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sábado, 4 de fevereiro de 2012

04.- KARADIMA: ASCENSÃO / GLÓRIA / DERROCADA



Ano 6 *** Estrela / Porto Alegre  *** Edição 2012
Quando esta edição começar a circular, estarei quase chegando a Porto Alegre. À meia-tarde de ontem fui de ônibus à Estrela (a 120 km). Objetivo da viagem: avonar. Quando cheguei pude ficar por um tempo com o Guilherme (2005) e Felipe (2010). Foi muito gostoso brincar com eles. Há um tempo (e coloca tempo nisso!) não jogava ‘futebol’ e levei duas goleadas do Guilherme por 10 x 1, cada. Felipe se encantava com o ‘agora vou te pegar. Minha filha Ana Lúcia e meu genro Eduardo, uma e outro cirurgiões-dentistas só chegaram dos consultórios ao entardecer. Jantamos juntos. A foto registra um momento quando os dois já um dormir e me ofereciam um carinhoso boa noite.  Era 22h45min quando deixava a cidade, levado a rodoviária pela Ana Lúcia.
 Há quase quatro anos (desde março de 2009), por sugestão de meu ex-aluno do Curso de História do Centro Universitário Metodista do IPA – Marcos Vinicius Pacheco Bastos, a cada sábado publico dicas de leituras neste blogue. Usualmente, sirvo-me do resenhar de um livro que estou envolvido para sugerir leituras. Somente nos sábados em que este blogue se transmuta em “diário de viagem” abro mão da tradição de sugestão de leitura e conto de minhas andanças de então. Uma estimativa superficial me permite pensar em mais de 180 livros aqui comentados.
As resenhas têm diferentes matizes. Fico nas três deste ano. Dia 7, falei entusiasmado de um dos livros do escritor Amos Oz, por quem tenho admiração e portando marcou a sugestão. No dia 14, fiz uma fundamentada e difícil crítica a Umberto Eco pelo antissemitismo, anti-jesuitismo e outros preconceitos do personagem central de O Cemitério de Praga. No dia 21, escrevi sobre minha estada em Mendoza, fazendo uma ode a Baco a propósito de vinícolas  mendocinas e não houve dica de leitura. No dia 28, trouxe uma resenha anódina acerca de um livro popular de meteorologia.  Pois hoje trago um livro que é muito complicado comentar.
Ainda mais, preferia não fazê-lo. Todavia omitir-me seria muito mais grave e tenho obrigação de vencer minha dificuldade, ou o quase asco, em trazer o assunto: pedofilia entre membros da Igreja católica. Vou tentar fazer comentários do livro: Los secretos del imperio Karadima que foi publicado no Chile, nos últimos dias de dezembro de 2011 e que comprei no último dia 18 de janeiro, na livraria do Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos, cuja visita fez daquela quarta-feira memorável o dia mais emocionante (e também sofrido) do Chile. Detalhes na edição de 19 de janeiro.
Devo dizer que não conhecia nada acerca de Fernando Karadima e escolhi o livro apenas pelo título e por algumas chamadas que constam da quarta capa. Depois que me inteirei um pouco do caso, encontrei muitas outras informações. Há inclusive outro libro, que não tive acesso: Karadima: El señor de los infiernos da jornalista chilena María Olivia Mönckeberg.
Eis a ficha técnica do livro desta edição sabática.
VILLARUBIA, Gustavo; GUZMÁN, Juan Andrés; GONZÁLEZ, Mónica. Los secretos del imperio Karadima: la investigatión definitiva sobre el escándalo que remecio a la iglesia chilena. Santiago de Chile: Catalonia / UDP / CIPER, 2011; 480 p. 15 x 23 cm; 575 g. ISBN: 978-956-324-105-1
***Da página do CIPER~~ http://ciperchile.cl/ ~~ que merece ser visitada: Segunda edición de “Los Secretos del Imperio de Karadima” ya está en librerías. Durante enero el libro "Los secretos del Imperio de Karadima" se transformó en el más leído de acuerdo a los rankings de La Tercera y El Mercurio, agotando su primera edición en un mes 03FEB2012.
Os autores Juan Andrés Guzmán, Gustavo Villarrubia, Mónica González, são jornalistas vinculados ao CIPER Chile: Centro de Investigación e Información Periodística.
Guzman é editor do CIPER. É coautor de livros  como: La extraña muerte de un soldado en tiempos de paz e La guerra y la paz ciudadana e em 2011 obteve o Premio Periodismo de Excelencia da UAH. Vilarrubia é jornalista do CIPER. Viveu seis anos na India, como correspondente da CNN e foi correspondente de guerra no Iraque e Afeganistão. Mónica González é diretora do CIPER e já foi galardoada com vários prêmios chilenos e internacionais (Premio Mundial Unesco-Guillermo Cano de la Libertad de Prensa, Harvard University, Columbia University e Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano).
Acerca do livro alguns comentários: É preciso fazer uma crítica ao exagero subtítulo: ‘uma investigação definitiva’. O livro traz depoimentos colhidos ainda em julho de 2011 e mesmo em seu texto diz ‘até o momento não temos tal informação’. Não existe, especialmente nas Ciências Sociais, e de maneira especial, na área da sexualidade humana, uma investigação ‘definitiva’.
O livro, como trabalha com depoimentos a dois tribunais (civil e eclesiástico) de dezenas de envolvidos a favor e contra — e muitas vezes mais a favor — de Karadima, termina sendo muito repetitivo. Há detalhes (e não são poucos) que se lê três ou quatro vezes. Das 480 paginas, 100 são de anexos e destes há quatro depoimentos, alguns resultantes de horas de entrevistas de envolvidos aos autores. Estes depoimentos são riquíssimos, mas parte significativa já se conhece, por estar inserido em onze capítulos muito bem tramados.
¿Quem é Fernando Karadima? Fernando Salvador Miguel Karadima Fariña, (nascido em 6 de agosto de 1930) é um padre católico chileno suspenso por toda a vida, que formou uma importante associação religiosa, que deu origem a um número significativo de sacerdotes e bispos, alguns dos quais ocupam cargos na hierarquia atual da Igreja chilena. No ano de 2010 foi tornado público a existência de um número de queixas contra ele por abuso sexual. O processo civil, inicialmente arquivado, foi reaberto quando o processo canônico que corria em paralelo. Este condenou Karadima, em 16 de janeiro de 2011, por abuso sexual de crianças com a violência e abuso do poder eclesiástico. Em 21 de junho de 2011, o Vaticano rejeitou o último apelo de Fernando Karadima, confirmando sua culpa. Revogou os casos de pedofilia, deixando apenas o efebofilia. O Arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzati, anunciou a decisão da Santa Sé, o que confirma a sentença estabelecida em 18 de fevereiro, que o considerou culpado de abuso sexual.
Ascensão Karadima, filho de um imigrante grego e mãe chilena, estudou com os irmãos maristas, mas cedo teve que abandonar os estudos, devido a morte do pai, ajudou o sustento de seu irmãos trabalhando como caixa do Banco Sudamericano. Parece que estudou Direito um ou dois anos.
 Desde cedo esteve vinculado a Paróquia Sagrado Coração de Jesus na Avenida El Bosque, no bairro Providencia, um dos mais aristocráticos de Santiago. No final da década de 1940 participou de um grupo de jovens da Ação Católica, dirigido pelo então pelo jesuíta chileno, San Alberto Hurtado [1901-1952; canonizado por Bento 16 em 2005]. Deste grupo de jovens surgiu vocações para o sacerdócio, a maioria entrou na Companhia de Jesus: outros, como Fernando Karadima, entrou no Seminário Pontifício  a Arquidiocese de Santiago. Ele se dizia muito proximo do padre Hurtado, que fora seu secretário e que o acompanhara seus últimos dias no hospital e recebera dele orientações para ser também um santo. Tinha objetos que dizia ter recebido do mesmo. Hoje, sabe-se Fernando exagerara na história de seu relacionamento com o santo chileno, e o que conheceu apenas incidentalmente e de longe, e que o argumento da sua proximidade com Alberto Hurtado usado como uma estratégia para dizer-se santo como o jesuíta.
Em 1958 foi ordenado sacerdote diocesano. E continuou na Paróquia Sagrado Coração de Jesus mais conhecida El Bosque que gozava de regalias, pois era administrada pela  Pía Unión Sacerdotal (PUS). A PUS é uma sociedade dentro do clero diocesano e atua de forma independente do arcebispo diocese.
Glória Em 1980 ele foi nomeado pároco principal em El Bosque. A partir daí, ele começou a formar dezenas de seminaristas. Orgulhava-se que era sua paróquia quem mais dava origem a padres e bispos. Suas missas eram concorridíssimas e os fiéis, especialmente os jovens, o reverenciavam com um santo.
Nesta situação tinha um grupo especial de jovens que eram muito próximos. Alguns destes foram abusados sexualmente. Um deles (James Hamilton), que depois será um dos principais acusadores, primeiro como estudante de Medicina e depois como médico, teve uma relações sexuais com Karadima, quase diárias por cerca de 20 anos. Karadima era diretor espiritual de James e foi ele que lhe escolheu a namorada (Verónica Miranda, que desejava ser mnja) a quem também ‘dirigia espiritualmente’. Ele determinou período de namoro, data de casamento, local de lua de mel e as sucessivas trocas de residências que impunha à família. Este casamento, que gerou três filhos, pode ser anulado em um tribunal eclesiástico, pois Hamilton provou sua falta de liberdade na escolha da esposa;
Viajava a quase cada ano durante semanas a Europa, levando sempre dois o três de seus protegidos, que frequentava os melhores restaurantes e gastavam em compras de objetos de coleção (relógios, por exemplo) custosos. Em uma oportunidade Karadima foi com Hamilton e outro jovem a Nova Iorque e fez um voo de helicóptero sobre Manhtan.
Com dinheiro dos fiéis, Karadima — cuja fama de santidade aumentava —comprava imóveis milionários para seus familiares e para a associação religiosa que fundara.
Karadima, muito ligado com direita chilena, esteve envolvido no acobertar o assino de René Schneider Chereau, comandante em Chefe do Exército na época da eleição presidencial de 1970, quando ele foi morto por um grupo de ultradireita, durante uma tentativa de sequestro.
Derrocada A queda do todo poderoso foi lenta. A cada denúncia — e uma das primeiras foi de Verônica, esposa de Hamilton — surgiam dezenas de depoimentos sobre a santidade do ‘curita’ e sempre se buscava desqualificar o acusador. Se este fosse homossexual era o suficiente não se dar crédito em suas afirmações.
Desde 2004 queixas formais foram feitas a autoridade eclesiástica de ex-paroquianos e padres da paróquia de El Bosque, relacionados a abusos contra Fernando Karadima, causando uma comoção no Chile, para as implicações do assunto com aristocracia de direita chilena. Depois de anos de atraso, uma denúncia nos EUA, graças a uma entidade que se dedica a investigar abusos de sacerdotes. O assunto passa a ser trazido na imprensa chilena. O médico James Hamilton aparece em programa de televisão especial e faz uma denúncia pública. O livro aqui comentado, produto de exaustivas investigações dos três jornalistas deixa claro, com provas e história, tudo sobre as conexões e os danos causados a muitas vítimas, muitas das quais ainda escondidas nas sombras da ignorância e da injustiça. Finalmente, nesta investigação completa e precisa é mostrado que as ações de Fernando Karadima escaparam de longe às fronteiras de El Bosque, que afetam e impactam fortemente sobre a credibilidade dos altos escalões da sociedade chilena.
O Vaticano, com bases nas provas adquiridas, declara que reverendo Fernando Karadima é culpado dos delitos. Em consideração à idade e ao estado de saúde se considera oportuno impor ao culpado, retirar-se a uma vida de oração e de penitência.
O decreto do Vaticano impõe também a pena expiatória de proibição perpétua do exercício público de qualquer ato de ministério, em particular, da confissão e da direção espiritual de qualquer pessoa. Se não cumprir essas medidas, o padre poderá receber penas mais graves, não excluída a demissão do estado clerical.
Encerro, em função do que li nesta semana, dizendo que considero muito bem posto o título do livro da jornalista chilena María Olivia Mönckeberg, mesmo que não tenha lido, Karadima: El señor de los infiernos.

6 comentários:

  1. Amigo Chassot,
    infelizmente, o meio religioso é propício a esse tipo de crime. Já acompanhei outros processos nos quais algum 'líder espiritual' destacado, quase santo, serve-se da sua 'fama eclesiástica' para acobertar deturpações sexuais na forma de abusos.

    Bom sábado!

    Garin

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  2. Chassot,

    excelente resenha. É importante que estes casos venham à tona e sejam julgados. Muito grave, realmente dá asco.

    Grande abraço,
    Guy.

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  3. Pai
    que linda a foto de vocês três. Foi maravilhosa a tua presença.
    Beijos Ana

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  4. Ana Lúcia,
    filha querida,
    para mim foram momentos indizíveis
    pai

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  5. Qual a Igreja verdadeira ? Existem tantas denominações, após 1517, com Lutero.
    A Igreja verdadeira é aquela a quem mais satanás tenta destruir: Padres pederastas, calúnias de todo tipo. ladrões que lavam dinheiro da máfia no banco ambrosiano..Enfim, crises de todo o tipo (como teólogos hereges também). Não é difícil saber qual é...Há santos nela também.
    Por que será que ainda está de pé ? As crises não começaram de agora . Sempre viveu em meio as piores crises.
    Há quem cite São Malaquias, mas...São Malaquias fala do fim do papado e não do fim da Igreja. Pra que papa se os tempos acabarem ? Pra que papa se Cristo voltar ?

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  6. Karadima é café pequeno. Leiam sobre Marcial Maciel

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