ANO
8 |
EDIÇÃO
2819
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Em nossa tradição não temos, a cada semana,
um shabath, enquanto tempo de reflexão e convívio familiar, como descrevi aqui,
em 7 de fevereiro, quando estava em Israel. Também não temos um mês para
interiorização como o ramadã, que os islâmicos vivem agora. Uma cada vez maior
secularização transformou, mais recentemente, muito o domingo cristão. O lazer
ocupa cada vez mais o espaço do que antes era sagrado.
Neste lazer, parece ainda existir momentos
privilegiados à leitura. Nesta dimensão queria oferecer aqui um excelente texto
que li nesta quinta-feira, 26JUN2014, em Zero Hora. Talvez, também, por ter
sido muito marcado pelo livro que Mário Corso evoca, agrada-me compartir, aqui
a coluna deuses e astronautas.
Com ela votos de saboroso domingo.
Lido aos 16
anos, Eram os Deuses Astronautas, de
Erich von Däniken, marcou minha adolescência. Hoje discordo de suas teses, na
época encaradas com seriedade. Jung dizia que a fé e os discos voadores funcionam
como uma gangorra. Por isso, quando a religião perdeu seu prestígio, surgiram
os extraterrestres, a contribuição magna do século 20 para o menu de seres
fantásticos que nos assombram.
Este livro era
uma resposta aos sempre presentes enigmas da origem. Segundo Däniken, o que nos
tornou humanos e nos fez chegar aonde chegamos, foi-nos oferecido por
visitantes espaciais. Eles teriam feito parte do nosso passado, mas nossos
tolinhos antepassados os tomaram como deuses. Apesar do acerto em pescar as
questões quentes sobre a humanidade, a saída proposta resvala na
superficialidade, confunde história e mito, e não resiste a uma crítica dos
pontos de vista da arqueologia, da história e da antropologia. Enfim, uma
simpática maluquice bem articulada.
Quando vejo o
surgimento de novos mitos, lembro da minha relação com essas teorias
mirabolantes, que foram presentes em um momento da vida cheio de inquietações.
São teorias pseudocientíficas, conspiratórias, mitologia rala, vendidas como
revelação, frente às quais tenho um certo incômodo e ao mesmo tempo empatia, já
fui usuário.
A internet não
as inventou, mas potencializa uma série delas, como a farsa da viagem à Lua,
vacinas que causam autismo, a aids, que fora criada em laboratório, entre
tantas. História e ciência levam muito tempo para serem entendidas, mais trabalhoso
ainda é a coragem para enfrentar o desamparo de viver sem pensamentos mágicos.
Infelizmente, a ciência não substitui bem a religião no item conforto
espiritual.
Já a maioria das
teorias conspiratórias, mesmo que tornem o mundo e o universo mais
assustadores, podem ser repousantes. Paradoxalmente, é pior suportar o
aleatório, o incompreensível, à sensação de ser apenas poeira cósmica. Levar
fantasias a sério economiza estudo, pensamento, biblioteca e principalmente
angústia. Ainda por cima, elas somam o charme do secreto e transgressivo:
seriam uma verdade da qual os poderosos estariam mantendo-nos alienados, mas
nós enxergamos além. Supor que somos enganados é tentador, pois contém a ideia
de que tudo tem explicação, apenas estamos alijados dela. Qualquer teoria,
mesmo capenga, é preferível ao vazio de sentido com que podemos nos deparar.
O céu ainda me
causa assombro, mas meu firmamento, para meu azar, ficou menos povoado.
Sobrevivo sem deuses, anjos e astronautas, a fantasia teve que procurar outras
moradas, mas eles me fazem uma falta!
Sonhar é com Homo
ResponderExcluirAo Homo sapiens fantasia faz falta
Ele sonha desde um tempo remoto
Onirismo está sempre na sua pauta
E de teorias conspiratórias é devoto.
Supersticioso, aos seus olhos salta
Que do estranho belo cosmo ignoto
Deuses travestidos em astronautas
Vieram ao Planeta num viajar maroto.
Aqui esses deuses não deram mole
Cruzaram com nossas evas antigas
E geraram fecunda e variada prole.
Uma verdade histórica há quem diga
Van Däniken ainda que história viole,
Impôs aos incautos essa boa intriga.
Em tempo adito um comentario pra lá de tardio. A ciencia nos ensina que não existe geração expontânea, ou relembrando Lavousier, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Deixo aqui uma pergunta então; como explicar o inexplicavel inicio de tudo?
ResponderExcluirMeu querido filósofo Antônio Jorge,
ResponderExcluirTu já citaste aqui Sócrates em outro momento. Trago hoje Prigogine (1917-2003). "Só tenho uma certreza; as minhas incertezas!" Estamos longe de explicar tudo.
Hão de nos restar muitos inexplicáveis. Tu a cada dia não és assaltado por dúvidas. Embalas mais incertezas que certezas.
Mesmo nas questões de fé tens dúvidas. Recorda santo Agostinho, querendo entender a trindade.
Tua nonagenária mãe, instruída pela vida tem dúvidas.
Hoje aprendi coisas que não sabia ontem.
Escrevi um blogue para amanhã revisando o que escrevi na edição de hoje.
Um boa noite, agradecendo tuas interrogações.
Elas são mais preciosas que muitas respostas.
A estima e admiração do
achassot