03.- ABUSO QUÂNTICO E PSEUDOCIÊNCIA
Ano
7*** PORTO ALEGRE ***Edição 2015
Há
duas semanas quando li a entrevista de Carlos Ayres Britto na Ilustríssima da Folha de S. Paulo. Impressionou-me a miscigenação entre ‘meditação’
e Ciência. Li e reli a extensa entrevista e a levei para um casal budista, dizendo
que o texto estava mais próximo deles e que as ditas explicações quânticas não
me convenciam.
Ontem
li, com surpresa, na p. A3 do mesmo jornal Abuso quântico e pseudociência do
físico Marcelo Knobel, 44 anos, professor
do Instituto de Física Gleb Wataghin e pró-reitor de graduação da Unicamp, onde
ele contesta afirmações de Ayres
Britto, quando diz que sua visão espiritualista é confirmada pela física
quântica. Para o professor da Unicamp não é disso que ela trata. O
analfabetismo científico é um risco à sociedade. Pareceu-me oportuno abrir a
semana com a contundente crítica a Ayres Britto, em defesa da ortodoxia da Ciência.
Abuso
quântico e pseudociência Em
entrevista recente à Folha, o recém-aposentado ministro do Supremo Tribunal
Federal, Carlos Ayres Britto, afirmou que sua visão espiritualista de mundo
seria confirmada pela física quântica, citando diversos autores, entre os quais
Einstein ("A vida começa aos 70", em 18 de novembro).
Cito
dois trechos:
1)
"Depois, de uns 12 anos para cá, comecei a me interessar por física
quântica, e ela me pareceu uma confirmação de tudo o que os espiritualistas
afirmam. A física quântica, sobretudo os escritos de Dannah Zohar
[especializada em aconselhamento espiritual e profissional]."
2)
"Einstein, físico quântico que era, cunhou uma expressão célebre: 'efeito
do observador'. Ele percebeu que o observador desencadeava reações no objeto
observado. (...) Claro que quando você joga teoria quântica para a teoria
jurídica, se expõe a uma crítica mordaz. O sujeito diz: "Mas isso não é
ciência jurídica'."
Na
verdade, a fascinante física quântica aplica-se somente a sistemas físicos na
escala atômica, jamais a questões profissionais ou jurídicas. As analogias
podem ser exercícios criativos ou poéticos até interessantes, mas não passam
disso.
Ao
buscar a palavra "quantum" em qualquer livraria virtual, é assombroso
notar que a maioria das obras listadas refere-se a supostas explicações
quânticas dos mais diversos aspectos da vida -da memória à cura de
enfermidades, passando pelo sucesso no amor e na carreira.
Como
físico, acredito em coisas incríveis, como entes que são ondas e partículas
simultaneamente, universos multidimensionais, tempos e comprimentos que
dependem da velocidade do objeto, estruturas nanoscópicas que podem atravessar
verdadeiras paredes e muitos outros fenômenos que certamente não são nada
intuitivos e continuam sendo impressionantes, mesmo após anos e anos de estudo.
Mas
em ciência o importante é que as teorias sejam comprovadas seguindo critérios
rígidos, metodologias adequadas e publicadas em periódicos de circulação
internacional, para que outros pesquisadores possam tentar repetir os
experimentos e modelos, verificando possíveis falhas e buscando explicações
alternativas, com certo ceticismo. Não é o caso das ideias citadas pelo
ministro.
Ocorre
que, diariamente, somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas,
métodos de leitura ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. A
grande maioria desses milagres cotidianos são vestidos com alguma roupagem
científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação
experimental, depoimentos de pesquisadores "renomados", alardeado acolhimento
em grandes universidades. São casos típicos do que se costuma definir como
pseudociência.
A
maioria das pessoas vive perfeitamente bem sem saber diferenciar ciência de
pseudociência. Mais cedo ou mais tarde, porém, em alguns momentos da vida esse
conhecimento pode ser muito importante. Seja para decidir um tratamento médico,
seja para analisar criticamente algum boato, seja para se posicionar frente a
alguma decisão importante que certamente influenciará a vida de seus filhos e
netos.
A
sociedade como um todo deve assimilar a cultura científica. É importante a
participação de instituições, grupos de interesse e processos coletivos
estruturados em torno de sistemas de comunicação e difusão social da ciência,
participação dos cidadãos e mecanismos de avaliação social da ciência.
Em
uma sociedade onde a ciência e a tecnologia são agentes de mudanças econômicas
e sociais, o analfabetismo científico, seja de quem for, pode ser um fator
crucial para determinar decisões que afetarão nosso bem-estar social.
É
impossível tomar uma decisão consciente se não se tem um mínimo de entendimento
sobre ciência e tecnologia, como funcionam e como podem afetar nossas vidas.
Comentar, questionar, controverter sobre determinado tema é factível a todos nós. Porém estabelecer parâmetros sem a devida propriedade intelectual, levam até pessoas reconhecidamente cultas a erros crassos.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirA ciência propõe clareza na escrita
Alusões e adivinhações ela evita
Procura explicar
Nunca se desviar
Porque em bruxarias não acredita.