ANO
9 |
Morada dos Afagos
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EDIÇÃO
2910
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Estou
de volta da excepcional semana. Nem sempre os duendes que cuidam de nossos voos
são camaradas. Ontem, quando já embarcados em Brasília, no terceiro de quatro
voos, somos informados que deveríamos descer para trocar de aeronave. Mais uma
vez os lentos e xaropes rituais de (des)embarques. Consequência: não cheguei a
tempo para tomar em Congonhas o voo para Porto Alegre. E as cerca de 12 horas
para vir de Macapá, transformam-se em quase 15.
Mas, enfim cheguei de extensos e densos
seis dias. A blogada deste primeiro domingo de primavera é apenas para fazer um
registro do livro que me saborosamente me acompanhou nesta semana. Foi oportuna
a sugestão do José, um competente livreiro de Manaus.
ANGIER, Natalie. A beleza
da fera: novas formas de ver a natureza da
vida. [Tradução: Rui Cerqueira & Erika Hingst. The beauty of the
beastly: new wiews on the nature life] Rio de Janeiro: Rocco, 260 p, 1998. ISBN
85-325-0801-4
Em anos de pesquisa sobre o mundo natural, Natalie Angier
adquiriu uma certeza - na ciência, nada é o que parece ser. Assim, os
golfinhos, que às vezes parecem perversos ao bater uns nos outros, também são
bons companheiros. A hiena, considerada uma carnívora sanguinária, pode também
agir docilmente. No livro 'A beleza da fera', a autora transforma fatos científicos
em ensaios que celebram e esclarecem a diversidade do mundo natural [Quarta
capa].
A paixão pela diversidade do mundo natural foi
o que levou Natalie Angier — autora de a Geografia da Mulher--, ganhadora do
prêmio Pulitzer e repórter de ciência, a escrever sobre criaturas que a maioria
das pessoas acha repugnantes, como aranhas, escorpiões, parasitas, vermes,
cascavéis, escaravelhos e hienas. Nestes ensaios ricos e variados — quase todos
publicados em The New York Times —, a autora discorre também sobre a atividade
sexual dos animais, a medicina e a saúde vistas de uma perspectiva evolutiva e
os hormônios que modelam a dinâmica da vida familiar.
Sem receio de antropomorfismos, Angier vê as
moléculas como personagens de pequenas peças teatrais e considera intrigantes o
grau de percepção das cobras e o comportamento social dos carneiros. A
decadência das orquídeas, segundo ela, deixaria Oscar Wilde perplexo. Outros
artigos discutem as mais recentes descobertas no campo da biologia molecular,
esmiuçando o trabalho das mulheres cientistas, descrevendo suas idéias e
argumentos. De maneira comovedora, a autora também compreende a complexidade e
a necessidade da morte.
A incrível resistência das baratas à ameaça aos
guepardos, da estrutura do DNA ao namoro brutal entre golfinhos, A beleza da
fera nos fornece retratos íntimos e radicais da natureza.
Ainda tentam nos convencer de que a crise nos aeroportos já foi contornada. É por isso que eu digo que não reconheço esse Brasil tão maravilhosamente descrito nas campanhas políticas.
ResponderExcluirPenso que em quase tudo na vida pouco é o que parece.
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