ANO
9 |
M A N A U S - AM
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EDIÇÃO
2901
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Uma sexta manauara. O único dia completo aqui, desta viagem. Quando cheguei, ontem a quinta já avançava.
Depois ela se fez plena de fazeres. Nas primeiras horas de amanhã inicio o
retorno.
Hoje, minha palestra centra-se no diálogo entre os sabores. Dentre
os meus escritos mais recentes, ofereço como referência CHASSOT, Attico. A pesquisa de saberes primevos catalisando
a indisciplinaridade. p. 115-133, em
O Ensino Médio e os Desafios da Experiência: movimentos da prática
AZEVEDO, José Clovis; REIS, Jonas Tarcísio (orgs). São Paulo: Fundação
Santillana e Moderna, 2014, 237p. ISBN 978-85-63489-22-7 este livro
está disponível na íntegra para download. Basta colocar no Google, “desafios da
experiência” e surgirão várias possibilidades de ter o livro na integra
gratuitamente.
Anuncio aqui alguns pontos de minha
fala desta tarde, que busca estimular a estudantes do ensino médio a procurar
saberes populares, estudá-los – com ajuda dos saberes acadêmicos – e, se
possível, torná-los saberes escolares. Estes, então, podem retornar à
comunidade donde foram garimpados como saberes populares, convertidos agora em
saberes escolares.
Quando se propõe aos estudantes a busca de saberes populares,
isso ocorre em duas dimensões: a convicção de que há uma necessidade urgente de
se preservar saberes populares, até porque muitos correm risco de desaparecer; e
o fato de que as ações de alunos e alunas assumem uma dimensão social no fazer educação.
Prioritariamente, tem-se buscado realizar aquilo que é central na investigação:
transformar saberes populares em saberes escolares, mas lateralmente essa
atividade enseja o trânsito por muitos saberes acadêmicos.
Essas duas dimensões assumem significados muito diferenciados.
Há nas mesmas ações que determinam resultados às vezes muito significativos,
como o diálogo entre as gerações, que chega a superar as duas dimensões antes
explicitadas. Ocorre, com frequência, a surpresa do jovem, que vê a riqueza dos
saberes detidos pelos mais velhos. Nestes se manifesta a gratificação em ver a academia
valorizar aquilo que eles conhecem, mas que, em geral, não tem valor como
conhecimento socialmente relevante.
Mas, aqui e agora, desejaria responder mais diretamente a
questão central desta proposta: por que fazer dos saberes
populares saberes escolares? Vou fazê-lo sob dois focos. Para
colocar minhas lentes em um e outro, antecipo dois problemas de pesquisa, recortados
do problema central: como preservar saberes populares
na tentativa de fazê-los saberes escolares? Problema A: quais os processos usados para a
desmineralização da água salobra para torná-la potável? e Problema B: quais os métodos de controle da natalidade usados
antes do advento da pílula anticoncepcional (esta considerada como ícone dos
assim chamados métodos modernos de contracepção)?
Se apresentasse uma lista bastante extensa de problemas, dos
quais há vários exemplos no capítulo que anunciei acima, poderia solicitar ao
leitor que agrupasse cada um deles em listas encabeçadas pelos dois problemas,
A e B. Para ampliar o exercício, trago mais dois exemplos, colocados
respectivamente nos grupos A e B a que antes referi: como eram armazenados os alimentos quando a eletricidade ainda não era
acessível à maior parte da população? e como
eram eliminadas, nas residências, as fezes humanas, ainda na segunda metade
século 20, quando não existiam esgotos cloacais na maioria das cidades?
Os problemas do grupo que chamo de A (desmineralização da água
salobra e armazenamento os alimentos) trazem saberes que, nos dias atuais, importa
conhecer, pois poderão, ainda, ter utilidade. Enquanto os do grupo B (controle
da natalidade antes do advento da pílula e eliminação de fezes humanas anterior
aos esgotos cloacais) são saberes que fazem parte de nossa história recente,
mas é improvável que precisemos reativá-los, já que foram superados por
tecnologias mais recentes e avançadas.
Do ponto de vista da importância, nesta prática de pesquisa os
saberes de um e de outro grupo têm o mesmo valor. Quanto a se fazerem saberes
escolares, aqueles do grupo A poderão ser usados em atividades de classe,
gerando conhecimentos que retornem à comunidade onde está a escola ou onde
foram coletados; aqueles do grupo B são igualmente válidos pesquisar, pois
serão usados para entendermos nossa história. Quando procuramos encontrar
respostas acerca do porquê de pesquisar, surge logo a pergunta: como pesquisar?
No próximo segmento, deseja-se mostrar a necessidade de iluminar o problema com
estudos que podem facilitar sua resolução.
Uma dimensão de estudos teóricos a acrescentar aqui poderia
estar focada em pesquisas de problemas do grupo A ou B, antes apresentados. Enquadradas
em um ou outro grupo, discussões diferentes poderão surgir. Agrada-me enfatizar
a necessidade de buscar no passado as lições para o futuro. Podemos estudar os
métodos anticoncepcionais usados por nossas avós não para que os ensinemos a
alunas e alunos de hoje, mas para saboreá-los – práticas que hoje, no mínimo, nos
causam surpresa, quando não assombro.
Só fazer os jovens encontrar memórias de sua história próxima já
é um sucesso. Cabe-nos ajudar a lembrar do que está olvidado.
Cada vez mais é possível observar a importância desta correlação de saberes em sala de aula como busca de uma aprendizagem mais significativa e esficaz para estes alunos que, muitas vezes vem para a escola sem um foco definido, sem rumo ou objetivos. Talves seja uma das soluções para um ensino de ciências mais cativante e satisfatório!!!!! Tenha uma ótima fala professor!!!!! Abraços!!!!
ResponderExcluirIzaura
Um resgate dos saberes contido nos porões. Cada vez mais necessário para ajudar a encontrar um sulear.
ResponderExcluirGrande abraço!
Uma característica importante nesses estudos, a meu ver, é que se ensina ao aluno como raciocinar diante dos mais variados problemas, ou seja, como a sociedade evoluiu sobre determinados aspectos que não mensuramos pois vivemos uma realidade bem diferente, porem não muito distante do quadro anterior. Nas sociedades indígenas o conselho dos anciões ocupa o topo no status de importância, mais até do que o cacique, porque ali está a voz da experiência e a herança cultural da tribo. Em nossa sociedade atual o anoso ganhou o rótulo de velho, de ultrapassado, e não é muito difícil encontrarmos instituições hipócritas, verdadeiros depósitos de velhos, onde a tristeza confunde-se com o ar que se respira. Conclusão, um povo cada vez mais sem identidade, um ensino cada vez mais inútil, uma juventude cada vez mais fútil.
ResponderExcluirUma correlação, muito relevante, pois quando se tem a curiosidade de entender coisas aparentemente simples, nos eleva a tal curiosidade que nos motivara a ter cada vez mais porquês a serem questionados.
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