ANO
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EDIÇÃO
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Hoje,
é feriado em muitos municípios brasileiros. Ou melhor, é uma "Festa de
Guarda", isto é, para os de fé católica é obrigatório assistir missa
inteira. Mas este ano certamente a poderosa Fifa deverá emitir um decreto de
desobriga.
Esta
comemoração festiva remonta ao século 13. A Igreja Católica sentiu necessidade
de realçar a presença real do "Cristo todo" no pão e vinho consagrados.
A medieva festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano 4º em 1264. Em
muitas cidades, ainda hoje, há costume ornamentar as ruas por onde passa a
procissão com tapetes de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa.
Mas qual a relação desta festa com Galileu
Galilei? O grande rompimento entre Ciência e
Religião, parece acontecer em 1543, quando Nicolau Copérnico propõe um novo
modelo para o sistema solar que contraria o modelo bíblico. “Não é mais o sol
que gira em torno da Terra, mas a Terra é que gira em torno do sol”, diferente
do que está no livro de Josué (10, 12-14). A proposta copermicana é ratificada
por Galileu em várias obras, especialmente em “Diálogo sobre os dois principais
sistemas de mundo” (1623). A adesão ao heliocentrismo já havia concorrido para Giordano
Bruno terminar na fogueira, em 1600.
Apesar
de, aparentemente, estas revelações terem gerado a cisão entre os dois pontos
de vista, a questão central de toda a discussão, ocorre quando Galileu foi
julgado aparentemente por sua ratificação do heliocentrismo.
Parece oportuno ler uma pungente confissão pública: "Eu,
Galileu, filho de Vicente Galilei de Florença, com a idade de setenta anos,
juro que sempre acreditei, acredito agora e com a ajuda de Deus acreditarei no
futuro em tudo o que sustenta, ensina e prega a Santa Igreja Católica e
Apostólica. Mas por ter eu — após ter sido com preceito intimado juridicamente
por este Santo Ofício a que
deixasse completamente a falsa opinião de que o Sol seja o centro do mundo e
que não se mova, e de que a Terra não esteja no centro e que se mova; e
a que não tivesse, defendesse, nem ensinasse de qualquer modo, nem por voz, nem
por escrito, a falsa doutrina referida; e por ter sido notificado de que esta
doutrina é contrária às Sagradas Escrituras — escrito e imprimido um livro no
qual trato da mesma doutrina já condenada e apresento razões com muita eficácia
em seu favor, fui julgado veemente suspeito de heresia, isto é, de ter tido e
acreditado que o Sol seja o centro do mundo e esteja imóvel e que a Terra não
seja o centro e que se mova. Portanto, querendo retirar da mente de Vs. Eminências
e de todo fiel cristão esta veemente suspeita (...) com o coração sincero e fé
não fingida abjuro, e amaldiçoo e detesto os erros e heresias acima
(...)".
Rigorosamente
o julgamento [Galileu frente ao tribunal da inquisição romana, pintura de Cristiano Banti (fonte Wikipédia).] que conduziu a esta confissão fora um simulacro (A ciência através dos tempos, p. 149). Era
fácil aceitar o senso comum marcado pelas propostas de Aristóteles há mais de
20 séculos. Havia um impasse muito maior que fora subtraído das discussões. Galileu
ensinava mais de um século antes que Lavoisier ‘que uma substância só se transforma em outra substância,
se houver alteração de sua natureza’. Ocorre que isso fere frontalmente
o dogma da transubstanciação, ou seja, quando o pão e o vinho se transformam em
corpo e sangue de Cristo. Por tal era importante silenciar Galileu, que até
morrer aos 78 anos não pode mais ensinar ou escrever livros.
Essa
‘leitura’ católica da Última Ceia é diferente — leia-se, mais fácil—, no
luteranismo e na maioria das igrejas surgidas após a Reforma (1517) — para o
qual o pão e o vinho representam (não são) o corpo e sangue de Cristo. Por isso
que segunda-feira eu escrevia que dia santo católico de hoje é a celebração de
uma das mais significativas dissemelhanças do catolicismo e as demais
denominações cristãs.
Tais atitudes se protraem no tempo quando a mídia propaga aos quatro ventos que estamos todos bem, nosso país vive um franco avanço rumo ao primeiro mundo etc. etc. Os antolhos são adornos usados em ambos os lados, tanto dos fanáticos, como dos radicais. Fico com Sócrates;- Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.
ResponderExcluirPenso que muitos católicos gostariam de que voltasse a Inquisição. Apenas temo estar pensando corretamente.
ResponderExcluirMalleus Maleficarum...kkkk
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