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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

11.- UNIVERSIDADE: DO FUTURO: QUAL?


ANO
 9
Livraria Virtual em
Www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2893

A blogada desta quinta circula quando, uma vez mais, estou deixando Porto Alegre, para minha jornada mensal à Frederico Westphalen. Hoje tenho, entre outros fazeres, a 2ª sessão presencial das 5 de atividades presenciais do seminário “A arte de escrever Ciência com arte” da edição 2014/1.
Volto ao tema presente nas três edições desta semana. A (im)produtividade acadêmica. Para tal, é importante ter presente a significativa e densa análise da Universidade brasileira, apresentada por Marilena Chauí, trazida aqui na segunda-feira. Há uma generalizada preocupação com a Universidade, pelo menos no mundo ocidental. Por exemplo, aqui no Rio Grande do Sul uma das entidades sindicais de docentes universitários desenvolve o ciclo Universidade do Futuro onde um dos focos é a universidade e o sistema de ciência e tecnologia.
Os mais diferentes rankings demostram, também, isso. Trago apenas um exemplo. A Wikipédia apresenta, talvez, aquela que é a classificação mais prestigiada do "Shanghai Jiao Tong University’s Institute of Higher Education” A lista mostra as primeiras 100 universidades do planeta classificadas de acordo com a avaliação de suas publicações científicas, conforme a metodologia utilizada pela referida universidade chinesa.  
Eis algo acerca da lista do ano de 2014 para as 100 que fazem parte do primeiríssimo time: das 20 primeiras 16 são estadunidenses, três do Reino Unido e uma Suíça. Não há nenhuma latino-americana ou africana e com exceção de duas australianas, as outras 98 são do hemisfério norte. A situação é fantasticamente desigual.
Talvez, por isso que eu encerrava, na terça, a apresentação do RUF 2014 assim: há articulistas da Folha, que não apenas questionam a Universidade brasileira, como não sem pretensão, dizem como ela deve ser. Assim, há a questão: Por que não ter universidades só de ensino? ou a sugestão: Que tal tomar o rumo da Califórnia!
O assunto comporta algumas discussões. Alinhavo três. Primeiro é indiscutível que a Universidade brasileira precisa mudar. Basta olhar, por exemplo, a nossa tênue presença em posições privilegiadas nos rankings internacionais. Segundo, a universidade é conservadora; ela tem ainda as marcas do marasmo da igreja onde ela nasceu dogmática no século 12 e assim resiste a mudanças. Terceiro, não parece que um jornal, mesmo que de projeção e baseado em um trabalho hercúleo, venha dizer como deva ser a universidade.
Questiono meu terceiro ponto: os autores dos rankings não são, de maneira usual, estranhos à universidade e, especialmente, os articulistas que apresentam as propostas são, de alguma maneira, ligados a academia. Arvoram-se a reformadores em espaços fora da universidade, pois ocorre omissão em seu seio, muito determinada pela proteção de feudos. Talvez essa seja até justificada: os docentes estão tão envolvidos no ativismo, na competição entre os pares, e de maneira especial competindo entre as instituições. Assim, talvez não vejam que o barco faz água.
Não padece dúvidas que universidades precisam produzir conhecimento, parece óbvio que essa função ainda é quase exclusividade, das instituições públicas. Vimos na terça, que das 192 universidades brasileiras, entre as primeiras 50, só há sete privadas; destas a primeira é a 18ª.
A situação, paradoxalmente se inverte no ensino, outra atribuição fundamental da Universidade: A Folha mostra que as públicas têm parcela minoritária das matrículas. Essa fatia caiu de 40%, nos anos 1990, para cerca de 25%, mas só até 2008. Nos últimos seis anos, começou ligeira recuperação, e a parcela de alunos de instituições públicas subiu para perto de 30%. Grande responsável por isso foi a rápida expansão de universidades federais no governo Lula.
Há muito caminho a caminhar. Mas antes, há que fazer caminhos.

3 comentários:

  1. Só faço uma ressalva ao sistema de cotas. No meu entender "deitamos remendo novo em tecido velho", ou seja, ao invés de corrigir a distorção na fonte, propiciando ao trabalhador brasileiro uma vida digna com acesso a uma escola de qualidade desde o berço, criamos mecanismos que desequilibram a aferição dos conhecimentos ratificando a fragilidade intelectual do menos favorecido. O justo e correto que é que todos tenham a mesma chance do berço a universidade, independente da cor da pele, independente da posição econômico-social.

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  2. Attico,

    a "perda" de matrículas nas universidade pública não é, na verdade uma perda. Durante o governo FHC, com o ministério de educação nas mão do Paulo Renato (que deus o tenha e não o solte!) se desenvolveu um programa intencional de desprestígio da universidade pública e se relaxaram enormemente as exigência para as particulares. Desta forma explodiram faculdades isoladas, de qualidade mais do que questionável, com um obvio intuito de lucrar com a educação, sem muita preocupação com a qualidade. Até hoje elas evitam contratar mais doutores e mestres do que é estritamente exigidos e muitas o fazem pouco antes das avaliações e demitem logo depois. E mesmo vi transformarem laboratórios de Biologia em um de medicina apenas mudando a placa da porta, para mostrar à comissão que avaliaria o curso. Montaram-se empresas de consultoria, muitas com ex-funcionários do MEC, que ofereciam seus contatos para aprovar cursos sem necessariamente fazer um investimento sério que garantisse a qualidade. Fazem vestibulares que na verdade são só para fazer de conta (a irmã de um aluno meu recebeu uma carta de parabéns por ter passado no segundo lugar do vestibular de uma destas faculdades, mas ela nem tinha comparecido na prova!).

    Desta forma, ampliou-se a oferta de matrícula enormemente no setor privado entanto que as universidade publicas se mantinham iguais e definhavam, as vezes sem poder pagar as contas de luz, água, telefone.

    Com o governo do PT retomou-se o apoio a universidade pública, aumentando orçamentos, aumentando vagas de professores e ampliando a matrícula. Ainda assim, isso último foi feito de forma um pouco descuidado, sem planejamento e com olhos mais no resultado numérico (egressos) que na qualidade.
    Como você bem notou, na prática e com pouquíssimas exceções (como as de algumas grande universidade confessionais), toda a pesquisa é feita nas públicas.

    Temos sim que repensar a universidade, mas temos que ter cuidado em não cair em lugares comuns. Não acredito que a universidade deva ir na demanda da sociedade, particularmente do chamado setor produtivo. No meu ver a universidade deve ser a que cria as tendências e orienta à sociedade. Até porque nosso setor produtivo está acostumado, e ainda pretende, que o estado banque a pesquisa de que ele precisa, e quando da certo dividir os lucros, mas se da errado, as perdas são do estado. Não tem tradição e nem interesse em bancar pesquisa. É necessário, eu acho, voltar a fazer da universidade uma produtora de conhecimento e não de negócios e uma formadora de líderes para a sociedade, que entendam o valor da educação.
    Um abraço

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    1. Muito querido Mario,
      uma vez mais, celebro teu retorno aqui. Tua presença agrega valor, como comentário que trazes;.
      Há que reconhecer: somente as Universidades públicas (isso vale para a Escola pública) são democráticas. As privadas, perdem a sua democracia quando só que paga tem acesso a elas.
      Obrigado e saúdo teu sumarento retorno.
      Com admiração
      ac

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