Ano
7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2219
Ontem, contei
aqui, que nesta quarta-feira, à tarde devo ir a Santa Cruz do Sul, para
participar de sua 25ª Feira do Livro.
Falo em um painel: Ficção Científica e
Ciência. Faço, com a parte dois de minha fala desta tarde esta blogada. Ela
complementa o segmento trazido ontem, que falava nos longevos sonhos de voar.
Talvez, ficção e realidade se fundam em um desejo longevo
dos humanos. Os sonhos primevos de voar da humanidade, numa leitura Ocidental
se iniciaram, na mitologia grega, com Ícaro — com sua audácia em ousar nos
planos estabelecido pelo pai de Ícaro, Dédalo, um talentoso e destacado artesão
ateniense. Tentou deixar o seu exílio na ilha de Creta, onde ele e o seu filho
estavam presos nas mãos de Minos, o rei para o qual ele havia construído o
Labirinto para confinar o minotauro (metade homem, metade touro). Dédalo, o
artesão-chefe, estava exilado porque deu à filha de Minos, Ariadne, um novelo
de linha para ajudar Teseu, um inimigo de Minos, a sobreviver ao Labirinto e
derrotar o minotauro.
Dédalo confeccionou dois pares de asas, usando penas de
gaivotas e cera de abelha, para ele e para seu filho. Antes de deixarem a ilha,
Dédalo avisou ao seu filho não voar próximo ao sol, pois o calor derreteria a
cera, nem tão rente ao mar, pois a umidade deixaria as asas mais pesadas
levando-o a cair no mar. Graças à enorme liberdade que o voar deu a Ícaro, este
cruzou o céu, mas, não se limitou a uma trajetória mediana e com audácia se
aproximou do sol, que derreteu a cera. Ícaro se manteve batendo as asas, mas
logo se deu conta que já não lhe sobrava qualquer pena e que ele estava batendo
apenas os seus próprios braços. E assim, Ícaro caiu no mar na região que
recebeu o nome dele – o mar Icário próximo a Icaria, uma ilha a sudoeste de
Samos.
Escritores helenísticos que deram sabedoria filosófica ao
mito também preferiram mais realidade à ficção: deixar Creta por água, e Dédalo
criou os primeiros barcos, para Minos possuir galeras, e que Ícaro caiu a
caminho da Sicília e se afogou. Hércules construiu um túmulo a ele.
Desde então, se fertilizaram no imaginário de gerações
romances de aventuras como os de Júlio Verne, (1828-1905), escritor francês considerado
o pai da ficção científica. Seu primeiro sucesso foi Cinco semanas num Balão (1863). Com seus fantásticos romances como Viagem ao centro da Terra (1864), Da Terra à Lua (1865), Vinte mil léguas submarinas (1870), Ilha Misteriosa (1870) e Volta ao mundo em 80 dias (1873) previu
várias descobertas do século 20 e excitou o interesse dos leitores com suas
histórias de aventuras científicas. Suas obras ficcionais
foram
fontes para muitos filmes.
Estas
leituras nos fizeram escritores. Pessoalmente exemplifico com três historinhas,
que escrevi inspiradas talvez em Júlio Verne, produtos de um período gostoso
que me deleitava em narrativas para meus filhos. Uma viagem a lua, onde dois meninos constroem uma pandorga e chegam
a lua; A moto voadora, na qual uma
menina põem duas asas de isopor em uma moto e sobrevoa Porto Alegre; e, Um tratado de paz, quando dois meninos
tomam um elixir que os reduz de tamanho e eles conseguem entrar em formigueiro
para celebrar um acordo com formiga-rainha. As duas primeiras foram premiadas
em concurso nos anos 80 e publicadas em antologias.
Mas,
já direcionando minha fala a conclusão quero encontrar outra dimensão para a
‘ficção científica’ fugando talvez da proposta deste painel. A direção poderia
até ser inspirada em um livro que li em minha juventude e do qual não tenho
mais notícia: E a Bíblia tinha razão,
do alemão Werner Keller; mas minha análise e a direção são opostas as teses do
livro. Vou ousar ser tachado de blasfemo em uma cidade que traz no nome a marca
de sua religiosidade.
Mas
antes me protejo e trago algumas salvaguardas. O conhecimento
apresentou-se/apresenta-se de diferentes formas no processo histórico. Os
humanos milenarmente tentam compreender o mundo em que vivem e a si mesmo,
enquanto se consideram inseridos nesse mundo natural. A Ciência não foi /não é
a única maneira de revelar o conhecimento produzido e também de produzi-lo.
Antes dela, e com ela, existiram/existem outras: os mitos, o pensamento mágico,
as religiões, o senso comum, os saberes primevos. Usualmente faço extensa
discussão acerca do foco presente em cada um destes seis óculos. Gostaria de
poder fazer aqui e agora, mas isso monopolizaria mais tempo, quando já me faço
latifundiário.
Aqui não se elege a Ciência o melhor dos
óculos para ler o mundo natural e muito menos se defende a exclusividade de um
dos seis mentefatos culturais citados. Vou olhar alguns relatos religiosos, não
com os óculos das religiões, mas o óculo da Ciência. Lateralmente afianço que
um e outro dos dois óculos têm focos diferentes. As religiões têm uma exigência
fulcral: a fé e Ciência usa a razão.
No
meu livro A Ciência é masculina? É, sim
senhora! mostro como os mitos se constituíram / se constituem como se fossem livros
sagrados de muitas culturas. Se olharmos
especialmente os relatos mitológicos gregos
e como ‘se construíam’ os seus deuses isso
fica por demais evidentes.
Diferentes povos
têm suas cosmogonias em seus relatos
fundantes. Há aqueles que consideram as assim
chamadas ‘revelações
divinas’, como aquelas que estão, por exemplo , na Bíblia judaico-cristã como
míticas.
Amanhã,
provavelmente a continuação — com um segmento mais ‘desabilitador’ — trago a
terceira e última parte.
Maravilhosa palestra, traz-nos a sensação de presença.Seu relato coerente de tema tão polêmico prende a atenção e fomenta a curiosidade de saber mais.Mitos e lendas transformam-se em verdades absolutas de acordo com a conveniência de cada povo. Na leitura de "Os Deuses do Eden" de Wiliam Bramley podemos observar bem esta mistura.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirMestre Chassot tem sagaz tendência
De com labor, técnica e paciência
Expor seu pensamento
Do feliz casamento
Entre os demais saberes e ciência.