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segunda-feira, 16 de junho de 2014

16.- UMA SEMANA HETERODOXA


ANO
 8
Livraria virtual em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2806

Iniciamos hoje, talvez, a semana que mais foge a usual matriz de uma semana laboral. Teremos sete dias com três jogos da Copa em cada um. Na quinta-feira teremos um dia santo católico (celebração de uma das mais significativas dissemelhanças do catolicismo e as demais denominações cristãs), ou melhor, uma data alçada a feriado em muito significativo número de municípios brasileiros. Este feriado, em muitas atividades, se transmuta em feriadão fazendo da sexta-feira e do sábado dias festivos.
Bem sabemos o quanto a dita copa da Fifa se impõe, de maneira ditatorial, em nossos fazeres. Na semana passada, foram 11 jogos. Há aqueles que já contabilizaram cerca de 20 horas de televisão. Imagine-se nesta semana em que o número de jogos será quase o dobro.
Dias letivos se transmutam em recesso acadêmico. As aulas são repostas com artifícios mirabolantes. Assim, nesta segunda-feira, com a avaliação final encerro, prematuramente, o semestre. Falo da área em que atuo. Certamente cada qual tem suas manobras.
Os primeiros dias copeiros foram, no mínimo, desaconselhados para menores. Talvez, caiba repetir uma pergunta cuja resposta deixa a muitos perplexos: Quem eram os brasileiros que, com entrada VIP ou ingressos muitas vezes custando acima de R$ 1.000, xingaram a presidente Dilma Rousseff com palavrões na abertura da Copa? Mesmo sem pesquisa na porta do Itaquerão, para o Datafolha, não parece arriscado intuir: é um público com renda familiar acima de dez salários mínimos.
A resposta da Presidente traduz a dignidade de uma estadista: Não vou me deixar perturbar, atemorizar por xingamentos que não podem sequer ser escutados pelas crianças e famílias. Na minha vida pessoal quero lembrar que enfrentei situações do mais alto grau de dificuldade. Situações que chegaram ao limite físico. Suportei, não agressões verbais, agressões físicas - ressaltou a presidenta, ao lembrar a tortura sofrida durante o regime militar, afirmando que esse tipo de agressão não vai intimidá-la e que já passou por coisas muito piores.
Aqueles que ofenderam a Presidente não são os que vão usualmente aos estádios. “O futebol é hoje, para a maior parte das pessoas, um programa de televisão” quem afirma em entrevista ao IHU da Unisinos é o Prof. Dr.Édison Luis Gastaldo do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), autor entre outros dos livros Pátria, Chuteiras e Propaganda: o brasileiro na publicidade da Copa do Mundo (AnnaBlume/Unisinos, 2002), Nações em Campo: Copa do Mundo e identidade nacional (com Simoni Guedes, Intertexto, 2006) e Publicidade e Sociedade: uma perspectiva antropológica (Sulina, 2013).
Gastaldo avalia a relevância do futebol na construção de uma identidade e cultura nacionais, a participação do Estado na consolidação e nos resultados desta modalidade esportiva e o projeto socioeconômico que orienta a concepção dos novos estádios do país, erguidos para a Copa ou não. “O que está acontecendo hoje no Brasil é um processo de aburguesamento do estádio de futebol. Está se dando muita atenção para estacionamento, coisa que nunca foi problema no Maracanã, por exemplo. As pessoas iam ao estádio de trem, de ônibus, usando o transporte público. As pessoas que frequentavam o estádio não iam de carro. Agora estão sendo oferecidos estacionamentos cobertos e manobristas e elevadores e shopping center, caracterizando o processo de aburguesamento destes empreendimentos imobiliários, a partir da definição do público-alvo pelas organizações que constroem e administram os novos estádios, as lojas e shoppings, as arenas multiuso, conforme o projeto de exploração econômica daquele espaço. Há aí, portanto, um projeto capitalista claramente colocado”, enfatiza o professor.
Vale conferir a entrevista na íntegra: http://www.ihu.unisinos.br/ entrevistas/532107-uma-copa-para-assistir-pela-televisao-entrevista-especial-com-edison-gastaldo

2 comentários:

  1. O que eu gostaria apenas de lembrar é que não temos culpa pelo que a "presidenta" passou em seu passado militante.

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  2. "Aburguesamento" do futebol. Uma constatação.

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