ANO
8 |
EDIÇÃO
2810
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A
proposta, ou melhor: a mania, de querer a cada dia postar algo é um excelente
indicador para darmo-nos conta de nossa — não tão rara — esterilidade intelectual.
Quando vejo, por exemplo, que no feriado gélido aqui da região mais sureña do
Brasil, à meia manhã, os leitores do blogue anda não chegaram a duas dúzias,
quase enrolo a bandeira.
Vejo
então a Espanha, que na quarta-feira amargava sua prematura eliminação de um
torneio ao qual chegara dona do título, arrastar, no dia seguinte, milhares de
pessoas às ruas para saudar uma monarquia, tida como rota e embolorada, com o rei
Felipe 6º, produzido numa família real marcada por escândalos. Talvez nesses paradoxos,
mais precisamente, nestas contradições que me revitalizo e alinhavo alguns escreveres.
Desde
domingo estou lendo um livro robusto (tem 590 páginas) e sumarento (pois se
tece em três histórias paralelas) que exige disciplina para leitura. Esses dias
copeiros não poderiam ser mais propícios para um quase reaprendizado de
leituras tão extensas em suporte papel. Já antecipo que em breve trarei um comentário
mais denso acerca do intrigante “O homem
que amava cachorros”. Por ora o refiro aqui para dizer do quanto um
presente que ganhei no dia dos namorados está me capturando.
Ainda
nesta semana comentava de como a poderosa Fifa interfere ditatorialmente nas
agendas. Eis uma manchete dos jornais de ontem: “Tradicional
procissão de Corpus Christi não irá ocorrer hoje em Porto Alegre, devido à Copa
do Mundo”. Isto sem jogo aqui ou do Brasil. Faltou apenas
decreto de desobriga de assistência a cultos religiosas durante estes dias.
Aliás,
não é só nas agendas, até nos costumes a Fifa se mete. Causou desagrado à interventora
que chegassem à arena Beira-rio tantas pessoas trajando camisetas do Grêmio e
do Internacional com a marca Banrisul. Como o banco que patrocina as duas
equipe gaúchas não é um dos patrocinadores da Fifa, é presença das camisetas
foi considerada indevida.
Mas
para que a citação do livro que leio, não fique nesta blogada como Pilatos no
credo, o calhamaço (não na acepção pejorativa: Mulher feia e pretensiosa, mas significando
livro
volumoso) tem me ensejado, também, saboroso entretimento com as
palavras. Por exemplo ‘comissura dos lábios’. Como eu sempre vira a palavra comissura
associada a lábios, pensava tratar-se de uma redundância dizer que alguém levara o cigarro
à comissura dos lábios ou roubara um beijo que tangenciara a comissura dos
lábios.
Ledo
engano. Primeiro o Google desktop me assegura que, nos últimos 20 anos, não há
nenhum registro que alguma vez eu tenha escrito a palavra comissura. O Priberam
a dicionariza assim:
co·mis·su·ra
substantivo feminino 1. Ponto onde duas superfícies se reúnem formando ângulo. 2. Junta. 3. Linha ou ponto de junção. 4. Sutura. 5. Abertura. 6. Fenda. Um exemplo dado pelo dicionário:
substantivo feminino 1. Ponto onde duas superfícies se reúnem formando ângulo. 2. Junta. 3. Linha ou ponto de junção. 4. Sutura. 5. Abertura. 6. Fenda. Um exemplo dado pelo dicionário:
pé·-de·-ga·li·nha
substantivo masculino Ruga junto às comissuras das pálpebras. [Mais usado no plural.]
substantivo masculino Ruga junto às comissuras das pálpebras. [Mais usado no plural.]
Para
ter uma vez usada a palavra lembrei-me que poderia encerrar esta blogada
dizendo: Encantei-me
com meu vizinho quando discutíamos acerca da comissura da cerca que nos faz
lindeiros.
Aprendo
também, em outro dicionário (www.infopedia.pt/termos-medicos), que a palavra
tem uso em anatomia.
§ comissura labial ponto de união dos lábios no
canto da boca
§ comissura nervosa feixe de fibras nervosas que
unem entre si duas regiões do cérebro, do cerebelo e da medula e que tem
designações próprias e diversas (basal, branca anterior, branca posterior,
caudal, do hipocampo, cinzenta, olivar etc.)
§ comissura palpebral ou ocular ponto de união das
pálpebras nos cantos do olho
§ comissura vulvar ângulo anterior ou posterior onde
se unem os lábios da vulva
Douto Mestre,
ResponderExcluiruma perfeita elegia à comissura.
Valeu a poética produção acerca da cerca e também as informações de anotomia.
Michaela
Mestre Chassot, essa ditadura extremada, sendo redundante afinal não há ditadura branda, me lembra as organizações criminosas representadas em filmes apocalípticos onde a terra vive a emblemática luta entre o bem subjugado e o inexorável mal.
ResponderExcluirEsqueci de explicar que me refiro nessa à ditadura da FIFA!
ResponderExcluirSalvem nossas comissuras!
ResponderExcluirQue fique bem claro no entanto
Essa tal de FIFA com impostura
Estimulou-nos todo desencanto
O qual abriu a nossa comissura.
Pois éramos virgens na maioria
Então a FIFA muito de repente
Nem sequer perguntou se doía
Colocou na comissura da gente.
É fato, a nega tá lá dentro, diz ela
E para nós só nos resta lamentar
Enquanto a FIFA toda tagarela
Permanece intocável no seu altar.
E incautos pintam verde-amarela
Sua comissura, sua vida, seu lar