Ano
7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2220
Esta quinta-feira
— que para mim terminará em Vitória, no Espirito Santo — já tinha mais de 1
hora quando cheguei à Morada dos Afagos, procedente de Santa Cruz do Sul. Vivi
uma noite inebriante na oitiva de Antonio Skármeta.
A materialização é um exemplar de um exemplar
de “O Carteiro e o Poeta” com uma dedicatória. Comprei também o último livro “O
dia em que a Poesia derrotou um Ditador” lançado no Brasil esta semana. Mas da fruída
noite e dos livros postergo comentários para o sábado quando aqui se fala de leituras.
O painel ‘Ciência
e ficção científica’ foi bom. Houve uma desvantagem pois o local não colaborou.
Um grande toldo de lona, como cobertura em meio uma praça aberta com dezenas de
crianças promovendo uma algaravia. Adite-se a isso uma temperatura enregelante.
Meu texto escrito, cuja terceira parte transcrevo abaixo não teve um bom cenário
para acolhê-lo.
Preciso
registrar dois destaques: reencontrei minha ex-aluna Adriana Rossi, uma
paleontóloga doutora em palinologia, que é professora na UNISC e que eu há
muito não via. Foi muito mitigar um pouco de saudades de um curso que já tem décadas
de passado e é ainda gostosamente evocado. Outra referência das horas no vale
do Rio Pardo foram as continuadas atenções do Iuri João de Azevedo, da
Pró-reitoria de Extensão da UNISC, que foram desde a chegada na Rodoviária às
15h30min ao embarque às 22h30min.
Completo esta
blogada, com a transcrição da parte final de minha fala. Que mesmo tendo como
cenário a mais famosa catedral gótica do Rio Grande do Sul, não teve as iras do
céu.
Aqui e agora
ouso: passo a considerar diferentes passagens tanto do Antigo como do Novo
Testamento como textos que se constituem como seminais de uma genuína e muito
preciosa ficção científica. Isto é tão sintomático que há ortodoxos que não os
põem em dúvidas, são sólidas verdades. Houve até alguns por descrê-los que
foram levados a fogueira ou condenados ao silêncio perpétuo como Hipácia, Bruno
e Galileu. Em oposição há aqueles que fazem desta ficção científica texto de
cunho científico como, por exemplo, nas muitas discutidas datações da idade da
Terra. Assim, para saber o momento da criação, ou, dito de outra
forma, a idade da Terra, bastava somar as idades dos patriarcas. Esta tarefa,
complexa devido às lacunas e contradições entre os testamentos, foi
efetivamente realizada pelo bispo de Usher, em 1650: Deus criou a Terra no dia
26 de outubro do ano 4004 a.C. (MOORE, R. 1956. The Earth we live on. Alfred A. Knopf, New York, 310 pp.).
Há os que vivem estes textos quase em delírios, como um dos cientistas
brasileiros mais importante: ele diz ver nas moléculas do barro que Deus moldou Adão as
impressões digitais do Criador: “Em todas as moléculas vemos ‘a mão e a mente’
de nosso Criador. [...] Por isso, sabemos que não há no Céu e não há na Terra
Deus como o Senhor!”
Assim para textos que se diz ser
‘a palavra de Deus’, ‘relatos sagrados’, textos científicos’ acrescento outra
leitura: ‘peças de ficção científica’.
Poderia trazer uma extensa exemplificação. Restrinjo-me a três de cada um dos
testamentos. Também vou apenas citá-las de memória sem detalhá-la — pois estão
no imaginário de cada uma e cada um — e muito menos preciso referir a fonte.
Esta é sabida de todos.
Assim, serve de exemplo, no Antigo Testamento:
1. a cosmogonia com o magnifico
relato da criação em seis dias especialmente da criação do homem a partir de um
boneco de barro e o relato de uma primeira clonagem, quando da criação da
mulher.
2. a construção da arca e o
alojamento e a alimentação dos amimais na arca com divisões para os de clima
equatorial e os de clima polar e os cuidados para não autodevoração dos casais
selecionados.
3. (e há tantos para preencher este
posto, mas fico com que muito me encucou na minha infância) a estada de Jonas
dentro da baleia. Segundo o relato bíblico, durante a viagem acontece uma
violenta tempestade. Esta só acaba quando Jonas é lançado ao mar. Ele é
engolido por um "grande peixe [em grego këtos]" (Jonas 1:17) e no seu
estômago, passa três dias e três noites. Sentindo como se estivesse sepultado,
nesta situação arrependido reconsidera a sua decisão. Tendo se arrependido, é
vomitado pelo "grande peixe" numa praia e segue rumo para Nínive.
Do Novo Testamento, há muitos, mas seleciono, também, apenas três:
1. A fecundação
de uma virgem, por um emissário celeste, seguida de uma gravidez e um parto
onde a virgindade não é perdida.
2. A
transformação da água em vinho e a multiplicação dos pães e dos peixes.
3. (aqui quisera
analisar a beleza de textos reconhecidos pelos evangelistas como ficcionais como
as parábolas e destas me encantam especialmente três: a do filho pródigo / do
bom pastor / da dracma perdida. Mas como poderia ser não consideradas ‘ficção
cientifica, escolho outro para terceiro) A ressureição de Lázaro.
Assim como,
por exemplo, uma mesma verdade tem leituras diferentes para distintas denominações
religiosas — o simbolismo do pão e do vinho na Eucaristia católica tem
diferente significado na liturgia luterana e esta tem significado diferente na
metodista — quando uso os óculos da Ciência, ao ler alguns textos bíblicos como
metafóricos ou como ficção científica, não impede, lê-los com óculos da fé e
crê-los como a verdade inspirada por uma divindade.
Isto posto,
parece que não fugi do tema, uso a Ciência, para ler alguns textos ditos inspirados,
e os vejo como ficções cientificas, sendo está uma direção para dialogar nesse
painel.
Nesta seara tão polêmica que é o binômio religião e ciência, vivemos como na obra de Platão, em uma grande "caverna". E tal qual os personagens, a resistência a luz do conhecimento é grande. Entendo da insolubilidade dos elementos deste binômio, mas pelo que entendi da explicação do Mestre, havemos de acrescentar um terceiro personagem; a fé. E nesta tríade o estudo torna-se harmonioso de compreensão mais plausível. Parabens ao abnegado Mestre pela excelente dissertação.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirCitou a bíblia como obra de ficção
Ele mostrou onde ciência tem razão
Homem equilibrado
Vê o certo e errado
Dos santeiros contrariou opinião.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSim, o painel sobre Ciência e Ficção Científica foi prejudicado pelo local inadequado, dificultando a atenção. Mas mesmo assim, o prof. Chassot apontou, com a erudição e clareza características, a uma campo muito fértil (e polêmico, claro), ou seja, entender-se os textos considerados sagrados como narrativas ficcionais, mais especificamente, de ficção científica, na medida que apresentam, entre outros elementos, “tecnologias” sem existência na realidade que vivemos. Em tempos de um paradoxal recrudescimento do obscurantismo, das mais bizarras superstições, Chassot está, para mim (e para muitos) ao lado de outras figuras queridas, faróis para a inteligência humana, como astrofísico norte-americano Carl Sagan, com obras tão necessárias como “Pálido Ponto Azul” e “O Mundo Assombrado pelos Demônios – A Ciência vista como uma vela no escuro”. Acredito que o prof. Chassot, com livros como o tão acessível e instrutivo “A Ciência Através dos Tempos”, tem feito um serviço dos mais profícuos. Para mim foi um privilégio estar alguns momentos com pessoa que junta em si sabedoria, ação, desprendimento e carinho incomuns.
ResponderExcluirIuri - Santa Cruz do Sul
Muito estimado Iuri,
ResponderExcluirprimeiro agradecer os generosos (e muito exagerados) elogios a minha fala na 25ª Feira do Livro de SCSul. Segundo dizer que o blogue deste sábado pública, com créditos uma foto tua.
Com expectativa de continuadas parcerias,
attico chassot
Deus é Deus e nenhuma opinião humana pode alterar isso....Glória a deus!!! Espero que o responsável pelo blog aprove minha postagem...ironia, mas nem todas são aprovadas...
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