Ano
7*** PORTO ALEGRE/MORADA DOS AFAGOS ***Edição 2303
Esta edição abre com o anúncio de uma jornada amazônica—
minha terceira neste semestre — que se inicia hoje. Parto de Porto Alegre no
início da manhã e nesta quarta-feira, ao entardecer faço uma palestra na XXVI
Semana de Química da UFAM, em Manaus. Amanhã, falo no V Seminário de Integração
de Práticas Docentes e II Colóquio Internacional de Práticas Pedagógicas e
Integração, na UFRR, em Boa Vista. Na sexta-feira, cumpro uma atividade
organizada pela SBQ-RR tenho duas falas em Bonfim, RR e uma Leten na Guyana. No
sábado tenho um minicurso na UERR, em Boa Vista. Retorno domingo. Serão um
total de seis falas em quatro dias.
Nesta terça-feira, nas aulas da manhã e da noite de Teorias
do Desenvolvimento Humano assistimos ao impressionante documentário “Homo
sapiens 1900”. Não sei se poderia haver uma melhor comemoração (não foi tal o
propósito) do “Dia da Consciência Negra” que propõe, também, reflexões acerca
do racismo. Sou muito grato ao meu colega e amigo Geziel Moura — de Belém do
Pará, que me enviou o filme, que eu desconhecia.
Homo Sapien 1900 é um documentário, de 88 minutos, do
diretor sueco Peter Cohen lançado em 1998 que foi construído a partir de
arquivos de fotos e filmes na tentativa de narrar como a Europa na passagem do
século 19 para o 20 tentou estabelecer a eugenia e a limpeza racial como formas
de aperfeiçoar o ser humano.
Trago, para os interessados um comentário do filme
retirado, com reconhecido agradecimento de renanescarlate.blogspot.com.br/2008/04/resenha-do-filme-homo-sapiens-1900.html
O filme “Homo
Sapiens 1900” é ao mesmo tempo chocante e esclarecedor. Uma obra prima do já
consagrado diretor sueco Peter Cohen, por seu “Arquitetura da Destruição”, o
longa aborda o polêmico tema da eugenia desde sua concepção até a expressão
máxima durante o regime nazista alemão. Com uma descrição e explicação
fantástica do assunto, o espectador envolve-se no tema e perplexo fica ao ver
até que ponto pode chegar o homem que objetiva a perfeição do ser, a criação de
uma verdadeira máquina irretocável, a partir de um misto de estupidez e
insanidade.
Muito
diferente do que se imagina o pioneirismo no estudo da eugenia não foram nos regimes
fascistas em suas mais famosas versões, o italiano e o alemão. Iniciado no
início do século XX na pacata e tranquila Suécia, a prática da eugenia ganhou
vários adeptos no mundo, entre eles, Estados Unidos, Rússia e a emblemática
Alemanha.
Como Peter
Cohen deixa bem claro, a eugenia em si, não é um fato negativo, a partir do
momento em que se procura o melhoramento da raça humana. No entanto quando essa
prática torna-se obsessiva tendo por objetivo a criação de uma raça humana
perfeita, um verdadeiro super-homem indefectível, ela torna-se altamente danosa
a humanidade em geral, pois, é posto em prática uma manipulação biológica, que
origina para uma limpeza racial.
Repugnante no
filme é a forma como a eugenia é vista como uma forma de higienização racial
essencial a sociedade moderna, visto que com o desenvolver de um homem superior
portador de uma capacidade intelectual de alto nível, a sociedade se
harmonizaria proporcionando o aumento da produção industrial. Ainda sobre a
criação do homem perfeito, este deve ser encarado como um produto de qualidade,
para uma sociedade merecedora e como uma exigência da vida moderna.
Imagens que
ficam marcadas para o espectador, são as do micro filme mudo que remonta a
eliminação de recém-nascidos portadores de alguma má formação congênita ou
qualquer tipo de deficiência. Essa decisão era tomada após a convocação de uma
reunião de médicos que tinha o objetivo de decidir sobre o destino do bebê, tão
natural quanto uma reunião de negócios. Médicos e biólogos especializados na
eugenia viajavam por entre os países europeus e os Estados Unidos pra divulgar
e dissipar essa política de extermínio como se fossem as últimas inovações da
medicina.
Maior expoente
da pesquisa e prática da eugenia e incorporada as suas políticas, a Alemanha
cultivou essa busca pela criação do homem ariano perfeito, ou seja, aquela raça
já considerada por eles como superior, deveria ter exemplares humanos de uma
verdadeira preciosidade biológica. Tamanha loucura, com certeza podemos assim
designar, era fruto de uma mente doentia de seu fürher Adolf Hitler. Como
marcas desse delírio eram sem dúvida, as casas que os nazistas criaram para
abrigar mulheres que dariam à luz ao futuro super-homem. Essas "cobaias
parideiras" terminaram criando problemas no próprio seio do nazismo, na
medida em que o cruzamento sexual entre machos e fêmeas para a reprodução desse
homem ideal entrava em choque com o conceito de família que estava na base do
regime.
Mas não eram
somente os alemães, que executavam esse artifício. Embora estes tenham
emblematizado à questão com a política de eliminação de massas em campos de
concentração, a União Soviética, sua principal rival ideológica, não ficava
para trás. Embora por caminhos opostos, ambos os regimes totalitários
recorreram à eugenia como forma de criar o novo homem que propunham. Na URSS de
Stálin, a eugenia tinha como foco o cérebro e o intelecto, também com vistas à
criação de um novo homem idealizado, capaz de executar as necessidades e
demandas do regime. Na Alemanha nazista, a limpeza racial passava pelo corpo,
buscava a beleza e a perfeição física nos moldes que deveriam construir o
super-homem ariano, viril, forte, atlético.
Essa
manipulação biológica como arma para eliminar todos os que não se adaptam ao
padrão racial desenvolvido por um ideal fascista de homem, seja fascista,
comunista ou liberal, pode tentar ser explicada de um ponto de vista de um ser
humano tido como incompleto. Prevalecia o medo da decadência e a incapacidade
do homem em saber lhe dar com o diferente, o feio e o disforme, que segundo as
teorias fascistas, seriam frutos do progresso.
Num primeiro
impacto o filme é de aterrorizar, isso num sentido de total incompreensão de um
subjugar do amor, de saber, ou melhor, de não saber o limite da loucura humana.
Cohen soube mostrar a situação como ela era e as perspectivas diferentes, os
ideais daqueles que defendiam a eugenia. Embora continuemos espantados com
mentes que beiram a demência, percebemos que esse não é um fato já superado e
enterrado na história. Os neonazistas do agora e as práticas xenófobas podem
ser encarados como uma nova etapa dessa política acima de tudo discriminatória.
As incontáveis pesquisas e experiências científicas também nos fazem lembrar o
assunto, pois o homem ainda continua na pauta da ciência moderna. O
longa-metragem vale a pena ser assistido, sem dúvida, pelo conteúdo.
Prezado Professor,
ResponderExcluiralém do “Arquitetura da Destruição” já citado no texto, outro documentário que ajuda a problematizar a Eugenia é a "Ciência e a Suástica" lançado em DVD pela Superinteressante, se não tiveres ainda, me fala.
Forte abraço,
Geziel Moura
Geziel
Obrigado muito amigo Geziel,
ResponderExcluirum abraço desde Viracopos/Campinas, rumo a tua desafiadora Amazônia,
Com amizade e admiração,
attico chassot
Continuando ao bel prazer da velox, faço meu breve comentario sobre a blogada de hoje. Uma das incongruências da eugenia nazista é não observar que a maioria do seu fenótipo é constituído por gens recessivos e não dominantes.
Chassot,
ResponderExcluirparabéns pela energia inquebrantável em tuas incursões pelo Brasil.
Os adeptos à eugenia não sabiam que a miscigenação é uma das chaves para o melhoramento das espécies! Por esta e outras razões a alfabetização científica se faz necessária em nossa sociedade ainda assombrada pela estupidez e as trevas do preconceito e do fanatismo.
Abraço muito afetuoso,
Guy.
Boa tarde,
ResponderExcluirPrimeiramente gostaríamos de parabenizá-lo pelo texto que nos instigou a assistir o documentário. Da nossa experiência escolar verificamos que o assunto do post não foi muito abordado pelos professores de ciências. Como você abordaria esse tema nas aulas de ciências na educação básica?
Abraços,
alunos do curso de Ciências Biológicas UFJF