ANO
9 |
TAGUATINGA- DF
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EDIÇÃO
2887
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Esta edição é
desde Brasília. Não tenho contabilizado quantas vezes já estive na Capital
Federal. Talvez mais que dez. É provável, menos de vinte. Sempre estive aqui
profissionalmente. Há uma época, várias vezes, ligado ao Ministério de Educação,
especialmente enquanto membro de grupos de avaliação. Algumas vezes, em bancas
de mestrado e doutorado. Também em alguns eventos.
Nesta última
categoria, registro de maneira muito particular o XV ENEQ, há quatro anos, que
me ensejou também um domingo propício para visitação de lugares ligados a
aspectos místicos. Estes, muito densos aqui. Recordo de outra vez, quando em
trânsito, com destino a Belém: fiquei mais de 10 horas assentado no chão do
aeroporto, em de um maiores caos aéreos da aviação brasileira.
Agora estou, mais
uma vez, nesta cidade que ‘ouvi’ (pelo rádio) ser inaugurada em 21 de abril de
1960. Hoje a cidade já tem mais 2,5 milhões de habitantes. Isto parece quase
inimaginável. É provável que, quando JK fez realidade um dos seus sonhos, não
imaginava que a criava uma megalópole.
Tendo estado ou
não em uma cidade, muitas delas existem em nosso imaginário. Por elas flanamos de
maneira virtual, vencendo as restrições de trânsito, presente em quase todas as
cidades reais.
Em 1989, fui a
primeira vez à Europa. Ao desembarcar em Paris, parecia que estava chegando a
uma cidade muito familiar, tantos os livros e filmes com cenários parisienses
que vivenciara. Meu colega da UnB Ricardo Gauche, também meu assessor para
assuntos de vidas passadas, diria que reconheci Paris, pois ali, eu vivera no
medievo como um monge.
Com Brasília, não
foi/é diferente. Aqui, por ser tudo tão desenhado e pelo plano piloto do
urbanista Lúcio Costa ter sido tão divulgado, pelo menos há época da construção
e por serem as linhas monumentais de Oscar Niemeyer ícones da arquitetura mundial
tudo parece revivido.
De Paris, sabia
do Sena com seus livreiros às margens do rio; de Notre Dame, conhecia até onde
o sineiro Quasímodo se ocultava; a torre Eiffel ou o Arco do Triunfo estavam
bem onde deveriam estar. O laboratório onde trabalhava o casal Curie era
familiar; o Collège de France, quase me fez ouvir as aulas de Foucault, de
Barthes e outros.
Assim como em Brasília, a catedral, a Esplanada
dos Ministérios, o Itamaraty o edifício do Banco Central, o Palácio da Alvorada...
surgiriam, mais uma vez, como seria o esperado.
No meu estar em
Brasília, por ora nada disso surgiu. Não chego ao Plano Piloto. Não vejo nada
do que Brasília no imaginário de muitos.
É em Taguatinga
onde estão: o hotel no qual me hospedo, a universidade na qual fiz palestra e
dei minicurso, o restaurante onde almocei, onde moram os professores que me
anfitrioneiam e a casa de um que nos reuniu para um café da tarde. É distrito,
(ou bairro, uma cidade satélite ou região administrativa) de Brasília, que
juridicamente é parte do Distrito Federal.
É um imenso
conglomerado humano, com conjunto de espigões altos e densos que chega lembrar
Nova York. Com mais de 200 mil habitantes e tem uma densidade de quase 2.000
hab/km2. Logo maior que a maioria das cidades brasileiras (mesmo que
politicamente não seja cidade). Apenas um dado: Taguatinga foi a 12ª região com lançamentos
mais caros do Brasil em 2012.
Pois esta é a Brasília, que não é Brasília que
a Verenna e o Alexandre me mostraram na manhã e na tarde de ontem. Junto com
Taguatinga está Águas Claras com seus maciços blocos residenciais.
Impressionei-me. Não tanto com que vi, mas e principalmente, pelo que não sabia
existir.
Depois destes impactos, quando dava palestra à
noite para professoras e professores e alunas e alunos dos cursos de Química e
Pedagogia, não sabia bem onde estava. Dava-me conta que estava numa
universidade que acolhe muito mais trabalhadores que estudam do que estudantes
que trabalham.
Foram esses que acolheram autógrafos em dezenas
de meus livros, tiraram fotos que não hora eram curtidas no Facebook e me
homenagearam. As fotos do Professor Jonatas Gomes da Silva mostram três
momentos.
Há ainda uma foto postada pela Aline Camargo da Universidade Federal
de Goiás, com pôster do Ariano Suassuna que reproduz, pois me encantou.
Esta tarde falo no Programa de
Pós-Graduação em Ensino de Ciências da UnB — esta no Plano Piloto — e à ao
final da tarde estarei novamente em Taguatinga para mais uma sessão do
minicurso.
Foi muito bom
compartir com cada uma e cada um de meus leitores as emoções de mais um estar
numa realidade tão central e paradoxalmente periférica. Há satélites que podem
ser cêntricos. Uma boa lição na dita Semana da Pátria.
Mestre Chassot,
ResponderExcluirhá um tempo ausente de comentários mas continuado leitor quase diário do bligue aonde sempre se aprende, hoje não posso me furtar de um comentário.
Hoje imitas Ítalo Calvino, no seu passeio pelas cidades. Realmente, teu flanar por Paris é bonito.... mas, teu desencontro no DF é original. Esta reconversão de periferia para o centro parece uma sacação que só erudito consegue analisar em poucas linhas como fizeste. Achei uma maneira original teu narrar acerca de uma não Brasília em Brasília. Na próxima vez que for ao DF quero conhecer Taguatinga.
Grande sacada mestre viajor e observador,
MM