ANO
8 |
EDIÇÃO
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Iniciamos
hoje, talvez, a semana que mais foge a usual matriz de uma semana laboral.
Teremos sete dias com três jogos da Copa em cada um. Na quinta-feira teremos um
dia santo católico (celebração de uma das mais significativas dissemelhanças do
catolicismo e as demais denominações cristãs), ou melhor, uma data alçada a
feriado em muito significativo número de municípios brasileiros. Este feriado, em
muitas atividades, se transmuta em feriadão fazendo da sexta-feira e do sábado
dias festivos.
Bem
sabemos o quanto a dita copa da Fifa se impõe, de maneira ditatorial, em nossos
fazeres. Na semana passada, foram 11 jogos. Há aqueles que já contabilizaram cerca
de 20 horas de televisão. Imagine-se nesta semana em que o número de jogos será
quase o dobro.
Dias
letivos se transmutam em recesso acadêmico. As aulas são repostas com artifícios
mirabolantes. Assim, nesta segunda-feira, com a avaliação final encerro,
prematuramente, o semestre. Falo da área em que atuo. Certamente cada qual tem
suas manobras.
Os
primeiros dias copeiros foram, no mínimo, desaconselhados para menores. Talvez,
caiba repetir uma pergunta cuja resposta deixa a muitos perplexos: Quem eram os brasileiros que,
com entrada VIP ou ingressos muitas vezes custando acima de R$ 1.000, xingaram
a presidente Dilma Rousseff com palavrões na abertura da Copa? Mesmo
sem pesquisa na porta do Itaquerão, para o Datafolha, não parece arriscado
intuir: é um público com renda familiar acima de dez salários mínimos.
A
resposta da Presidente traduz a dignidade de uma estadista: Não vou me deixar perturbar, atemorizar por
xingamentos que não podem sequer ser escutados pelas crianças e famílias. Na
minha vida pessoal quero lembrar que enfrentei situações do mais alto grau de
dificuldade. Situações que chegaram ao limite físico. Suportei, não agressões
verbais, agressões físicas - ressaltou a presidenta, ao lembrar a tortura sofrida
durante o regime militar, afirmando que esse tipo de agressão não vai
intimidá-la e que já passou por coisas muito piores.
Aqueles
que ofenderam a Presidente não são os que vão usualmente aos estádios. “O
futebol é hoje, para a maior parte das pessoas, um programa de televisão” quem
afirma em entrevista ao IHU da Unisinos é o Prof. Dr.Édison Luis Gastaldo do Programa de
Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro), autor entre outros dos livros Pátria,
Chuteiras e Propaganda: o brasileiro na publicidade da Copa do Mundo
(AnnaBlume/Unisinos, 2002), Nações em Campo: Copa do Mundo e identidade
nacional (com Simoni Guedes, Intertexto, 2006) e Publicidade e Sociedade: uma
perspectiva antropológica (Sulina, 2013).
Gastaldo
avalia a relevância do futebol na construção de uma identidade e cultura
nacionais, a participação do Estado na consolidação e nos resultados desta
modalidade esportiva e o projeto socioeconômico que orienta a concepção dos
novos estádios do país, erguidos para a Copa ou não. “O que está acontecendo
hoje no Brasil é um processo de aburguesamento do estádio de futebol. Está se
dando muita atenção para estacionamento, coisa que nunca foi problema no
Maracanã, por exemplo. As pessoas iam ao estádio de trem, de ônibus, usando o
transporte público. As pessoas que frequentavam o estádio não iam de carro.
Agora estão sendo oferecidos estacionamentos cobertos e manobristas e
elevadores e shopping center, caracterizando o processo de aburguesamento
destes empreendimentos imobiliários, a partir da definição do público-alvo pelas
organizações que constroem e administram os novos estádios, as lojas e
shoppings, as arenas multiuso, conforme o projeto de exploração econômica
daquele espaço. Há aí, portanto, um projeto capitalista claramente colocado”,
enfatiza o professor.
Vale
conferir a entrevista na íntegra: http://www.ihu.unisinos.br/
entrevistas/532107-uma-copa-para-assistir-pela-televisao-entrevista-especial-com-edison-gastaldo
O que eu gostaria apenas de lembrar é que não temos culpa pelo que a "presidenta" passou em seu passado militante.
ResponderExcluir"Aburguesamento" do futebol. Uma constatação.
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