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segunda-feira, 26 de março de 2012

26.- DOIS RAPAZES E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS



Ano 6       ***      Porto Alegre      ***        Edição 2063


Já vivemos a semana que encerra o primeiro trimestre do ano. Mais uma semana prenhe de atividades para despedir este março de tantos fazeres. As blogadas de segunda-feira, de uma maneira quase usual, são marcadas pelo produto de leituras da imprensa no fim de semana.
Hoje ofereço a leitoras e leitores deste blogue a crônica Dois rapazes e suas circunstâncias, da jornalista Cláudia Laitano, publicada na página 2 de Zero Hora do sábado que passou. Vale acompanhar reflexões que são muito densas.
Thor – Eis um desafio que a maioria de nós nunca vai ter que enfrentar: educar um menino que nasceu bilionário para tornar-se um adulto responsável e decente. Como se cria um bilionário? Como ajudamos alguém que sabe que não vai precisar trabalhar para viver a ser um sujeito com sonhos e ambições próprios? Como fazê-lo respeitar as regras que valem para todos se sua vida é tão diferente das outras? Como ensiná-lo a enfrentar os olhares de inveja e interesse despertados pela condição, alheia a sua vontade, de ter nascido tão rico em um país tão desigual?
Aos 20 anos, Thor não é apenas o filho mais velho do bilionário com a beldade: ele é um experimento pedagógico ambulante. Se Eike e Luma conseguiram educá-lo para ser um homem digno da fortuna que herdará, renova-se a nossa fé na capacidade dos homens de superarem e transcenderem suas circunstâncias – na fartura e na miséria, a pé ou de Mercedes. Meu juízo classe média me assopra que meninos de 20 anos e seus hormônios traiçoeiros não deveriam lidar com carros mais potentes do que a sua capacidade de discernimento e autocontrole. Mas, apesar do carro importado, dos advogados caros, do pai falastrão e das falhas da Justiça, que nem sempre trata ricos e pobres do mesmo jeito, Thor não merece ser julgado e condenado apenas pelas aparências.
Nem ele nem os meninos magrelas e pardos, sem nomes de deuses nórdicos ou pinta de galã, que precisam conquistar todos os dias o direito de contrariar os estereótipos.
O menino de Santo Ângelo – Nas reportagens, seu rosto e seu nome não aparecem, mas sua história anônima é parecida com a de muitos outros meninos de 15 anos – pelo menos 10% da população, segundo as estatísticas. Diferentemente da maioria, porém, esse menino não se escondeu. Meu juízo classe média teria aconselhado o guri a ficar na dele, discreto, evitando chamar atenção para si ou para o fato de ter descoberto, já aos 13 anos, que gostava de meninos. Mas ele fez tudo ao contrário: contou para os pais logo que pôde e aos colegas de escola na primeira oportunidade. As consequências foram as previsíveis: isolamento, gozação e depois violência física. Foi demais para ele – garotos de 15 anos tendem a superestimar sua capacidade de enfrentar adversidades. E o menino pensou em se matar.
O fato de ter pais amorosos e esclarecidos deve ter pesado para que ele desse mais valor à própria vida. Em vez de punir a si mesmo, botou a boca no trombone, reclamou, pediu ajuda, se expôs.
O filho de Eike, o menino de Santo Ângelo e todos nós somos produtos das nossas escolhas e das nossas circunstâncias. No caso do garoto gaúcho, sua coragem e seu pedido de ajuda podem ter servido para que outros garotos percebam que não estão sozinhos e que não devem desistir de denunciar a violência e a intolerância – mesmo que demore um pouco até serem ouvidos. Contrariando o bom senso, ele tornou-se um pequeno herói da resistência. Thor, por sua vez, vai ter que provar que, diante da primeira grande adversidade da sua vida, também saberá transcender suas circunstâncias – agindo como homem, e não como herdeiro.

8 comentários:

  1. Boa noite, Mestre!
    Ambos os jovens tem problemas enormes pela frente...
    Abraços!

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  2. Caro Chassot,
    esse texto da Claudia nos faz pensar um pouco mais antes de sair apontando o dedo e fazendo julgamentos apressados, apenas porque o sujeito é de família rica e famosa.

    Uma boa semana!

    Garin

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  3. Como o ditado "pai rico, filho nobre e neto pobre".

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  4. Caro Chassot,
    Também concordo que não podemos nem devemos julgar o indivíduo pela sua fortuna ou falta dela. Os ricos todos não são canalhas, e todos os pobres não só virtuosos e bonzinhos também. Contudo, ricos ou pobres, serão o que seus pais fizerem deles. Tenho ótima fonte em minha família que conta como filhos de bilionários podem ser trabalhadores, piedosos, honestos e e responsáveis. Os pais bilionários dessa pessoa a criaram como GENTE, tão somente isso. Gente que respeita os outros; gente que aprendeu que o trabalho é importante e que fortuna herdada não mérito próprio; gente integrada à sociedade que pauta suas atitudes como gente apenas, não como bilionário. E o que vale para os magnatas vale para os pobres, isso não preciso nem teorizar, nasci muito pobre e recebi educação de meus pais de modo que me tornei útil à sociedade. Abraços fraternos, JAIR.

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  5. Caro Chassot,
    Gostei muito do texto apresentado hoje no blog. Ele nós faz refletir sobre a criação dos filhos, afinal, são esses os nossos exemplos de responsabilidade, honestidade, respeito e todos os outros valores, sejamos ricos ou pobres!!
    Rebecca Vasconcellos

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  6. Mestre Chassot,
    Também achei muito interessante o texto abordado hoje.É um ponto delicado e interessante de se discutir já que a tarefa de educar, em especial no mundo de hoje com tantos desafetos e irresponsabilidade,é uma tarefa difícil e delicada,tanto pra uma família rica quanto pra uma família pobre.O sentimento de ser humano e os questionamentos feitos durante a vida não escolhe classe social,mas sim está presente em todos nós!

    Victória Campos

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  7. Olá!Tema interessante para refletir sobre pré julgamentos e problemas enfrentados por todos nós, ricos ou pobres!Cabe um pouco mais de respeito ao ser humano independente de classe social, econômica ou qualquer estereótipo.

    Abraço, Ana Gualberto

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  8. Caro Chassot,
    Concordo com sua reflexão, muitas vezes não é levada em consideração a dificuldade e os desafios, para educar um jovem bilionário, e quando nos deparamos com uma situação dessas, muitos julgamos e pensamos que alguém com tantas facilidades e um futuro garantido não tem motivos para ter problemas, porém é claro que a situação é bem mais delicada do que esta. Nos dois casos percebemos que estamos tratando de pessoas com sentimentos e dúvidas sobre si mesmo e sobre os outros, independente da classe social.
    Sara Malaguti

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