalar.
Jesus foi celibatário, mas é uma falácia deduzir que
pretendeu impor sua opção aos apóstolos. Tanto que, segundo o evangelho de
Marcos, curou a sogra de Pedro (1, 29-31). Ora, se tinha sogra, Pedro tinha
mulher. E ainda foi escolhido como primeiro cabeça da Igreja.
Os evangelhos citam as mulheres que integravam o grupo de
discípulos de Jesus: Suzana, Joana etc. (Lucas 8, 1-3). E deixam claro que a
primeira pessoa a anunciar Jesus como Deus entre nós foi uma apóstola, a
samaritana (João 4, 39).
Nos seminários e casas de formação do clero e de
religiosos é preciso avaliar se o que se pretende é formar padres ou cristãos,
uma casta sacerdotal ou evangelizadores, pessoas submissas ao figurino romano
ou homens e mulheres dotados de profunda espiritualidade evangélica, afeitos à
vida de oração e comprometidos com os direitos dos pobres.
No tempo de Jesus, as crianças eram desprezadas por sua
ignorância e repudiadas pelos mestres espirituais. Jesus agiu na contramão dos
preceitos vigentes ao permitir que as crianças dele se aproximassem e ao
citá-las como exemplo de fidelidade a Deus. Porém, deixou claro que seria
preferível amarrar uma pedra no pescoço e se atirar na água do que escandalizar
uma delas (Marcos 9, 42).
As sequelas psíquicas e espirituais daqueles que
confiaram em sacerdotes tarados são indeléveis e de alto custo no tratamento
terapêutico prolongado. As vítimas fazem muito bem ao exigir indenização. Resta
à Igreja punir os culpados e cuidar para que tais aberrações não se repitam.
Caro amigo prof. Chassot:
ResponderExcluirBelo texto esse do frei Betto, sobre um assunto tão candente e que nos revolta a quase todos. Você tem razão: se não conhecessemos o autor, poder-se-ia considerá-lo um anticlerical.
Abraços nesta inusualmente quentissima Belém.
Meu caríssimo José,
ExcluirPorto Alegre vive dias de calor belenense.
Obrigado por teu comentário. Independente da relevância do texto, vejo que coincidimos: parece ser um texto voltairiano tal acidez antigrejeira. Há que admirar-nos com Frei Betto.
Pena que não tenha tido êxito como conselheiro de Lula.
Com estima, também por tê-lo como leitor aqui,
attico chassot
Por mais que a idéia não nos agrade, o pedófilo é antes de tudo um doente, diferente do criminoso comum que comete um ato infracionário. O pedófilo é um individuo que necessita de tratamento imediato em ambiente recluso e afastado do convívio com a sociedade. Recentemente tivemos na mídia a polêmica sobre um estudante de medicina pedófilo que após cumprir sua pena, uma internação com tratamento, e ser tido como são, pretendeu voltar a sua antiga faculdade de medicina o que foi repudiado por todos inclusive a reitoria.É um preconceito realmente difícil de ser resolvido.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Mestre Chassot,
ResponderExcluirmesmo que leitor de seu blogue, quase diário, há mais de um ano e exigir a leitura do mesmo de meus alunos de Prática de Ensino de Biologia, hoje é a primeira vez que publico algo aqui: Livre pensador e anticlerical se equivalem?
Obrigado do
Professor Aguillar
Estimado colega Aguillar,
Excluirvibro não apenas por seres leitor aqui, mas ~~ e, principalmente~~ por recomendares este blogue a teus alunos de Biologia.
Tua pergunta é pertinente.
Farei o blogue de amanhã sobre ela: antecipo uma resposta. Parece-me que se possa dizer que todo anticlerical é um livre-pensador. A recíproca não é verdadeira.
Lemo-nos amanhã.
Com estima,
attico chassot
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirUma igreja que no seu dia-a-dia
Só se preocupa com a apostasia
Mas nos claustros esconsos
Jovens seminaristas sonsos
São alvos primários da pedofilia
Olá. Vim procurar uma coisa e achei outra. Prazer imenso. O que procuro é um texto seu sobre Imre Kertész e achei meu banner que não é mais meu, é do mundo, com muito prazer. Feito com carinho "Pedofilia-não". Deixo um abraço. http://futuro-do-livro.blogspot.com
ResponderExcluirAlda Inacio