ANO
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EDIÇÃO
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A julgar pelas temperaturas desta sexta-feira
— negativas em várias localidades da região do sul do Brasil — o inverno, que
começa ‘oficialmente’ hoje, será rigoroso. Para meus leitores do hemisfério
Sul: votos de um bom inverno e curtam hoje a noite mais longa do ano.
Para aquelas e aqueles do hemisfério Norte: um
aprazível verão. Não esqueço os que residem na zona equatorial: desejo uma meteô saudável.
Como inverno envolve, também, ficar mais em
casa, trago uma crônica de Ruy Castro — o reconhecido
biógrafo de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda — publicada na segunda-feira na p. A-2 da
Folha de S. Paulo, que se for profética, nos fará ficar mais em casa nas quatro
estações.
Cemitérios urbanos Não é ficção científica. A
Amazon está "desenvolvendo" um software que, ao ser apontado para
qualquer produto – numa livraria, farmácia, confecção, loja de brinquedos e o
que você quiser –, "reconhecerá" esse produto, e ela (sempre ela) o
comprará para você. Trata-se do Dash Amazon, a próxima maravilha a ser acoplada
ao seu smartphone, e com a qual você poderá realizar o seu ideal de comprar
tudo sem sair de casa.
Resta
saber o que acontecerá a essas lojas e a todas as outras. Por algum tempo, elas
ainda resistirão, reduzidas à condição de imensos showrooms de uma
gigamegaempresa – a qual começou vendendo discos e livros pela internet e,
hoje, embora muitos não saibam, vende de grampos de cabelo a submarinos. Por
enquanto, seu ataque ao comércio organizado acabou apenas com as lojas de
discos no mundo inteiro e já começou a fechar as livrarias nos EUA. Nada que se
compare ao que acontecerá quando o Dash Amazon for uma realidade.
Cada
item comprado com um clique representará duas pessoas a menos no balcão — a que compra e a que vende — e, em pouco
tempo, uma loja fechada na rua ou no shopping. Imagine o mundo sem o comércio
varejista, que emprega milhões de pessoas, paga bilhões em impostos e dá vida
às cidades –aliás, foi ao redor desse comércio, na forma de um mercado ou
feira, que as cidades nasceram e prosperaram.
Sem
ele, elas se tornarão cidades-fantasmas — "cemitérios urbanos, povoados
por gangues e milícias", segundo meu amigo Rui Campos, da Livraria da
Travessa, e quem me alertou para o perigo. Curiosamente, ninguém parece
preocupado. A tecnologia é tão sedutora e apaixonante que nos impede de
enxergar os seus "desprodutos", como os chamava Décio Pignatari.
A
Amazon conta com nosso egoísmo e comodismo. Faz muito bem.
Olá Mestre
ResponderExcluirEu também cada vez mais tenho deixado de sair de casa para compras, mesmo que as vezes tenha algumas surpresas na hora da entrega. Livros, por exemplo, tem sido cada vez mais frequente a compra pela rede.
Abraço e um bom Final de Semana.
JB
Meu cérebro de ervilha visualiza, nesta perspectiva, um indigesto aumento da concentração da renda e da riqueza mais acentuado que há. Facilidade e comodismo para quem tem boas condições financeiras. E a maioria que luta para sobreviver? Estaremos imunes a uma possível convulsão (revolta) social? Como os "sem trabalho" sobreviverão? De esperança materializada em alimento? Alimento que não falta, porém não chega até a mesa de todos?
ResponderExcluirQue vive-se uma mudança de civilização, conforme o Mestre Chassot, o professor Ricardo Rossato e outros, não tenho dúvidas. Minhas dúvidas se restringem a maneira como todos os humanos sobreviverão quando não se prioriza, por exemplo, o fim da miséria e da pobreza. Que não percebemos porque nosso país vive boa fase na sua economia. Porém, os dados da crescente desigualdade estão aí para mostrar o que o pessoal do andar de cima tenta maquiar.
Estou sendo pessimista? Não sei. Talvez. É parte do que percebo.
Que entre uma partida e outra, mesmo com o ufanismo dos amantes do futebol, possamos fazer nossas reflexões...
Um bom sábado a todos.
A meta pelo capital vem transformando o mundo desde que o mesmo se fez mundo. Aos poucos a racionalidade do viver dá lugar a um consumir cada vez mais irracional. Algumas profissões agonizam, como o alfaiate, o relojoeiro, o sapateiro etc. . Outras, nascem no auge do frenético sistema, como o engenheiro de produção, o especialista em marketing, o microempreendedor novo nome dado ao antigo profissional autônomo etc. Novas técnicas para acelerar o consumo são criadas a todo momento, tais como adição de sódio a coca-cola o que gera mais sede a cada gole que se bebe, ou por exemplo aditivos químicos ao cigarro que fazem que o mesmo queime bem mais rápido e outras loucuras mais, que se chegassem ao conhecimento de todos certamente gerariam pânico geral. Pobre Gaia agonizante.
ResponderExcluirNovos tempos
ResponderExcluirComprador torna-se ectoplasma
Mero operador de compra virtual
E viveremos em cidade fantasma
Aonde tudo é meramente irreal.
Acabou para sempre o comprar
Na simpática lojinha da esquina.
Meu amigo, estimule seu avatar,
Que compra virtual virou rotina.
Ficará às moscas toda lojinha
Que ousar permanecer aberta
Um despertar novo se avizinha
Isso é real é a coisa mais certa.
Do jeito que esse mundo caminha,
Comprar-se-á até bebê em oferta.
Meu amigo Poeta Jair,
ExcluirMais uma vez leio resultado de primoroso poetar!
Antecipo que a blogada de amanhã se tecerá de dois poemas de teu larvar.
A admiração
achassot