Ano
7*** FREDERICO WESTPHALEN/PORTO ALEGRE ***Edição 2299
Depois de extensa sexta-feira em Frederico Westphalen já
estou voltando. Abro a blogada com uma oferta:
O link da palestra que proferi
em Amargosa no último domingo. https://vimeo.com/53567556
A produção é de Ivan Americano
da Costa Neto do Núcleo de Audiovisual - Assessoria de Comunicação Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia.
Eu particularmente fiquei surpreso com os meus numerosos
tropeços linguísticos. Uma decepção para mim. Vou me justificar: era uma noite
de domingo, onde esta já era sexta fala da semana, sucedendo a uma tarde de
minicurso.
Neste sábado, que sucede ao meu périplo, trago uma
sugestão de leitura que muito provavelmente todos têm em casa. A dica sabática
de hoje é bíblica. Nestes dias recém vividos, tive embate com uma colega acerca
de textos bíblicos. Isso me sugeriu pistas.
Assim pareceu-me oportuno, aqui e agora, fazer loas com /
ao ‘Cântico dos cânticos’. Este livro, também conhecido como os ‘Cantares de
Salomão’. A expressão hebraica "de Salomão" pode ser traduzida
"de" Salomão (como o seu autor) ou "para Salomão (como a pessoa
à qual o livro é dedicado). A opinião tradicional entre judeus é a de que
Salomão, filho do Rei Davi, foi o seu autor. Para os católicos este livro
pertence ao agrupamento dos Sapienciais, que condensam a sabedoria infundida
por Iahweh no povo de Israel, e como autor aparece a figura simbólica de
Salomão, o modelo da sabedoria em Israel.
Beija-me com beijos de tua boca!
Teus amores são melhores do que o vinho,
O odor dos teus perfumes é suave,
teu nome é como um óleo escorrendo,
e as donzelas, se enamoram de ti ...
Arrasta-me contigo, corramos!
Leva-me, ó rei, aos teus aposentos
e exultemos! Alegremo-nos em ti!
Mais que ao vinho, celebremos teus
amores!
Com razão se enamoram de ti.
O ‘Cântico dos
cânticos’ tem sua escrita estimada por volta do ano 400 a.C, e constitui-se
de uma coletânea de hinos nupciais. Na Bíblia Católica, que segundo o Concílio
de Trento [1545 a 1563, o 19º e mais longo concílio ecumênico e dos mais
importantes], tem como autênticos 73 livros (46 no Antigo Testamento e 27 no
Novo). O Cântico dos Cânticos é um livro curto — sete páginas — com apenas oito
capítulos. Apesar de sua brevidade, apresenta uma estrutura complexa que, por
vezes, pode confundir o leitor. Diferentes personagens têm voz, ou falam, nesse
poema lírico. Em muitas traduções da Bíblia, esses emissores alternam sua fala
de modo inesperado, sem indicação ao leitor, dificultando, assim, sua leitura.
A versão Almeida, revista e atualizada [conhecida versão da tradução da Bíblia
publicada em 1959 pela Sociedade Bíblica do Brasil; uma das mais usadas pelos
protestantes brasileiros] e a Bíblia de Jerusalém [versão católica feita pela
Escola Bíblica de Jerusalém, considerada "revista e ampliada inclui as
mais recentes atribuições das ciências bíblicas. A tradução segue rigorosamente
os originais, com a vantagem das introduções e notas científicas (Paulus
Editora, 1981 )] por exemplo, eliminam o problema, com a indicação de quem está
falando; desse modo, o leitor amplia seu entendimento.
Os três participantes principais do poema são: (1) o
noivo, o Rei Salomão; (2) a noiva, mulher mencionada como "Sulamita; e (3)
as "filhas de Jerusalém". Tais mulheres devem ter sido escravas da
realeza que serviam como criadas da noiva do rei Salomão. No poema, servem como
coro para ecoar os sentimentos da Sulamita, enfatizando seu amor e afeição pelo
noivo.
Essa canção de amor divide-se praticamente em duas seções
principais com mais ou menos o mesmo tamanho. O início do Amor (Cap.1-4) e seu
Amadurecimento (cap.5-8).
Por ser um poema
escrito em uma linguagem considerada sensual, sua validade como texto bíblico
já foi questionada ao longo dos tempos. O poema fala do amor entre o noivo e
sua noiva.
Alguns teólogos interpretam o texto como alegórico,
dizendo que o amor exaltado é o amor entre Deus e Israel, ou entre Cristo e a
Igreja. Em algumas edições católicas (Paulinas, 1958, o único exemplar da
Bíblia que comprei e que ainda tenho em uso) o Cântico dos Cânticos vem
precedido de explicações como “[...] para nós ocidentais modernos, as suas
imagens são algumas vezes fortes, e as cores tão vivas, que um leitor pouco
experiente em coisas orientais bíblicas, poderia julgar, à primeira vista, que
neste livro há a narração de uma paixão terrena”. Após essa pudica advertência
há informação de que o Cântico dos Cânticos, não foi escrito para almas
sensuais, pois “respira uma pureza imaculada, uma santa gravidade. As mais
castas e as mais santas almas utilizam-no em todos os tempos, afim de
aumentarem seu amor para com Deus”.
Talvez seja esta a razão pela qual esteja colocado como
um dos 7 livros didáticos do Antigo Testamento, mesmo que o texto informe que
entre os judeus houvesse uma lei que proibia a sua leitura para todas as
pessoas que não tivessem completado 30 anos de idade.
Na edição que possuo, o número e a extensão de notas
explicativas e/ou interpretativas corresponde a cerca de um terço do texto
total. Assim há informações tão exóticas como de que as numerosas esposas a que
Salomão se refere, representam as nações pagãs, que um dia se deveriam converter
a Cristo, entrando na Igreja, sua única esposa. Chega ser burlesco como se quer
mascarar e ocultar a poliginia de Salomão.
Merece uma observação o quanto traduções foram maneiras
de velar certos textos e facilitar assim sua exegese. Janete Gray (O celibato
das mulheres. São Paulo: Paulus, 1998, p. 31), uma freira católica australiana,
que fez seu doutoramento sobre o celibato das mulheres, mostra o quanto o
Cântico dos cânticos foi transformado de uma narrativa laudatória da
experiência sexual no seu oposto, o louvor à abstinência sexual. Assim a visita
noturna que o esposo faz a esposa, é interpretado em nota explicativa como
“Deus batendo a toda hora à porta de nossos corações, e é preciso responder
prontamente à sua chamada” (na edição que citei possuir). Um banquete quase
orgíaco dos esposos, para o qual chamam os amigos, é prefigurado como símbolo
manifesto da Eucaristia (ibidem). Nas versões usuais, por exemplo, a vagina é
traduzida com puritanismo por umbigo, mesmo que anatomicamente na descrição esteja
colocada na junção das coxas e se tenha um umbigo, aparentemente sadio, que
seja úmido e tenha secreção. Assim por exemplo: “O teu umbigo é uma taça feita
ao torno, que nunca está desprovida de licores” (7, 2).
“O mundo inteiro só foi criado, por assim dizer, por
causa do dia em que o Cântico dos Cânticos seria dado a ele. Pois todas as
Escrituras são santas, mas o Cântico dos Cânticos é o Santo dos Santos.” A
frase teria sido dita pelo sábio judeu Rabi Akivá, por volta do ano 100 d.C., e
explicaria porque a Bíblia aceita por cristãos e judeus de hoje abriga esse
livrinho misterioso.
Os oito capítulos do Cântico dos Cânticos estão cheios de
sensualidade e erotismo, descrições apaixonadas do corpo de dois jovens
amantes, insinuações do ato sexual — e uma única menção, que soa quase como
nota de rodapé, ao nome de Deus. Como explicar, então, seu status nas Sagradas
Escrituras judaico-cristãs? Uma boa pergunta para receber respostas. Talvez
para continuarmos falando sobre o Amor.
Encerro essa
blogada sabatina, imaginando que muitos de meus leitores e leitoras, a esta
altura já estejam tomando sua bíblia (algumas, talvez empoeirada) e aceitando a
minha dica de leitura. O Cântico dos Cânticos todo não é muito maior que esta
blogada. A cada uma e cada um votos de bom sábado. Espero contribuições para
continuarmos fazendo loas para / com o Cântico dos Cânticos.
Professor,
ResponderExcluirseu texto merece consideração, mesmo discordado de suas referência a traduções.
O senhor omitiu algo relevante: O cântico dos cânticos canta o amor humano como era vivido no momento da Criação do homem e da mulher, quer dizer, antes do pecado; um amor cheio de charme, englobando as três esferas humanas: física, emocional e espiritual.
Padre Paul Peter Rinski
Mui reverendo Padre Paul Peter Rinski,
Excluirprimeiro celebro sua presença aqui como comentarista, mas devo considerar no mínimo ‘INGÊNUA’ sua leitura: ora achar que os amantes celebrarem lindamente o amor ser porque “era vivido no momento da Criação do homem e da mulher, quer dizer, antes do pecado”.
Não senhor Padre, arrume outra explicação. Vou dizer ~~ para provoca-lo ~~ que foi porque pecaram que aprenderam transar tão lindamente.
Volte sempre,
mas com menos inocência
attico chassot
Concordo plenamente mestre Chassot,
Excluirmesmo sendo cristão, concordo contigo, sem preconceitos,
obrigado,
abraço,
Irineu Batista.
Nesses tempos modernos, as expectativas apocalípticas estão em alta, e a literatura clássica caiu para "segunda divisão". Fico admirado em nossos debates matinais, como aos jovens é inerente o conformismo do "não saber", e já ao adulto evangélico ferrenho, minha esposa, "a verdade é a que sai pela boca do pastor".
ResponderExcluirTempos difíceis.
abraços
Antonio Jorge
Muito querido Antônio Jorge,
Excluir... e quando o Pastor tem uma leitura viciada / bitolada como o reverendo que comentou um pouco antes de ti: um desastre.
Obrigado por a cada dia dares um plus a este blogue,
attico chassot
Mestre Chassot, sempre achei o livro Cântico dos Cânticos uma mistura de misticismo erótico, como se quem o escreveu (SALOMÂO) estivece tentando justificar algo ou a própria sexualidade, na verdade não entendo o porque de sempre tentar explicar o profano como se fouce Divino.
ResponderExcluirHugo Barros.
Muito estimado colega Hugo,
Excluirmuito bem posto teu comentário.
Vibro que a minha estada em Campina Grande premiou este blogue com um comentarista de escol.
Volte sempre
attico chassot
Eu creio que conticos dos canticos fale de um relacionamento entre salomao e sulamita....espressando um amor verdadeiro.
ResponderExcluirPrezado Padre,
ResponderExcluir" O cântico dos cânticos canta o amor humano como era vivido no momento da Criação do homem e da mulher, quer dizer, antes do pecado; um amor cheio de charme, englobando as três esferas humanas: física, emocional e espiritual." Essa sua informação está totalmente errônea, sabemos, pelo menos os estudiosos do discurso que esse cântico fala do amor (relações sexuais afetivas) entre o rei e a sua mulher, ou melhor uma delas. A sua interpretação está incoerente. Recomento uma releitura do Livro Sagrado.