ANO
9 |
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EDIÇÃO
2893
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A blogada desta
quinta circula quando, uma vez mais, estou deixando Porto Alegre, para minha
jornada mensal à Frederico Westphalen. Hoje tenho, entre outros fazeres, a 2ª sessão presencial das 5 de atividades
presenciais do seminário “A
arte de escrever Ciência com arte” da edição 2014/1.
Volto ao tema
presente nas três edições desta semana. A (im)produtividade acadêmica. Para
tal, é importante ter presente a significativa e densa análise da Universidade
brasileira, apresentada por Marilena Chauí, trazida aqui na segunda-feira. Há
uma generalizada preocupação com a Universidade, pelo menos no mundo ocidental.
Por exemplo, aqui no Rio Grande do Sul uma das entidades sindicais de docentes
universitários desenvolve o ciclo Universidade
do Futuro onde um dos focos é a universidade e o sistema de ciência e
tecnologia.
Os mais
diferentes rankings demostram, também, isso. Trago apenas um exemplo. A
Wikipédia apresenta, talvez, aquela que é a classificação mais prestigiada do
"Shanghai Jiao Tong University’s Institute of Higher Education” A lista
mostra as primeiras 100 universidades do planeta classificadas de acordo com a
avaliação de suas publicações científicas, conforme a metodologia utilizada pela
referida universidade chinesa.
Eis algo acerca
da lista do ano de 2014 para as 100 que fazem parte do primeiríssimo time: das
20 primeiras 16 são estadunidenses, três do Reino Unido e uma Suíça. Não há
nenhuma latino-americana ou africana e com exceção de duas australianas, as
outras 98 são do hemisfério norte. A situação é fantasticamente desigual.
Talvez, por isso
que eu encerrava, na terça, a apresentação do RUF 2014 assim: há articulistas
da Folha, que não apenas questionam a Universidade brasileira, como não sem
pretensão, dizem como ela deve ser. Assim, há a questão: Por que não ter universidades só de ensino? ou a sugestão: Que tal tomar o rumo da Califórnia!
O assunto
comporta algumas discussões. Alinhavo três. Primeiro
é indiscutível que a Universidade brasileira precisa mudar. Basta olhar, por
exemplo, a nossa tênue presença em posições privilegiadas nos rankings
internacionais. Segundo, a
universidade é conservadora; ela tem ainda as marcas do marasmo da igreja onde
ela nasceu dogmática no século 12 e assim resiste a mudanças. Terceiro, não parece que um jornal,
mesmo que de projeção e baseado em um trabalho hercúleo, venha dizer como deva
ser a universidade.
Questiono meu terceiro ponto: os autores dos rankings
não são, de maneira usual, estranhos à universidade e, especialmente, os
articulistas que apresentam as propostas são, de alguma maneira, ligados a
academia. Arvoram-se a reformadores em espaços fora da universidade, pois
ocorre omissão em seu seio, muito determinada pela proteção de feudos. Talvez
essa seja até justificada: os docentes estão tão envolvidos no ativismo, na competição
entre os pares, e de maneira especial competindo entre as instituições. Assim,
talvez não vejam que o barco faz água.
Não padece
dúvidas que universidades precisam produzir conhecimento, parece óbvio que essa
função ainda é quase exclusividade, das instituições públicas. Vimos na terça,
que das 192 universidades brasileiras, entre as primeiras 50, só há sete privadas;
destas a primeira é a 18ª.
A situação,
paradoxalmente se inverte no ensino, outra atribuição fundamental da
Universidade: A Folha mostra que as públicas têm parcela minoritária das
matrículas. Essa fatia caiu de 40%, nos anos 1990, para cerca de 25%, mas só
até 2008. Nos últimos seis anos, começou ligeira recuperação, e a parcela de
alunos de instituições públicas subiu para perto de 30%. Grande responsável por
isso foi a rápida expansão de universidades federais no governo Lula.
Há muito caminho
a caminhar. Mas antes, há que fazer caminhos.
Só faço uma ressalva ao sistema de cotas. No meu entender "deitamos remendo novo em tecido velho", ou seja, ao invés de corrigir a distorção na fonte, propiciando ao trabalhador brasileiro uma vida digna com acesso a uma escola de qualidade desde o berço, criamos mecanismos que desequilibram a aferição dos conhecimentos ratificando a fragilidade intelectual do menos favorecido. O justo e correto que é que todos tenham a mesma chance do berço a universidade, independente da cor da pele, independente da posição econômico-social.
ResponderExcluirAttico,
ResponderExcluira "perda" de matrículas nas universidade pública não é, na verdade uma perda. Durante o governo FHC, com o ministério de educação nas mão do Paulo Renato (que deus o tenha e não o solte!) se desenvolveu um programa intencional de desprestígio da universidade pública e se relaxaram enormemente as exigência para as particulares. Desta forma explodiram faculdades isoladas, de qualidade mais do que questionável, com um obvio intuito de lucrar com a educação, sem muita preocupação com a qualidade. Até hoje elas evitam contratar mais doutores e mestres do que é estritamente exigidos e muitas o fazem pouco antes das avaliações e demitem logo depois. E mesmo vi transformarem laboratórios de Biologia em um de medicina apenas mudando a placa da porta, para mostrar à comissão que avaliaria o curso. Montaram-se empresas de consultoria, muitas com ex-funcionários do MEC, que ofereciam seus contatos para aprovar cursos sem necessariamente fazer um investimento sério que garantisse a qualidade. Fazem vestibulares que na verdade são só para fazer de conta (a irmã de um aluno meu recebeu uma carta de parabéns por ter passado no segundo lugar do vestibular de uma destas faculdades, mas ela nem tinha comparecido na prova!).
Desta forma, ampliou-se a oferta de matrícula enormemente no setor privado entanto que as universidade publicas se mantinham iguais e definhavam, as vezes sem poder pagar as contas de luz, água, telefone.
Com o governo do PT retomou-se o apoio a universidade pública, aumentando orçamentos, aumentando vagas de professores e ampliando a matrícula. Ainda assim, isso último foi feito de forma um pouco descuidado, sem planejamento e com olhos mais no resultado numérico (egressos) que na qualidade.
Como você bem notou, na prática e com pouquíssimas exceções (como as de algumas grande universidade confessionais), toda a pesquisa é feita nas públicas.
Temos sim que repensar a universidade, mas temos que ter cuidado em não cair em lugares comuns. Não acredito que a universidade deva ir na demanda da sociedade, particularmente do chamado setor produtivo. No meu ver a universidade deve ser a que cria as tendências e orienta à sociedade. Até porque nosso setor produtivo está acostumado, e ainda pretende, que o estado banque a pesquisa de que ele precisa, e quando da certo dividir os lucros, mas se da errado, as perdas são do estado. Não tem tradição e nem interesse em bancar pesquisa. É necessário, eu acho, voltar a fazer da universidade uma produtora de conhecimento e não de negócios e uma formadora de líderes para a sociedade, que entendam o valor da educação.
Um abraço
Muito querido Mario,
Excluiruma vez mais, celebro teu retorno aqui. Tua presença agrega valor, como comentário que trazes;.
Há que reconhecer: somente as Universidades públicas (isso vale para a Escola pública) são democráticas. As privadas, perdem a sua democracia quando só que paga tem acesso a elas.
Obrigado e saúdo teu sumarento retorno.
Com admiração
ac