ANO
8 |
EDIÇÃO
2804
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De
vez em vez, interrogo-me como um tema entra em nosso cabedal — substantivo com diferentes dicionarizações, mas aqui empregado
na acepção de saber, considerado como riqueza
(Priberam). Logo a expressão, usualmente referida, ‘cabedal de conhecimentos’ é uma redundância. O interrogar-me é
acerca de assuntos dos quais nada sabíamos e de uma maneira não prevista, se inserem
em nossos saberes.
Outro
dia, após de minha memorável (para mim) fala no 2º Seminário Internacional de Educação,
promovido pela SEDUC-RS, entre os cumprimentos recebidos, um foi de professor,
que se apresentou como sendo de Nonoai, e entregou-me um livro, com uma
caligráfica dedicatória: “Querido Prof.
Attico, dedico-lhe esta pequena obra que resgata um pouco de nossa história
regional, um pouco nossas vidas. Um fraterno abraço, Porto Alegre, 04/06/14 Prof.
Nelso”. Conversamos um pouco. Disse-lhe que à noite iria a sua região, pois
no dia seguinte teria atividades na URI de Frederico Westphalen. Um ‘até mais ver’ encerrou a curta charla.
Já
em casa, dei uma espiadela em “Balsas e
Balseiros do Uruguai: Reflexos e impacto para historiografia de Nonoai”.
Coloquei-o a repousar em pilha de livros que aguardam registro na biblioteca, e
mais, ficam disputando minha leitura com um tablete que faz vizinhança. Lá está,
por exemplo, “A única esperança” que ganhei, depois de outra palestra da
Yasmim, com a observação, “sei que o
senhor não vai ler, mas gostaria oferecer lhe oportunidades”. Enganou-se,
pois já li várias das historietas que buscam convencer-me que temos que guardar
o sábado ao invés do domingo.
Mas,
o livro 'Balsas e balseiros do Uruguai’
é vinho de outra pipa. Tenho saboreado seu sumarento conteúdo. Nele o professor
Nelso dos Santos, ex-vice-prefeito de Nonoai (gestão 2005/2008), apresenta os
resultados de mais de 10 anos de pesquisas acerca da extração de madeiras, em
especial o pinheiro e o cedro, retiradas das matas da região de Nonoai (no Médio
Uruguai) e transportadas pelo rio Uruguai, por 500 quilômetros até São Borja e
depois, pelo mesmo rio, para a Argentina. Em um livro de 111 páginas, copatrocinado
pela Eletrosul, conhecemos pesquisas realizadas pelo Prof. Nelson, marcadas por
uma análise crítica acerca de reflexos e impactos ambientais.
Mais
do que a exploração da mata, então abundante, o texto destaca o transporte da
madeira. Dois eram os tipos de balsas. Numa das modalidades, troncos da própria
madeira bruta eram amarrados com cipós. Outro tipo de balsa era formado de
madeira serrada, amarrada com arames. É fácil inferir, nestas embarcações
precárias, as dificuldades dos balseiros em chegar ao destino. No livro há
relatos trazidos pelo Prof. Nelso que ouviu balseiros que trabalharam na época,
que falaram do trabalho perigoso que era transportar a madeira.
Mas
os destaques mais significativos trazidos nos livro é para a pirágua. [(Bras., Rio Grande do Sul) embarcação feita de pranchões e
usada no Alto Uruguai, principalmente para o transporte da erva-mate. F. cast.
Piragua. Cp. Piroga. Aulete]
Esta circulava no rio Uruguai, já no final
do século 19 e foi muito usada no transporte de açúcar-mascavo, rapadura e
erva-mate.
Para
o autor o ciclo das balsas do rio Uruguai teve um grande significado econômico
na primeira metade do século 20, “o rio há tempo deixou de ser estrada. Tem sido
agredido, ameaçado, restam saudades. A força de suas águas, hoje, não leva mais
balsas: gera energia. Que esta energia, então ilumine e eternize nas mentes e
nos corações das nossas gerações acerca da pérola que foi o ciclo das balsas do
rio Uruguai para a história gaúcha e catarinense”, afirma o pesquisador que
teve o requinte de construir maquete das balsas que estudou e descreve.
Obrigado,
colega Nelso Santos. Levaste-me a navegar num rio de histórias. És, também, um
competente balseiro.
Mestre Chassot,
ResponderExcluirverifica-se, uma vez mais, nesta postagem que quando tu insistes que devemos ser curiosas/ ser curiosos que isso não são palavras ocas.
Esta edição traduz a sua curiosidade nos mostrando um retalho tão desconhecido de nossa história.
Um muito bom sábado,
MM
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