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quarta-feira, 28 de março de 2012

28.- LEITURAS DO SÉCULO PASSADO



Ano 6 ***        PORTO ALEGRE       ***  Edição 2065
Na semana passada um amigo comentou em seu blogue Júlio Verne (1828—1905) escritor francês considerado por críticos literários o precursor do gênero de ficção científica, tendo feito predições em seus livros (mais de 100 títulos diferentes) sobre o aparecimento de novos avanços científicos, como os submarinos, máquinas voadoras e viagem à Lua.
Isto me fez recordar as emoções que vivi lendo vários livros de um dos escritores cuja obra foi mais traduzida na história editorial mundial, com traduções em 148 línguas, segundo estatísticas da UNESCO. Então escrevi: Meu caro Garin, tu e eu somos de geração que sonhamos juntos com Júlio Verne. Por que os jovens de hoje não sonham mais navegar no Nautilus ou voar em balões? Não tenho pesquisa, mas o senso comum me faz intuir que os jovens e mesmo muitos adultos não viajam no submarino do Capitão Nemo.
Na esteira de evocações li Mafalda atemporal na última Donna, revista dominical de Zero Hora, escrito, com muito sabor, pela jornalista Patrícia Rocha. O texto trouxe evocações, que não são conhecidas pelos jovens de hoje. Não sei se é saudosismo, mas parece que a leitura século passado era melhor. Como provavelmente todos os leitores deste blogue são do século passado, a eles a oportunidade de curtir evocações para fertilizar saudades. Um bom embalar lembranças a cada uma e cada um.
Mafalda atemporal Mafalda acaba de realizar o sonho de milhares de mulheres. Completou 50 anos e, por decreto, voltou a ter 48.
Mal começaram a se multiplicar as homenagens pelo meio século de vida da mais famosa personagem do quadrinista argentino Quino, criada para uma campanha publicitária jamais divulgada em 15 de março de 1962, o autor se manifestou adiando o aniversário em dois anos: o nascimento oficial da garota preocupada com os rumos do mundo seria em 29 de setembro de 1964, quando ela apareceu pela primeira vez em uma tira.
A confusão deixa margem à pergunta: entre todas as mulheres (de carne e osso ou papel), Mafalda comemoraria a chance de protelar os emblemáticos 50 anos? Sua amiga Susanita – aquela apaixonada por si mesma e que acreditava que a conjugação do verbo amar no presente perfeito era “filhos” – com certeza adoraria a possibilidade. E Felipe? O dentuço perdido em reflexões, provavelmente precisaria de uma superdose de Nervocalm diante da incerteza do dia do próprio nascimento. Mas Mafalda...
O mais fascinante sobre a garotinha que saiu de cena em 1973, mas segue cultuada por fãs fiéis ao redor do mundo, é seu olhar agudo sobre a realidade e as pessoas. Garimpando suas tiras, entre um comentário irônico sobre o embate entre o capitalismo e o comunismo naqueles agitados anos 1960, as aspirações da classe média e temas universais como a relação pais e filhos, ela aparece refletindo sobre o passar do tempo. Ao pensar no futuro, dali a 30 anos, quando a Terra teria 7 bilhões de habitantes e ela e seus amigos a idade de seus pais, ela conclui que estariam, além de apertados, velhos. Em outro momento, pergunta quantos anos alguém precisa ter para ser velho, ao que a mãe responde que o importante é ser jovem de espírito. Então, Mafalda arremata: “E quando o espírito começa a precisar de maquiagem?”.
Mas, a despeito da certeza infantil de que qualquer idade além dos 20 é velhice, Mafalda certamente estaria agora, seja aos 48, seja aos 50, mais preocupada com os desdobramentos da Primavera Árabe ou o novo bate-boca pelo domínio das Ilhas Malvinas do que com crises etárias. A garota que ainda na pré-escola se questionava sobre os rumos do movimento feminista e, olhando as roupas passadas, a louça lavada e o chão brilhando, perguntou certa vez à mãe o que ela gostaria de ser se vivesse, é anticonvencional demais para se preocupar com idade.
Aliás, mesmo cinquentona, Mafalda, pelas artes do traço, seguirá sendo a criança que ainda hoje, quando seus leitores se aproximam ou há muito passaram dos 50, é capaz de nos desconcertar. Afinal, como ela mesma disse, entre as pequenas e as grandes questões do mundo, “a humanidade não é nada mais que um sanduíche de carne entre o céu e a terra”.

7 comentários:

  1. Caro Chassot,
    Assim como você, curti e me deliciei com a Mafalda do Quino em tempos áureos. Concordo quando você diz que a leitura do século passado era melhor, na verdade os leitores eram melhores e, como escreve-se para que os outros leiam, é naturam que neste século de meios eletrônicos leia-se pouco e pouca qualidade se produza. Abraços literários, JAIR.

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  2. Bom, se os jovens lêem pouco, aposto que os meus leram um pouquinho mais quando tiverem mais idade... Hoje, navegam no Avião Vermelho do Érico, e confeccionam aviões de sucata, e voam no recreio como o capitão Tormenta.

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  3. Caro Chassot,
    também aprecio muito aquilo que foi escrito no século XX; entretanto, neste momento estou lendo sobre a produção de conhecimento da Idade Medieval e, por incrível que pareça, há muita coisa na Escolástica que precisamos resgatar.
    Um forte abraço,

    Garin

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  4. Boa tarde, Mestre!
    Falou em saudosismo, falou comigo!
    Vivo com um pé no século passado!
    E foi uma ótima crônica!
    Abraços!

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  5. Mafalda sempre provocando o "clique" da consciência no meio da distração do dia a dia.
    Sem dúvida as leituras do século passado nos remetem a maior preocupação e engajamento. O que parece estranho, pois quanto pior as coisas parecem mais despreocupados estamos. Saudades de Mafalda e de Enfil.

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  6. Caro Attico,

    que boa lembrança a da Mafalda! Mudemos o mundo antes que o mundo nos mude! Nuca esqueci da "pivetinha falante" que tantas verdades trazia em seu pensamento simples e profundo. Ainda na semana passada comentava sobre ela.

    Muito boa também a lembrança de Pilar. Henfil não pode ser esquecido: a Graúna, o Zeferino, O bode Orelana, os Fradins e tantos outros personagens continuam atuais em uma sociedade que não muda algumas concepções pois, como cantou Elis Regina, somos iguais a nossos pais.

    Abraços,

    PAULO MARCELO

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  7. Os jovens hoje em dia, estão cada vez mais ligados a jogos eletrônicos e redes sociais. Cada vez mais a leitura está sendo deixada para trás e junto se vai o censo crítico. Mafalda é uma personagem genial que nos faz refletir sobre problemas do cotidiano e de nós mesmos. Em vez dos jovens compartilharem tanta coisa fútil na internet, deveriam publicar tirinhas da Mafalda, que além de nos fazer rir, nos faz pensar.

    òtimo texto, abraços

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