ANO
9 |
M A N A U S - AM
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EDIÇÃO
2902
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Nesta data magna do gauchismo, desde a Amazônia, retorno ao
pago. Meu desejo de chegar não é, todavia, para me integrar a festejos
farroupilhas.
Este meu fugaz exilar-me da querência não impediu que já não tivesse
sentido o ufanismo verde/vermelho/ amarelo que cantam o exagerado orgulho
gaúcho. Este, presente nas bandeiras que tremulam nos acampamentos nativistas, nos
desfiles gauchescos e na decoração de lojas. Estas manifestações ocorrem na
capital e em dezenas de munícipios do Rio Grande. Há CTGs (Centros de Tradições
Gaúchas) até além-fronteiras.
Este ano o MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho) — espécie de
confraria que autoriza e legitima os CTGs — viveu momentos de crise por
divergir da realização de um casamento homoafetivo na sede de discutível CTG
filiado.
As exageradas manifestações também estão decantadas em dezenas
de anúncios em jornais, alguns de página inteira, que exaltam a bravura da
gente desta terra, que já viveu sonhos de ser independente do Império
brasileiro na primeira metade do século 19. Aliás, chama atenção o quanto
marcas multinacionais (por exemplo, nescafé, subway...) assinam os anúncios mais
custosos.
A figura lateral é
uma ilustração de peças publicitárias.
Há um aparente paradoxo: os farrapos inscreveram no pavilhão
tricolor o mesmo lema dos revolucionários franceses de 1789: Igualdade,
Liberdade e Humanidade e o mote das peças publicitárias e dos discursos,
esquece a Igualdade e exalta exatamente quanto somos diferentes (mais heroicos,
mais bravos, mais politizados...). Somos sim, os mais ufanistas. Das 27
unidades federativas, não sei se há outra que cultua mais o hino e bandeira
estaduais do que os símbolos nacionais.
Observo que o hino rio-grandense é cantado com mais frequência e
mais emoção que o hino nacional. As belicosas estrofes são presença mesmo em
manifestações oficiais em instituições federais. Por exemplos, se entoa o hino rio-grandense
nas formaturas em universidades federais.
Vale gastar cerca de 2 minutos para ver e ouvir nossa imodéstia.
pois “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra” ttps: //www.youtube.com/watch?v=ZD_WnHMv1w8
Devo dizer que a celebração desta data, que se espraia já não
mais por uma semana, mas por todo o mês de setembro, cada ano me faz mais
sestroso. Sinto-me mais latino-americano que brasileiro. Logo, não me sinto
confortável com esse presunçoso gauchismo.
Mas, acolho de bom grado o feriado independente de cultua-lo.
Assim como ‘celebro’ o dia da Padroeira do Brasil, a Sexta-Feira Santa ou dia
da Virgem Maria do Livramento. Apenas, lamento que este ano o feriado caia num
sábado.
Celebrar a cultura e a tradição de um povo é louvável. No entanto, usar desse "patriotismo" ufanista para perpetuar as injustiças, as desigualdades e manipular um povo que pensa ser mais politizado, mais esclarecido, não tem nada comemorativo nisso. Teríamos potencial para uma nação não fosse o entreguismo de alguns. Os mesmos que estimulam tal ufanismo ajudaram a surrupiar nossos recursos, sucatear o estado e falir nossa economia. Somos o Estado de um Grupo que manipula todos os setores. Não precisaríamos de um nova revolução? Por igualdade, justiça e liberdade, de fato!
ResponderExcluirInegavelmente, devemos seguir o conselho de Santo Agostinho, "A multidão não é de ser seguida.", ou ainda refletir sobre o que disse La Fontaine; "Cada qual, tomado à parte, é passavelmente inteligente e razoável; reunidos, não formam já, entre todos, se não um só imbecil"
ResponderExcluirAbraços
Professor Chassot!
ResponderExcluirBem posta pelo senhor essa mania gaúcha de se achar melhor que os outros. Comentário do Vanderlei diz tudo, Acautelemo-nos dos que se alçam a querer dizer como devemos. Essa hegemonia nas comunicações no Rio Grande do Sul poderá ser fatal. Agora ainda um jornal “O bairrista” informativo da República Rio-grandense, Isso não é separatismo?
LLL
Farroupilha
ResponderExcluirMestre Chassot, gaudério urbano
Sobre ufanismo assenta sua lente
Pois gaúcho comemora todo ano
Farroupilha a guerra inclemente.
Essa gente heroica das coxilhas
Tem orgulho de velhas tradições
Cujos costumes e suas famílias
Juntam-se em ardentes paixões.
Porém esse gauchismo ardoroso
Talvez exceda as raias da razão
Pois mesmo não sendo vitorioso
A tudo engloba como vagalhão.
Então vamos lá, gaúcho brioso
Sem contudo sobrar exaltação.
Compartilho do que diz o Laurus, pois é prudente que nos acautelemos neste ufanismo gauchesco, principalmente em tempos de "racismo" ou de "injúrias racistas". Aliás, nada data de hoje sempre relembro os conselhos da historiadora Sandra Jatahy Pesavento, quando destaca o quanto as elites se utilizaram da estrutura do governo local para defender seus interesses. E me parece que poucos gaúchos tem noção do que ocorreu nestas plagas.
ResponderExcluirGrande abraço e Bom Domingo.
Querido Attico,
ResponderExcluirhá, sim, um outro estado em que seu hino e bandeira rivalizam (e até ganham) dos símbolos nacionais. Esse estado é Pernambuco. Não temos "CTP" por aqui, mas é comum ver o hino cantado por multidões e a bandeira azul e branca, com o arco-íris, o sol, a estrela e a cruz vermelha, herdados dos movimentos revolucionários que buscaram a república por estas bandas.
Abraços,
PAULO MARCELO