ANO
9 |
Para que(m) é útil o ensino?
em circulação Ver 30AGO2014
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EDIÇÃO
2884
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Em dias mais recentes, nunca se falou tanto em racismo,
especialmente no radio-jornalismo esportivo. A agressão de uma meia dúzia de
torcedores do Grêmio, na última quinta, ao goleiro do Santos, não só custou a
justa demissão de uma torcedora, como implicará pesadas penas ao Grêmio. A
maior delas: a injusta (e equivocada) pecha aos gremistas de torcida mais
racista do Brasil. Não parece que se está superdimensionando uma situação? E
quantos ‘elogiam’ impunes a mãe do juiz?
Não vou expandir aqui comentários na ótica futebolística. Elas
estão ocorrendo em abundância, quase ad nauseam.
Também, me dispenso de fazer uma profissão do quanto abomino
toda e qualquer discriminação. Nisso tenho uma história. Aproveito o ensejo para
trazer considerações acerca de raça. Conceito usado de maneira
muito equivocada nestas discussões. Por que não falamos em discriminação
étnica?
Como a variação de aspectos da genética humana entre os grandes
grupos de populações atuais é muito pequena: de 3% a 5%. Não se justifica, assim,
falarmos na existência de raças humanas e, consequentemente, de racismo. Mesmo
que possa haver um equívoco na interpretação desses baixos valores de diferença
entre populações humanas com base em marcadores moleculares e na sua ligação
com os conceitos de raça e racismo.
Se poderia inferir que, se esses valores fossem mais elevados
(digamos 15% ou 20%), as raças humanas "existiriam" e isso poderia
"justificar" biologicamente a discriminação racial. Sem dúvida, a
existência de grandes diferenças entre populações pode abrir espaço para isso,
mas há um grande salto epistemológico entre reconhecer diferenças biológicas e
atribuir um valor a elas.
A origem do equívoco está no conceito de raça geográfica, ou
subespécie. Até meados do século 20, os biólogos costumavam avaliar as
diferenças entre populações de animais e plantas de uma espécie (que raramente
ultrapassam 15% a 20% da variabilidade genética total de uma espécie) com
processos classificatórios, criando subespécies ou raças. Assim,
"existiriam" raças em humanos e em qualquer espécie que apresentasse
diferenças marcantes em regiões geográficas distantes. Entretanto, os biólogos
reconheceram que essa é uma péssima maneira de compreender os processos
evolutivos que dão origem às diferenças entre populações. Um dos pontos
centrais da discussão foi que morfologia, comportamento ou diferentes
marcadores de DNA podem ter padrões diferentes de variação geográfica. Cada um
deles reflete uma parte da complexa história evolutiva da espécie e, em alguns
casos, suas adaptações aos diferentes ambientes que ela ocupa hoje ou ocupou
num passado remoto.
Assim, a inexistência de raças humanas não se deve apenas a uma
baixa variabilidade genética entre as populações, mas também a uma mudança
conceitual, proposta na maneira como essas populações são estudadas hoje. Se as
diferenças fossem maiores, o conceito de raça e o próprio racismo também seriam
inválidos. Portanto, se o racismo ainda existe, isso não se deve à maneira como
os biólogos entendem a variabilidade biológica humana, mas sim a uma visão
equivocada e não-científica da sociedade sobre as diferenças biológicas e a
própria evolução.
Parte deste comentário foi elaborado baseado em revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT516784-1726,00.html
aonde se pode conhecer o tema ampliado.
Meu caro Chassot
ResponderExcluirAbominável esse comportamento de torcedores, não só aqui em nossas plagas como em muitos lugares do mundo. Das teorias expostas até o momento, a que mais me convenceu foi a de que a ascensão de classes antes menos favorecidas tem levado a estas atitudes não somente em estádios, mas também em aeroportos, em shoppings e tantos outros lugares. Sou adepto desta explicação para o fenomeno que vem ocorrendo.
Um abraço do JB
Sobre Racismo
ResponderExcluirSem dúvida, a discriminação entre os assim chamados brancos e os assim chamados negros tem gerado uma das mais sérias ameaças à paz duradoura no nosso planetinha azul. À parte os argumentos imbecis e vazios sobre a suposta disparidade intelectual entre brancos e negros, ou entre brancos e “latinos”, (aliás, o que será um latino?) a divisão da humanidade nessas rígidas categorias é, em si mesma, totalmente estúpida. Na realidade biológica não há pessoas verdadeiramente negras ou verdadeiramente brancas. Sem dúvida, o grau de pigmentação da pele difere nas populações das diferentes partes do mundo. A função da pigmentação, como proteção dos raios ultravioleta do sol, exige que assim seja: à medida que se caminha para o equador, aumenta a concentração de raios ultravioleta, exigindo maior proteção. Portando, é de se esperar que as populações estabelecidas há longo tempo perto do equador sejam mais pigmentadas do que aquelas que vivem longe dele. Isso, entretanto, produz diferentes tonalidades de marrom, não apenas de preto e branco. Há virtualmente milhares de tonalidades entre o preto e branco, então é rematada estultice estabelecer fronteiras entre as duas cores.
O fato de uma pele ser muito pigmentada, num ambiente na qual ela é exposta a um alto grau de radiação ultravioleta, é sinal de harmonia biológica com o ambiente, e não pode, em nenhum sentido, servir de base racional crítica a capacidade social ou intelectual das pessoas. Quando as primeiras populações mudaram-se para o norte, para climas mais frios, reduziu-se a necessidade de pigmentação das peles e estas tornaram-se pouco a pouco mais claras. Deduz-se: todos somos descendentes de indivíduos de pele escura. À medida que as populações migrantes se mudaram mais para o sul, através da América do Norte, adentrando a América do Sul, reapareceu, mais uma vez, a necessidade de proteção, e, mais uma vez, a pigmentação aumentou. Deduz-se: todos, descendentes de nativos americanos, somos descendentes de indivíduos de pele branca. O fato de que em geral as peles dos americanos equatoriais não são tão escuras quando a dos africanos equatoriais é, com muita probabilidade, consequência do tempo bastante curto que houve para a pigmentação evoluir nesta parte do Planeta. Portanto, os graus de pigmentação da pele das diferentes populações do mundo refletem a adaptação a seus diferentes ambientes físicos, e apenas isso, racistas de plantão! A mobilidade social deste e do século passado tem, sem dúvida, encurtado o caminho para essas adaptações e causado problemas tantos para os cientistas sinceros que desejam mostrar a idiotice do racismo, como para os racistas que passaram a ter maiores dificuldades em rotular as pessoas por suas origens.
Continuando…
ResponderExcluirQuando pessoas de pele clara viajam por países de clima quente, a radiação solar cobra sem demora seus dividendos à pele destituída de melanina, a despeito dos filtros solares de graus elevados. Os turistas europeus que visitam nosso país no verão corroboram esse fato. E quando as pessoas muito pigmentadas vivem em climas de pouco sol como a Suécia, por exemplo, têm que adicionar mais vitamina “D” às suas dietas, porque esta vitamina é produzida com menos eficiência na sua pele naturalmente protegida.
A tendência de classificar certas populações como negras, enquanto se abriga os demais num exclusivo “clube” de brancos, é, portanto, duvidosa, discricionária e rematada necedade. E é mais do que uma questão de mero formalismo fazer objeção a esses termos, porque a separação dos grupos é explorada para permitir a existência de abismos sociais e econômicos, com os “brancos” do lado certo e os “negros” do lado errado, embora não exista base para essa divisão. Com o rótulo de “negro” na mão é muito fácil a pessoa “branca” aplicá-lo a qualquer grupo “apropriado” de indivíduos, atribuindo um conjunto de características arbitrariamente globais (promíscuos como VOCÊ! diria algum deputado racista da África do Sul, por exemplo), enquanto ela mesma se refugia atrás da conveniência de seu próprio rótulo. Tal prática não é mais que uma técnica eficaz (e burra) de ignorar as realidades do mundo, e substituí-las por preconceitos inflexíveis. Ao contrário do que pregam os racistas, não há características globais, nem de “brancos”, nem de “negros”, pela simples razão de que esses grupos, como tais, não existem, são meras criações de mentes estultas. Há, contudo, apenas a característica global de se pertencer à espécie humana, com talvez cinco milhões de anos de evolução do Homo por trás de cada um de nós.
O uso dos termos “brancos” e “negros” precisa ser deixado de lado como um primeiro passo para nos libertarmos do conceito divisório que há por trás disso. O atual status econômico e social das populações do mundo, que mostra uma minoria de pessoas de pele clara abocanhando a maior parte dos recursos do Planeta, é resultado do desenvolvimento histórico, ao qual faltou o mais das vezes qualquer vestígio de dignidade humana e de justiça. Com a palavra os “descobridores”, missionários religiosos e colonizadores europeus e suas conquistas de terras na Ásia, África e Novo Mundo. O imperialismo político e econômico do passado não pode ser usado para defender sua permanência no presente. Por certo, esse domínio da chamada raça branca não tem qualquer fundamento científico e social. Se essa divisão continuar ela ferirá mortalmente o coração da humanidade e, por fim, a destruirá. A escolha se impõe pela simplicidade: ou a verdadeira fraternidade universal dos Homo é reconhecida, seja qual for o grau de pigmentação da pele, ou o futuro será a desagregação com grande risco de extinção. JAIR, Floripa, 24/04/11
Racismo é burrice
ResponderExcluirNo meu texto “Cor não é raça”, escrevi o seguinte: “Querer definir o homem como espécie e dividi-lo em raças de acordo com a cor da pele ou tipo físico é coisa mais estúpida que se pode fazer. Raças humanas não existem. A cor da pele, uma adaptação evolutiva aos níveis de radiação ultravioleta vigentes em diferentes áreas do mundo, é expressa em menos de dez genes dentre os milhões que compõem o genoma humano.” Pois bem, aqui explicito mais fatos que embasam minha opinião contra o racismo amparada com a palavra da ciência, para que não haja dúvidas de onde vêm meus argumentos.
Hoje quero juntar aos meus arrazoados outros dados da ciência que foram descobertos através das pesquisas do projeto “Genoma Humano”, os quais destroem o chamado “racismo científico”.
Historicamente, a noção de raça humana surgiu durante a expansão imperial européia, e baseia-se num pequeno conjunto de características fenotípicas observáveis a olho nu, superficiais, portanto. Significativamente, o avanço no estudo dos grupos sanguíneos forneceu os primeiros indicativos científicos da variabilidade hereditária da humanidade, sem comprovar teoria de racismo alguma. O fator RH também evidencia diferenças que estão correlacionadas com a distribuição geográfica dos grupos humanos, nunca de “raças” humanas, que isso é criação político-econômica, nunca científica. As variações genéticas entre populações mapeadas por meio desses marcadores não ajudaram a sustentar as antigas teorias raciais, que caíram por terra.
Com a descoberta e uso do DNA tornou-se possível aprofundar as investigações sobre as origens e migrações das antigas populações humanas. Na verdade, o DNA mitocondrial, que é um marcador que não se altera por milhares de gerações, apontou para o que os cientistas chamaram de “Evas” primordiais: Seriam apenas dez mulheres as nossas “mães”, oriundas da África, que geraram toda a humanidade. Não há, portanto, fundamento científico para afirmar que “raças” humanas tiveram origens distintas, todos temos um pé na África
Continuando…
ResponderExcluirOs computadores facilitaram o processamento de uma enorme massa de informações genéticas que ajudaram a mapear a aventura pré-histórica humana. Uma conclusão quase banal a que se chegou é que a “distância genética” entre populações aumenta na razão direta da distância geográfica que as separa. A explicação é simples, os humanos cruzam-se com o parceiro que está próximo, na mesma localidade ou localidade vizinha. Isto diminui a variação genética do grupo local e aumenta a “distância genética” com um grupo distante. Simples.
Mesmo assim, dois indivíduos escolhidos casualmente dentro da mesma região só serão 5% mais parecidos entre si do que de qualquer indivíduo de outro continente por exemplo. Na verdade, como comprovou o mapa genético fornecido pelo projeto Genoma Humano, não é possível encontrar qualquer “fronteira” que delimite raças no continuum da humanidade, onde as semelhanças são abundantes e existem pequenas variações dentro de quaisquer grupos considerados.
Num interessante experimento que cientistas americanos fizeram, reuniram-se oito representantes de etnias diferentes e comparou-se o DNA mitocondrial deles. Eram pessoas que vivem nos EUA, mas de origens díspares como uma chinesa, um árabe, um índio sioux, uma sueca, um maori da Nova Zelândia, um fueguino do sul da Argentina, um negro do Zaire e uma tailandesa. Para surpresa dos pesquisadores o grupo apresentava tanta diferença genética quanto um grupo de pessoas da mesma aldeia pode apresentar. As semelhanças eram tão grandes que a sueca, branca de olhos azuis, tinha “parentesco” evolutivo com o sioux, a ponto de serem “primos” distantes, descendentes da mesma Eva primordial africana.
Os mapas genéticos tornam evidente a falta de embasamento científico na crença que existem raças humanas. Esses mapas mostram que não há maior similaridade entre, por exemplo, europeus do leste e oeste que entre europeus e africanos. Por outro lado, há tantas diferenças estatísticas entre populações vizinhas, que os adeptos das seitas racistas poderiam sustentar que existem milhões de raças.
Finalizando, como qualquer população selecionada para compor uma amostra apresentará diferenças genéticas estatisticamente relevantes, o tal “racismo científico” que Hitler usou para se livrar dos judeus, não passa de balela, ou seja, burrice pseudo científica. JAIR, San Diego, 17/05/10.
Origens
ResponderExcluirJá publiquei aqui um texto sob o título “Sobre genealogia” onde mostrei que minha mulher e eu temos uma ascendência comum no que diz respeito a um de nossos ancestrais, nosso trisavô, paterno meu e por parte de mãe dela. Pode parecer um caso inusitado ou mesmo raro, mas não é nada disso, praticamente todos temos ancestrais comuns. Também escrevi o seguinte: Estudo de genealogia não é uma ciência exata, sabe-se como começa, mas onde acaba quase sempre é uma incógnita.
Então vejamos, todos temos dois pais, quatro avós, oito bisavós, dezesseis trisavós e, numa progressão geométrica de expoente dois vamos alcançar milhões depois de muitas gerações. Mais precisamente, depois de apenas vinte e cinco gerações, e considerando que cada geração seja de 25 anos, ou seja, há pouco mais de seiscentos anos, cada um de nós tem 33.554.432, e a progressão continua de modo que no início da era cristã todos teremos 569 trilhões de ancestrais, algo como cem milhões de vezes a população total do Planeta. Como é um número astronomicamente impossível, visto que todos os habitantes que existem e já existiram representam uma ínfima parcela disso, o que ele significa?
A que conclusão leva esse cálculo de resultado absurdamente grande? Poderão perguntar alguns. A seguinte certeza: quando você casa com aquela namorada que ama seja ela de onde for, até do mais longínquo local do Planeta, pode ficar certo que vocês têm milhares de ancestrais em comum. Não só isso, sabe aquela pessoa horrorosa e mau caráter que você não suporta no trabalho e da qual, parece, todos querem guardar distância? Pois é, ela também tem com você milhares senão dezenas de milhares de antecedentes comuns! O consolo para quem se sente desconfortável com essa infelicidade, é que tanto Gisele Bündchen quanto Sandra Bullock também compartilham herança genética alentada com todos nós. E mais, se tomarmos ao pé da letra que Adão existiu, todos somos descendentes dele, ou seja, no mínimo somos todos primos em graus variados de parentesco. Embora seja apenas um mito a existência de Adão e Eva, cientistas provaram através do DNA mitocondrial que somos todos descendentes de apenas dez “Evas” que viveram na África num período em que a população humana minguou quase até a extinção. Queiramos ou não, nesse caldeirão de cruzamentos e interrelações, temos fatalmente resquícios genéticos de origens em comuns todos nós.
Quando vejo ações de desprezo por classes, “raças” ou outras classificações de pessoas, me veem à mente nossas origens e entendo menos ainda porque alguns se julgam melhores que outros. Volto aqui a dizer, somos como um terreiro de galinhas caipiras, todas de diferentes cores, tamanhos ou feitios, mas, apenas isso: galinhas, não há faisões ou aves do paraíso no nosso meio - para tristeza de todos esses racistas e preconceituosos que existem por aí. Para quem acredita no éden e em Adão e Eva, é mais inverossímil ainda pensar que pode ser diferente do seu vizinho, pois ambos são, em última análise, descendentes dos mesmos pais. JAIR, Floripa, 07/09/11.
Penso que o racismo como não aceitação do outro é, na verdade, não aceitação de parte de si mesmo. Uma vez que somos constituídos muito mais de elementos por semelhança que aqueles com os quais nos diferenciamos.
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