ANO
9 |
O ‘novo’ Para que(m) é útil o ensino?
está na Livraria Virtual
|
EDIÇÃO
2890
|
Há um mês (08AGO2014), uma das
mais respeitadas filósofas brasileiras, Marilena Chauí, professora da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, ao proferir sua Aula
Magna sobre o tema “Contra a Universidade Operacional”, que lotou com centenas
de pessoas o auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP) afirmou
que a USP, como suas congêneres, transformou-se numa “fábrica de produzir
diplomas, teses”, tendo como parâmetros os critérios da produtividade:
quantidade, tempo, custo. “Esse horror do currículo Lattes. É um crime
o currículo Lattes! Porque ele não quer dizer nada. Eu me recuso a avaliar
alguém pelo Lattes!”, disse Marilena.
As frases fortes mereceram da
plateia aplausos entusiasmados.
Na sua exposição de uma hora, esmiuçou
o processo por meio do qual a universidade pública brasileira vem sendo
transformada e descaracterizada, desde os anos 1970, deixando de ser uma instituição
social para tornar-se uma organização, isto é, “uma entidade isolada cujo
sucesso e cuja eficácia se medem em termos da gestão de recursos e estratégias
de desempenho e cuja articulação com as demais se dá por meio da competição”.
A “universidade operacional”
corresponde à etapa atual desse processo, segundo Marilena. De acordo com ela,
“a forma atual de capitalismo se caracteriza pela fragmentação de todas as
esferas da vida social, partindo da fragmentação da produção, da dispersão
espacial e temporal do trabalho, da destruição dos referenciais que balizavam a
identidade de classe e as formas da luta de classes”. A passagem da
universidade da condição de instituição social (pautada pela sociedade e por
uma aspiração à universalidade) à de organização insere-se, diz Marilena,
“nessa mudança geral da sociedade, sob os efeitos da nova forma do capital, e
no Brasil ocorreu em três etapas sucessivas, também acompanhando as sucessivas
mudanças do capital”.
Na primeira etapa (anos 1970,
“milagre econômico”), a universidade tornou-se “funcional”, voltada para o
mercado de trabalho, sendo “prêmio de consolação que a ditadura ofereceu à sua
base de sustentação politico-ideológica, isto é, à classe média despojada de
poder”; na segunda etapa (anos 1980), passou a ser “universidade de
resultados”, com a introdução da ideia de parceria com as empresas privadas; a
terceira etapa (anos 1990 aos dias de hoje), em que virou “universidade
operacional”, marca o predomínio da forma organização, “regida por contratos de
gestão, avaliada por índices de produtividade, calculada para ser flexível”,
estruturada por estratégias e programas de eficácia organizacional e “por
normas e padrões inteiramente alheios ao conhecimento e à formação
intelectual”.
A tecnocracia associada a esse
modelo, explicou, “é aquela prática que julga ser possível dirigir a
universidade segundo as mesmas normas e os mesmos critérios com que se
administra uma montadora ou um supermercado”. De modo que se administra “USP,
Volks, Walmart, Vale do Rio Doce, tudo da mesma maneira, porque tudo se
equivale”.
Agradeço ao meu
colega Prof. Dr. Norberto da Cunha Garin, do Centro Universitário Metodista do
IPA, que me remeteu a notícia.
Fonte com mais
informações: teiaufmg.com.br/e-um-crime-o-curriculo-lattes-diz-marilena-chaui/
Complementando o raciocínio, a iniciativa privada, na falta do Estado, assumiu as rédeas da educação transformando a relação em simples ato de consumo. O aluno virou cliente e o ensino virou produto. Como nem sempre o que vende é o que presta, e sim o que tem melhor marketing, nossa educação hoje beira o caos.
ResponderExcluirEm tempos farroupilhas diria: Um verdadeiro coice nos EDUCAPITALISTAS... ou não?
ResponderExcluirGrande abraço.