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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

15.- DEITAR E ROLAR



Ano 7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2202

Uma quarta-feira ainda com ressaibos da extensa terça-feira onde as aulas de Teoria do Desenvolvimento Humano nas turmas da manhã e da noite foram recheadas de discussões. Mostrar às duas turmas que, antes da discussão do Manifesto da Sociedade Brasileira de Genética deveríamos ‘arrumar nossas caixas de ferramenta’ foi precioso.
A viagem à Santa Cruz do Sul — no entre-aulas — ensejou ainda um gostoso estar professores e alunos do curso de Química na UNISC e outras presenças de ex-alunos que não via há mais de 40 anos. Foram duas horas que se fizeram fugazes. Foi gratificante merecer inúmeras cortesias do coordenador dos cursos de Química, Prof. Dr. Wolmar Alípio Severo Filho.
Quando se faz uma maratona como a de ontem só resta exultar também com pela capacidade física. Li nesta direção a excelente crônica Deitar e rolar de Ruy Castro, escritor que em mais de uma oportunidade foi trazido aqui. Este texto foi publicado na Folha de S. Paulo, do dia 13, que aprendi ser o dia internacional do canhoto. Assim, aqui e agora, um convite para tecer loas a mobilidades que vez ou outra não valorizamos.

Seis meses depois de uma fratura em quatro partes e de uma cirurgia de cinco horas — da qual saiu com um ombro enriquecido por uma prótese de cobalto e titânio —, o braço esquerdo reaprende a fazer movimentos de cuja complexidade nunca suspeitara. Já tem extensão, flexão, rotação externa e força muscular para, por exemplo, bater palmas no teatro, usar garfo e faca para cortar o bife, repuxar o queixo para fazer a barba e espremer o finzinho do tubo de pasta de dente.
Importante: já consegue até corresponder ao abraço de uma amiga, enlaçando-a pela cintura enquanto a estreita com o outro braço. Mas coçar as costas, calçar as meias, dar nó nos cadarços, cortar as unhas dos pés ou devolver ao lugar as calças que ameaçam cair já é outra história -são práticas que exigem preparação psicológica e indômita vontade de vencer.
Certos gestos que, no começo, eram quase impossíveis têm gosto de vitória quando voltam a ser executados. Como abrir e dobrar o jornal, ensaboar a axila direita ou puxar e afixar o cinto do carona no carro. Claro que ainda levará tempo para que o dono do braço — eu — consiga realizar uma das grandes proezas do ser humano: levantar a mala sobre a cabeça e acomodá-la naquele compartimento do avião.
Enquanto isso, nada supera a felicidade de poder voltar a dormir apoiado sobre o ombro esquerdo. Equivale a recuperar 33,33% de posições na cama, até então limitadas a dormir de barriga para cima ou sobre o ombro direito. A felicidade só será completa, no entanto, quando o cidadão puder fazer isso com a antiga agilidade e destreza — quando, com todo respeito —, voltar a deitar e rolar.
Enfim, quando ele próprio recuperar tal liberdade de movimentos que o faça se esquecer de como, um dia, esses movimentos lhe pareceram tão inalcançáveis e maravilhosos. 

5 comentários:

  1. Realmente certos detalhes em nossas vidas só são dados valor em uma eventual perca. Superar barreiras, ainda que pareçam extremamente pequenas, torna-se um desafio de vitória altamente gratificante. Nestas horas vemos verdadeiros exemplos de superação.

    abraços

    Antonio Jorge

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  2. Limerique

    Colunista com problema no ombro
    Seu braço esquerdo um escombro
    Fez fisioterapia
    Com muita energia
    Já é halterofilista, um assombro.

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  3. Caro Prof. Chassot.

    Vejo que teve um bom retorno a Porto Alegre a tempo de chegar às aulas da noite.
    Para mim constituiu uma grande satisfação reencontra-lo após mais de 40 anos e poder assistir tua brilhante e instrutiva palestra, onde quase duas horas passaram como se fossem dez minutos. Apreciei cada palavra, em particular quando falaste no preconceito de que foi alvo Alan Turing. Explico: Devo apresentar um trabalho (junto com outros colegas da Piscologia) abordando o tema PRECONCEITO, e pareceu-me uma boa idéia mencionar as tuas lâminas sobre A. Turing, exemplo de um preconceito tão devastador, até como uma forma de homenagem aos 100 anos que são referendados e menção à tua excelente palestra sobre eventos das ciências.
    Assim sendo, apreciaria se pudesses me enviar as lâminas..
    Espero ter oportunidade de reve-lo dia 29 na feira do livro da UNISC. Em Sta. Cruz, onde agora resido, estou a tua disposição. Abç., Lau

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