Ano 7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2204
Hoje é uma terça-feira
feira atípica. As aulas de Teoria do Desenvolvimento Humano no Centro
Universitário Metodista do IPA da manhã e noite serão intermediadas por uma ida
a Santa Cruz do Sul [160 km de Porto Alegre] de ônibus para proferir, à tarde,
uma palestra para o curso de Química na UNISC.
A manchete
está correta: “Há saúde sem médico!”. Ela contradiz a insistente publicidade de
órgão classista de médicos, que repete ad
nauseam: “Não há saúde sem médico!” se sobrepondo, corporativistamente a
outras profissões como dentistas, enfermeiros, fonoaudiólogos, fisioterapeutas,
terapeutas ocupacionais, psicólogos, educadores físicos etc.
Há instituído um
movimento em defesa do considerar o parto um evento não médico. Há
profissionais que querem, marcado com exclusividade, detentores de ‘mercadejar’
esta ação. Os mesmos que diziam que acupuntura esta prática charlatã agora
acham que só eles podem colocar agulhas.
Neste sábado,
na p. A3, da Folha de S. Paulo escreveu um médico de bom senso. Convido meus
leitores a apreciar a Luiz Roberto Londres, 71 anos, médico e mestre em
filosofia pela PUC-RJ. O presidente da Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro
escreveu O parto não é um evento da medicina.
Desmedicalizar
a saúde e desospitalizar a doença. Foram esses alguns dos muitos princípios que
aprendi ao longo de meu curso médico, da minha atuação em consultório e em
hospitais e, mais tarde, no intenso convívio com figuras ímpares em nossa
atividade.
Há 47 anos
dirijo um hospital geral no qual, por muitos anos, havia uma maternidade.
Convivi com colegas importantes e representativos da obstetrícia, com um intenso
movimento de internação.
Havia, entre
eles, diferenças de posturas e de estatísticas, como no tempo de internação ou
da utilização da sala cirúrgica, fosse por parto normal, fosse por uma operação
cesariana. A seu lado, acompanhando as suas pacientes, estavam parteiras que se
revezavam e ministravam cuidados pré e pós-parto.
Elas, muitas
vezes por impedimento do médico, faziam o parto de suas clientes. O sucesso de
sua atuação e a satisfação pelo seu atendimento era uma unanimidade.
O parto — e é
importante que isso seja reconhecido — não é um evento da medicina, é um evento
da vida.
Ele só passa a
ser objeto da ação médica quando sua evolução aponta ou demonstra uma
dificuldade ou uma anormalidade. E isso costuma ser detectado através de um bom
acompanhamento pré-natal.
Essa é a principal
conscientização que deveria ser feita por aqueles que têm a missão de velar
pela boa medicina. Como também em relação ao índice absurdo de operações
cesarianas, em que o Brasil é um dos campeões mundiais. Em nosso país, o índice
está em quase 50%. Na saúde privada, ronda os absurdos 80%. Essa é a grande
distorção que hoje vive a nossa obstetrícia.
Um documento
do Ministério da Saúde de 2010 diz que "o parto e o nascimento domiciliar
assistidos por parteiras tradicionais inserem-se no contexto das ações básicas
de saúde". Em países de reconhecida qualidade de atendimento médico como
Japão, Inglaterra, Suécia, Itália, França, Alemanha, EUA, Nova Zelândia,
Austrália e Áustria há movimentos pela desospitalização do parto.
Neste mesmo
documento, há esta citação: "A hospitalização e o maior domínio das
técnicas ampliaram as possibilidades de intervenção, tendo como um de seus
resultados o progressivo aumento de cesarianas desnecessárias, aumentando os
riscos à saúde para mulheres e bebês e implicando em elevação de custos para o
sistema de saúde".
Uma publicação
da Organização Mundial de Saúde, "Having a Baby in Europe", diz que
nunca foi provado que hospitais são locais mais seguros do que o domicílio para
uma mulher que desenvolve uma gestação sem complicações. Diz ainda que estudos
de partos domiciliares programados, em países desenvolvidos, mostram que as
taxas de complicações e morte para mãe e filho são iguais ou melhores que as
dos hospitais nos casos semelhantes.
E então? Vale
mais a resolução 265 de 2012 do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro
(Cremerj), que proíbe médicos de assistirem partos domiciliares e a presença de
parteiras nos partos hospitalares, ou o exposto por entidades como o Ministério
da Saúde e a Organização Mundial de Saúde? Ou simplesmente nosso bom senso?
Um detalhe importante somaria ao comentário do médico. Hoje temos mais um fator de risco nos hospitais é a famigerada infecção hospitalar. Nos nosocômios encontramos verdadeiras superbactéricas, cito por exemplo o stafilococus aureus, que na sua versão marza é fulminante e devastador levando até a óbito. Não só em relação ao parto, mas em qualquer doença a recomendação é que o ambiente hospitalar seja frequentado o estritamente mínimo necessario.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirMédicos do Brasil querem dinheiro farto
Por isso proíbem nascimentos no quarto
Contrário a sua cultura
Fazem até acupuntura
Agora impedem que parteiras façam parto.
Caro Chassot,
ResponderExcluirtambém tenho me enojado com a publicidade que mencionas acima. É notória a prepotência de uma categoria de trabalhadores da saúde que tentam se atribuir a exclusividade sendo que boa parte dela nem sabe o que significa "saúde"!
Um abraço,
Garin
Concordo com o Garin!
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